ONE

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Não ouvimos os desalmados desde que saímos da estrada para seguirmos um caminho alternativo, que nos levava a uma pequena e estranhamente serena clareira encontrada por Yoongi em uma das pausas para reabastecer. Embora buscássemos apenas um pouco de descanso, conseguimos adquirir alguns suprimentos básicos, como garrafas de água mineral e enlatados com variados tipos de carnes, em alguns dos casebres das redondezas. Casebres estes que estavam revestidos por um pequeno foco do mar morto, que atravessava por entre as vilas pobres e alastrava ainda mais o final da humanidade.

Observando os filetes luminosos ultrapassarem a copa das árvores, inspirei o resquício de ar puro que resistia contra a massa cinza dos cadáveres ambulantes. Aquele aroma trazia de volta a lembrança de papai prometendo me deixar acompanhar a turma de natação ao campeonato estadual, onde representariam nosso colégio. Mesmo que não fizesse mais parte daquela prática, queria prestar apoio a todos os meus colegas, pois foi graças àquele esporte e àquelas pessoas que grande parte de minhas crises de ansiedade foram cessadas.

Todavia, papai deu uma desculpa mixuruca e me obrigou a recusar tal convite. Agora, estando próximo a cidade que sediaria a competição, podia compreender que ele desejava que eu jamais seguisse por essas autovias. Seu medo de eu descobrir todo o plano maquiavélico de traçar a porra do meu destino de maneira tão cruel sempre seria mais importante que minha própria felicidade.

— Que chatice — Jimin comentou em meio a um suspiro indignado, enquanto pausava o rosto sobre uma das mãos. Pela segunda vez no dia, o loiro se encontrava no topo de uma árvore, observando os mortos-vivos cambaleando devido a dificuldade de suas pernas desgastadas em se mover pelo ambiente pouco gelado. — Olhe só para eles! — Evitou a propagação da risada, abafando-a com a ponta dos dedos.

Desde que a mensagem gravada foi transmitida e repetida dia após dia, por todas as rádios locais, as pessoas caçavam as chaves, e qualquer pausa, mesmo que mínima, poderia custar-nos a vida. Tendo consciência disso, Jimin se propôs a ficar de guarda o mais alto que pudesse para termos uma visão privilegiada caso alguém nos ataque, principalmente por termos conosco mais que a metade dos procurados.

— Você não consegue ficar quieto um só dia? — Indaguei, recostado no tronco velho que estava caído sobre o gramado, coberto por uma fina camada de musgo esverdeado

— Falou a pessoa que vive dizendo “agora está ficando interessante”. — Jonghyun se intrometeu e movimentou seus dedos em aspas, dando ênfase ao apelido que começara a usar sempre que implicava com alguém. — E para completar, ainda se enfia num aglomerado de mortos-vivos.

— Exatamente! — Jin exclamou de onde estava. — Parece um Power Ranger. “Hora de morfar”. — O garoto fez uma pose engraçada, digna de uma produzida pelos próprios protagonistas, que foi acompanhada por gargalhadas de todos à nossa volta.

— Hahaha, muito engraçado — disse, ironicamente. — Olhe como estou morrendo de rir. — Revirei os olhos.

De onde estou conseguia avaliar o som vindo dos arbustos. Um estalo seco, feito um galho se partindo ao meio, se mexeu o bastante para cessar as risadinhas proveniente das piadas sem graça.

— Verei o que é. — Busquei pelo martelo preso ao cinto de couro que envolvia minha cintura, similar ao que o Batman usava em seus milhares de filmes enjoativos. — Aguardem aqui.

— Jungkook — Sehun sussurrou, me fazendo parar. — Irei com você.

Por mais que não gostasse da possibilidade de colocar as pessoas em perigo a troco de nada, o garoto precisava lidar com a situação que se encontrava agora, já que sempre esteve preso a um laboratório do qual, assim como eu, era usado para testes feito uma cobaia. Atualmente, Sehun sequer sabia como se manter vivo, então apenas acenei positivamente com a cabeça.

Alvorecer Mortal  »  JK + JMOnde as histórias ganham vida. Descobre agora