Capítulo trinta e um

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Assim que Avice abriu os olhos, sentiu a dor latejante em seus ombros. Seus braços estavam amarrados um para cada lado, o que a deixava completamente fraca e vulnerável, entretanto não valia mais a pena tentar lutar, tudo que tinha de mais importante havia sido tirado dela, se a matasse seria um favor. Passos ecoaram por todo o local que ela estava, então ela tornou a fechar os olhos a fim de fingir que ainda estava desacordada.

— Tanto tempo longe de mim, acabou se tornando tola — disse Ara — eu sei que está acordada, Avice.

A princesa respirou fundo e abriu os olhos.

— O que quer de mim?

— Sua fidelidade, filha. Pensei que a família era importante pra você.

— Thomaz é minha família agora.

— Thomaz não existe mais.

Uma lágrima escorreu e ela não se conteve em dizer tudo que pensava.

— Você é um covarde — ela o encarou — Só conseguiu matá-lo porque ele estava preso.

— Chega de conversas — o rei falou — diga-me onde está concentrado o alojamento dos rebeldes.

— Eu não sei! — ela gritou — E se eu soubesse jamais diria a você.

O rei sinalizou para dois soldados que chicotearam suas mãos. Avice gemeu de dor, enquanto resistia ao máximo a tortura ordenada por seu próprio pai, a pessoa em quem ela se inspirou a maior parte da sua vida.

— Parem! — disse ele — você não é mais minha garotinha — o rei caminhou até ela e a olhou nos olhos — o que fizeram com você?

Avice o olhou com ódio, mesmo assim continuou com o silêncio. Quem sabe, ficar em silêncio fosse adiantar sua morte. Ela era uma peça inútil para Ara.

— Tudo bem — disse ele — vamos guardas, amanhã voltaremos.

— Socorro — gritou a princesa enquanto sentia o sangue escorrendo por seu braço.

Ela mal conseguia fechar as mãos. Mas algo ainda estava aceso dentro de si, a chama da esperança. Por um momento ela fechou os olhos, e se lembrou de Charlotte, se lembrou das conversas que teve com Thomaz. Eles estavam juntos nessa situação, e apesar dela ser a única que restou, enquanto respirasse, ia lutar.

. . .

Já fazia cinco dias que ela estava lá, presa naquele cubículo, sem comer, sem água. Seu pai a soltou das cordas que mantinham seus braços estendidos, por fim ela conseguia cruzar os braços, mas estava fraca, vulnerável, fracassada. Não era esse o final que imaginou, Thomaz morto, e ela presa por seu próprio pai. Ela se esforçou para manter-se em pé, suas roupas estavam rasgadas, suas pernas e braços cicatrizavam com lentidão as marcas profundas das agressões dos soldados, por sorte, nenhum ousou se aproveitar de sua fraqueza. Seus pés doíam, e seu corpo implorava para que deitasse no chão, contudo o que ela tinha de sobra era força de vontade. Com dificuldade a princesa caminhou até uma fresta, e olhou entre o buraco que a dividia de um campo de treinamento. Dezenas de soldados lutavam, faziam treinamentos específicos, para matar. Repentinamente, a princesa que espionava, foi surpreendida por seu pai, que abriu a porta com veracidade.

— Diga onde é o maldito alojamento — ele se aproximou dela e a enforcou contra a parede — antes que eu a mate!

— Faça isso — ela disse com dificuldade — mate-me! — ela cuspiu no pai.

Com agressividade o rei a lançou em um montante de palha e a agrediu incansavelmente até vê-la desacordada.

O rei furioso, transbordando todo seu descontentamento, saiu do local e foi até os soldados dizendo:

— Avice está irredutível — ele ofegava — vamos para o plano reserva.

Um soldado, criou coragem e se pronunciou:

— Senhor, o povo está revoltado, sabem que estamos com a princesa, eles querem nos matar!

— Não seja medroso — ele falou protuberante — a população nos teme.

— Eu não vou matar pessoas inocentes! — ele se impôs — isso vai contra os nossos costumes Ara — ele soltou a espada — isso não estava no juramento.

— Você deve proteger o seu rei — Ara o encarou — esse era o juramento.

— Proteger o povo de Campbell também — ele elevou a voz — a nossa família faz parte do povo!

— Consequências — Ara ergueu os ombros.

— Você não é um monarca — o soldado retrucou — você é um monstro.

— Cale-se eu sou o seu rei — Ara gesticulou — prendam ele junto à Avice.

Os soldados pegaram o homem e o amarraram onde Avice estava outrora. A princesa, permanecia desacordada, e o homem que não havia presenciado as agressões, ficou perplexo ao vê-la naquele estado deplorável, sentiu-se culpado em saber que podia ter intervido. Era amigo de Thomaz, e viu ele ser esfaqueado, ele deveria ter virado um rebelde, mas achou que servir ao rei seria o correto, demorou muito para cair em si, demorou muito para fazer o que era certo. Henry, não costumava chorar, mas ao lembrar de sua família não se conteve, despencou em lágrimas. Em breve aconteceria outra chacina, e ele não estaria lá para proteger os seus.

. . .

— Avice está sofrendo nas mãos imundas de Ara — dizia Alya impaciente — eu não aguento mais isso.

— Estamos com uma quantidade considerável de rebeldes para entrar lá e salvá-la.

— Daniel — Alya o encarou — Você sabe que o campo de treinamento está sempre cheio.

— Sei como salva-la mãe — disse o príncipe — eu conheço todos os soldados.

— Eu irei com vocês — disse Thomaz, que por sua vez estava vivo.

— Deite-se Thomaz — falou Alya — Você está muito ferido para ir até lá.

— Filho — disse Órion — descanse, nós vamos resgatá-la.

— Ela pensa que estou morto! — ele falou com ira — tem que saber que estou vivo.

— Ela vai saber — Órion respondeu — se você ir só correrá mais risco.

— Eles querem você morto, Thomaz — Daniel enfureceu-se — Você não irá!

— Fique aqui e proteja Alya.

Thomaz somente assentiu, sabia que sua ida não ajudaria muito. Ele estava fraco, debilitado e diferente de Avice que lutava pela vida, sem esperança.

. . . 

A princesa prometidaWhere stories live. Discover now