Capítulo trinta e quatro

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 Aquele dia o céu estava carregado de nuvens acinzentadas, Avice o observava enquanto tomava seu café da manhã. Mesmo segura do ataque, a ruiva ainda sentia uma sensação estranha em seu coração. O que faria se algo desse errado? Se alguém de sua confiança morresse, especificamente, se tentassem tirar Thomaz de sua vida mais uma vez? Como governaria sem ele?

Com os olhos marejados ainda observando o céu cada vez mais escuro, ela implorou aos céus que todo o plano ocorresse perfeitamente.

— Você não me parece muito confiante — Júlia se juntou a ela — o medo nessas horas é o nosso maior inimigo.

— Eu nunca planejei algo assim — Avice a encarou — não acho que vai dar errado, mas sinto um incômodo profundo. Apesar de meu pai ser um homem terrível, ele ainda é o meu pai.

— Eu entendo e sei o que sente. Apesar dele nunca ter sido o meu pai — suspirou, recordando do passado — quando atacamos o castelo eu sentia o mesmo, era como se algo dentro de mim me dissesse que tudo daria errado.

— E quando deu certo... O que sentiu?

— Esse é o problema, não deu tão certo — Júlia ergueu os ombros — alguns de nossos homens foram mortos, outros presos e na época, você permaneceu viva.

— De vez em quando me esqueço que o plano de vocês era me matar — ela segura o riso — ao menos agora posso rir disso.

— Seu pescoço continua em risco — Júlia a encara — mas agora quem aponta para ele é o rei.

— Irônico. Mas, acredito que isso pode não ser só um ataque ao meu pai, pode ser um resgate para os que ficaram presos. Se te conforta.

— Não — respondeu a rebelde — Não teremos tempo de fazer todas essas coisas. Mas você como rainha, pode libertá-los se assim desejar.

— Acha que eles irão aceitar o meu reinado?

— Estamos do seu lado e agora você é uma de nós — afirmou — sem dúvida eles irão aceitar e provavelmente agradecê-la por se livrar do rei.

— Eu não tive oportunidade de lhe agradecer ainda — Avice a encarou.

— Agradecer? Eu estou aqui para lutar a favor do nosso reino.

— Eu queria dizer que tenho sorte em ter uma irmã como você, mas sou orgulhosa demais para isso — Avice sorriu.

— Penso o mesmo, caso eu dissesse.

— Acho que orgulho é um fator genético.

Júlia se levantou e antes de sair abraçou Avice, segurou em suas mãos e com um sincero sorriso afirmou:

— É uma guerra já ganha.

. . .

Os arqueiros eram liderados por Júlia, enquanto parte dos rebeldes que estavam à frente eram liderados por Henry. Avice, juntamente com Thomaz, Daniel e Órion, estavam perto da cascata que os ligava ao castelo, tudo ocorreu conforme eles haviam planejado, quando o alarme de reforços soou, Júlia e Henry recuaram. Enquanto recuavam e eram perseguidos por grande parte dos soldados do castelo, os quatro conseguiram entrar sorrateiramente pela passagem esquecida.

A todo momento era possível ouvir os passos dos soldados que ainda permaneciam dentro do castelo, os mesmos, pareciam encorajados a matar qualquer um que não pertencesse a guarda real. Os quatro estavam escondidos em um dos corredores escuros, quando o barulho dos soldados se distanciou.

— Venha — sussurrou Thomaz — ainda estamos longe do quarto do rei.

Ambos o seguiram.

Apesar de se sentir bem, Avice ainda sentia o peso da espada puxando seu braço para baixo, ainda estava fraca e de vez em quando, dores de cabeça a recordavam do sofrimento que passou nas mãos do próprio pai.

A princesa prometidaWhere stories live. Discover now