TWENTY ONE

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A eventual revelação fez meu estômago revirar enlouquecidamente, em uma união de excesso de comida e o odor repugnante de alguma coisa. Se aquela voz fosse mesmo de Taehyung, perdida em algum lugar daquele estádio, ele estava em apuros. Os desalmados batiam contra a porta, prestes a tombá-la para o lado oposto.
   Outro grito, agora trêmulo, clamou por piedade naquele momento crítico.

— O que faremos? — Nam esgueirou-se em uma estátua razoavelmente grande criada no intuito de homenagear os soldados, mal sabiam os engenheiros que em breve todos se juntariam àqueles que consideraram heróis por anos.

— Uma distração — sussurrei, apontando para os outros três idosos de vestimentas puídas e descalços que se juntaram ao aglomerado, tornando-o ainda maior.

— Acho que entendi. — Ergueu o pedaço de metal e bateu contra a estátua de bronze. O som fora abafado, mas o suficiente para alguns virarem-se fervorosos à procura de Namjoon, que sorriu, pronto para desfalecer o primeiro desalmado que tentou atacá-lo.

Enquanto o loiro desbravava o mar apocalíptico, acabando com um atrás do outro, corri silenciosamente até a entrada que agora possuía apenas uma mulher pisoteada que jogava suas garras para frente a fim de atingir-me. Não hesitei em salvar sua alma com um pisotear impiedoso no crânio que recheou meus coturnos com a massa cinza que jorrou, instigando ainda mais a adrenalina que percorria ligeira pelos meus vasos sanguíneos.

— Por favor, alguém me ajude — bradou, seguido por um baque surdo que chacoalhou o objeto vermelho.

O silêncio uivou como um fio alçado alto para manter uma bandeira negra com caveira estampada presa, intacta até mesmo com os mais fortes ventos. Todavia, um ruído, feito um estalo como os de um pedaço de plástico, ecoou ainda mais alto. E então, novamente o silêncio.
   Abri a porta que dava acesso a um curto lance de escadas. No chão, dois desalmados estavam jogados como sacos de lixo que tinham acabado de ser descartados. Logo subi os degraus grudentos e pouco escorregadios e segui em direção às arquibancadas da entrada C e, naquela fração de milissegundos, recordei-me de uma situação louca que passara ao tentar convencer meu pai a ir em um show de um grupo sul-coreano de que Taehyung era muito fã. Embora eu fosse uma pessoa que parecia ir a muitos eventos grandes como aquele, foi o primeiro em que fui e, consequentemente, o único.

Outro estrondo correu-me como um calafrio. De onde estava, observei um garoto sentado no topo de uma máquina de refrigerantes da Coca-Cola: um pontinho loiro de mechas rosas, que sacudia um bastão de beisebol para marcar perfeitamente um home run com a cabeça que explodiu feito a bolinha usada no jogo ao chocar-se contra a parede.

Maninho?

— JK! — Esboçou um sorriso antes de sua perna ser alcançada pelo agressor, um jovem com boné verde e jaqueta do mesmo tom de um time qualquer.

— Venham aqui, merdinhas. — Girei a lâmina em minhas mãos e finquei-a no crânio revestido pelo tom desbotado. Taehyung rebateu diretamente o rosto da mulher que o buscava com os dentes amarelados.

   Assobiei chamando a atenção dos últimos dois homens, que estavam claramente com sobrepeso. Os olhos leitosos com veias cinza-escuro percorriam pelo passadiço imundo, caminhando como lesmas até mim. Um soco fora o suficiente para que um deles tombasse para trás. Em contrapartida, Taehyung jogou o taco de madeira que deslizou até mim e, sem pensar, bati contra o outro ser que gemeu, não por sentir dor, mas por desejar desesperadamente um pedaço de mim.

— Eu achei que estivesse morto. — Senti as mãos calorosas envoltas em minha cintura. Rolou seus olhos até os meus e intensificou o abraço a ponto de apertar o tecido de minha camiseta.

Alvorecer Mortal  »  JK + JMOnde as histórias ganham vida. Descobre agora