Você tem uma nova notificação.
Tateei no escuro. Olhos bem fechados. Meu celular descansava sobre o aparador, junto do relógio digital e do cartão magnético. Tinha vibrado e eu acordei. Busquei o aparelho com a ponta dos dedos e, por um momento, sua luz me cegou. Pisquei. Eram três horas da manhã. Cedo demais para qualquer mensagem.
Quem — ou o quê — poderia ser?
Meus olhos finalmente se acostumaram à luminosidade.
Você tem uma nova notificação — insistiu o alerta.
Com o telefone em mãos, pousei o polegar direito no leitor biométrico. Quadrados brancos surgiram ao toque e se expandiram por todo o display; do centro para os lados, substituindo cada pixel negro por uma frequência diferente de cor. Depois, movimentei o dedo para a esquerda, liberando o acesso.
Visualizar nova notificação?
Sim.
Surgiu um ícone. Uma esfera azul-esverdeada de interior semitransparente.
Bubble.
Bubble App — quando a animação do logotipo terminou de carregar.
Cliquei para ler a mensagem.
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Bubble? Nunca tinha ouvido falar.
Movimentei novamente o indicador para acessar a minha central de aplicativos. Redes sociais, notícias, edição de vídeo e de imagens, jogos, chats. Um por um. Seis telas cheias desses programas e nenhuma vontade de clicar sobre eles.
Bocejei. Apaguei o smartphone e voltei a fechar os olhos.
Estava cansado.
Puxei a coberta. Virei de lado. Eu trabalharia em poucas horas e precisava dormir. Era muito tarde — ou muito cedo. Tentei relaxar, mas nada. Arrumei o travesseiro. Movimentei as pernas...
Em algum momento, o sono venceu.
[...]
Eu detestava esperar.
Estava parado na porta de casa — cantarolando pela enésima vez o refrão de uma música chiclete — enquanto minha carona não chegava. O tal do Rubens. Ele era o cameraman e o motorista que a Rede Cidade geralmente deslocava para cobrir as matérias de maior destaque do jornal. Não éramos amigos, claro. Mas eu sabia de sua fama.
Preciso e talentoso; grosso e arrogante.
A manhã prometia.
De pé na rua ainda escura e vazia, observei a pilha de lixo acumulada junto à calçada, a poucos metros de mim. As várias sacolas pretas rasgadas faziam o ar cheirar a morte e a comida podre. Curiosamente, isso só me fez lembrar da fome que eu mesmo sentia. Havia acordado em cima da hora, com outra mensagem, e pulado o café da manhã por estar com muita pressa.
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Bubble App
Science FictionFuturo. Entre painéis de LED e arranha-céus, Daniel procura por si mesmo. Por encaixe. Não acredita ser único num mundo individualista. Diferenças. Gritos. Ódio. Quer conexões; almeja contato. Pessoas como ele. Interesses como os seus. Repleto de dr...