FIFTEEN

5.6K 775 276
                                    

Um muro erguia-se atrás de mim como uma nova ilha expelida diante a um choque tectônico enorme e amedrontador. Sentia-o fechando em um quadrado, destruindo tudo do lado de dentro. Aquele mourão era um típico câncer alimentando-se de um pulmão antes saudável, alastrando-se a cada microssegundo. Toquei-o, áspero e levemente frio, e o ar rarefeito estacionava-se ali, impedido de prosseguir por seu único caminho.

— Jungkook. — A voz aterrou-se próxima aos meus ouvidos. Dócil e ao mesmo tempo autoritária, entretanto, ela era familiar. As mãos tocaram-me os ombros e um fiapo de lágrima caiu quando tentei contê-la.

— Papai? — Virei-me.

O choque de vê-lo foi pungente, queria senti-lo e abraçá-lo. Entretanto, mesmo que comandasse os movimentos, meu corpo não respondia a qualquer um deles.

— Por favor, perdoe-me — novamente falou. — Não deveria ter permitido.
Afastou-se lentamente, cada passo para trás me deixava eufórico. Seria outra vez abandonado por ele.
 
Por favor, não vá. Lembrei-me de implorar com os joelhos no chão e as mãos unidas.
   Papai ao menos olhou para mim uma segunda vez. Ele havia se apagado, mesclando-se com tudo à minha volta, e então o silêncio.

— Não me deixe. — O impulso para frente permitiu visualizar o teto empoeirado. Meu corpo estava trêmulo, ainda não conseguia distinguir o real do imaginário, mas, em contrapartida, minha mente estava divertindo-se com todo meu subconsciente.

Papai...

Tudo ao meu redor era um completo breu de emoções incertas, como quando temos medo de fazer algo, pois sustentamos a ideia tola de que não conseguiremos, ainda que sejamos ótimos naquilo.

— Fique calmo. — Jimin sentou-se ao meu lado. — Estou aqui. — Envolveu-me com seus braços. — Não se esqueça, Jungkook — sussurrou, tão próximo que sua respiração serenamente quente me atingiu na ponta das orelhas. — Você é o único a ter o melhor de mim. Por Deus, não me abandone. — Colou seus lábios sobre minha nuca.

Arrepios. Jimin causava-me arrepios.

— Estarei aqui por você — voltou a dizer.

Meus sentimentos pelo loiro transbordavam, semelhante a um copo que estava exageradamente cheio. E eu não apenas queria submergir naquela sensação prazerosa, como desejava realmente. Jimin olhava-me intensamente de modo como se fosse uma pequena lojinha mágica prestes a amparar-me. O garoto era apaixonante. Talvez aquela fosse a palavra que o descrevia afinal de contas, o loiro havia se tornado importante para mim e, assim como ele, eu me preocupava com seu bem-estar. Não mais conseguia esconder.
   Virei o rosto até que meus olhos encontrassem os dele, nada que nos circuncidava era mais importante, naquele minuto, que ele.

— Jimin, você também tem o melhor de mim, mesmo que o destino não nos queira juntos, jamais seria capaz de abandonar-te. Porque... — Suspirei exasperado, pois a insegurança engoliu-me. — Estou apaixonado por ti. Completamente.

Jimin esforçou-se para selar nossos lábios e sorriu. — E eu ainda mais — proferiu, sem medo de mostrar suas emoções.

Poderia dizer que o amava, mesmo com pouco tempo? Se negasse, estaria mentindo para todos, principalmente para mim. Jamais, nem nos sonhos mais complexos, imaginei indagar sobre um rapaz que acabara de conhecer. Não havia um passado entre nós, mas correria todas as noites com ele se fosse preciso.

Alvorecer Mortal  »  JK + JMOnde as histórias ganham vida. Descobre agora