Pelo design da peça, provavelmente de última geração.

Nunca tinha tido um. Muito menos segurado um nas mãos, mas resolvi prendê-lo ao rosto.

Depois de uma breve inicialização do sistema e de uma mensagem de "Seja Bem-Vindo, Daniel", um filme começou.

Justamente aquele blockbuster de ação que eu há tanto tempo queria assistir e ainda não tinha conseguido. Até aquele momento.

Como o Bubble sabia dessas coisas? Eu não fazia ideia.

Mas ele sabia; não era mera coincidência.

E isso era tudo o que importava.

[...]

A viagem até o acampamento da Bubble demorou várias horas, e as duas outras atrações reproduzidos em sequência no óculos VR de cor azul, ainda no interior da SUV, eram tão ou mais aguardadas por mim — a ansiosa audiência de um homem só.

Mais um filme e o piloto de uma série recém disponibilizada.

Ambos estavam presentes na minha lista de "favoritos" de um serviço de streaming para serem assistidos algum dia. Nunca, provavelmente. Então eu começava a fazer alguma ideia do lugar de onde o Bubble retirava parte de suas informações sobre mim.

O big-data realmente parecia funcionar.

Entretido e bem acomodado, portanto, o deslocamento foi tranquilo. Temperatura agradável — nem quente nem fria —, poltrona confortável... Descobri, sem muito esforço, água, refrigerantes e alguns snacks no interior do veículo. Então não passei fome. Nem sede.

Do contrário, porém, precisei parar para ir ao banheiro em certa altura da viagem. Ainda mais sem saber quanto tempo ela ainda poderia levar.

Bati na superfície que me separava do motorista com os nós do dedos.

Nada.

Bati de novo, dessa vez com a mão espalmada.

Nada, novamente.

— Tem alguém aí? — optei por falar em voz alta. — Preciso ir no banheiro!

Aparentemente não. Ninguém. Pois não houve qualquer resposta.

Mais uma vez.

Subitamente nervoso, fiz o que não tinha feito até então. A coisa mais óbvia e corriqueira de todo o universo. Tirei o celular do bolso e abri o Bubble App. Para minha surpresa, ele estava de algum modo sincronizado com o carro, só agora eu reparava, mostrando a velocidade da SUV, o clima interno e externo e alguns outros indicadores — velocidade do vento, horário, previsão do tempo. Um ícone no canto inferior esquerdo da tela marcava "Chat com o Condutor".

E, aí, eu tive quase certeza.

De duas, uma. Ou tinham permitido, depois de várias décadas, o uso do telefone celular junto ao volante — o que eu duvidava com todas as minhas forças —, ou o carro possuía mesmo um piloto automático; instruindo-me a digitar ali qualquer necessidade que porventura eu tivesse, sem que ele pudesse se desconcentrar e causar acidentes.

A urgência física da situação me levou a ignorar as alternativas.

[Boa tarde]

[Boa tarde, senhor Daniel. Sou Carlos, o seu condutor. Em que posso ajudá-lo?]

A resposta foi rápida, quase instantânea. Só que não foi ela que me surpreendeu.

Carlos. O nome do meu pai. Uma grande coincidência, quis acreditar, mas não deixei de reparar que alguém estava indo longe demais ao conferir nomes humanos às máquinas.

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