Assim que Avice abriu os olhos, sentiu a dor latejante em seus ombros. Seus braços estavam amarrados um para cada lado, o que a deixava completamente fraca e vulnerável, entretanto não valia mais a pena tentar lutar, tudo que tinha de mais importante havia sido tirado dela, se a matasse seria um favor. Passos ecoaram por todo o local que ela estava, então ela tornou a fechar os olhos a fim de fingir que ainda estava desacordada.
— Tanto tempo longe de mim, acabou se tornando tola — disse Ara — eu sei que está acordada, Avice.
A princesa respirou fundo e abriu os olhos.
— O que quer de mim?
— Sua fidelidade, filha. Pensei que a família era importante pra você.
— Thomaz é minha família agora.
— Thomaz não existe mais.
Uma lágrima escorreu e ela não se conteve em dizer tudo que pensava.
— Você é um covarde — ela o encarou — Só conseguiu matá-lo porque ele estava preso.
— Chega de conversas — o rei falou — diga-me onde está concentrado o alojamento dos rebeldes.
— Eu não sei! — ela gritou — E se eu soubesse jamais diria a você.
O rei sinalizou para dois soldados que chicotearam suas mãos. Avice gemeu de dor, enquanto resistia ao máximo a tortura ordenada por seu próprio pai, a pessoa em quem ela se inspirou a maior parte da sua vida.
— Parem! — disse ele — você não é mais minha garotinha — o rei caminhou até ela e a olhou nos olhos — o que fizeram com você?
Avice o olhou com ódio, mesmo assim continuou com o silêncio. Quem sabe, ficar em silêncio fosse adiantar sua morte. Ela era uma peça inútil para Ara.
— Tudo bem — disse ele — vamos guardas, amanhã voltaremos.
— Socorro — gritou a princesa enquanto sentia o sangue escorrendo por seu braço.
Ela mal conseguia fechar as mãos. Mas algo ainda estava aceso dentro de si, a chama da esperança. Por um momento ela fechou os olhos, e se lembrou de Charlotte, se lembrou das conversas que teve com Thomaz. Eles estavam juntos nessa situação, e apesar dela ser a única que restou, enquanto respirasse, ia lutar.
. . .
Já fazia cinco dias que ela estava lá, presa naquele cubículo, sem comer, sem água. Seu pai a soltou das cordas que mantinham seus braços estendidos, por fim ela conseguia cruzar os braços, mas estava fraca, vulnerável, fracassada. Não era esse o final que imaginou, Thomaz morto, e ela presa por seu próprio pai. Ela se esforçou para manter-se em pé, suas roupas estavam rasgadas, suas pernas e braços cicatrizavam com lentidão as marcas profundas das agressões dos soldados, por sorte, nenhum ousou se aproveitar de sua fraqueza. Seus pés doíam, e seu corpo implorava para que deitasse no chão, contudo o que ela tinha de sobra era força de vontade. Com dificuldade a princesa caminhou até uma fresta, e olhou entre o buraco que a dividia de um campo de treinamento. Dezenas de soldados lutavam, faziam treinamentos específicos, para matar. Repentinamente, a princesa que espionava, foi surpreendida por seu pai, que abriu a porta com veracidade.
— Diga onde é o maldito alojamento — ele se aproximou dela e a enforcou contra a parede — antes que eu a mate!
— Faça isso — ela disse com dificuldade — mate-me! — ela cuspiu no pai.
Com agressividade o rei a lançou em um montante de palha e a agrediu incansavelmente até vê-la desacordada.
O rei furioso, transbordando todo seu descontentamento, saiu do local e foi até os soldados dizendo:
— Avice está irredutível — ele ofegava — vamos para o plano reserva.
Um soldado, criou coragem e se pronunciou:
— Senhor, o povo está revoltado, sabem que estamos com a princesa, eles querem nos matar!
— Não seja medroso — ele falou protuberante — a população nos teme.
— Eu não vou matar pessoas inocentes! — ele se impôs — isso vai contra os nossos costumes Ara — ele soltou a espada — isso não estava no juramento.
— Você deve proteger o seu rei — Ara o encarou — esse era o juramento.
— Proteger o povo de Campbell também — ele elevou a voz — a nossa família faz parte do povo!
— Consequências — Ara ergueu os ombros.
— Você não é um monarca — o soldado retrucou — você é um monstro.
— Cale-se eu sou o seu rei — Ara gesticulou — prendam ele junto à Avice.
Os soldados pegaram o homem e o amarraram onde Avice estava outrora. A princesa, permanecia desacordada, e o homem que não havia presenciado as agressões, ficou perplexo ao vê-la naquele estado deplorável, sentiu-se culpado em saber que podia ter intervido. Era amigo de Thomaz, e viu ele ser esfaqueado, ele deveria ter virado um rebelde, mas achou que servir ao rei seria o correto, demorou muito para cair em si, demorou muito para fazer o que era certo. Henry, não costumava chorar, mas ao lembrar de sua família não se conteve, despencou em lágrimas. Em breve aconteceria outra chacina, e ele não estaria lá para proteger os seus.
. . .
— Avice está sofrendo nas mãos imundas de Ara — dizia Alya impaciente — eu não aguento mais isso.
— Estamos com uma quantidade considerável de rebeldes para entrar lá e salvá-la.
— Daniel — Alya o encarou — Você sabe que o campo de treinamento está sempre cheio.
— Sei como salva-la mãe — disse o príncipe — eu conheço todos os soldados.
— Eu irei com vocês — disse Thomaz, que por sua vez estava vivo.
— Deite-se Thomaz — falou Alya — Você está muito ferido para ir até lá.
— Filho — disse Órion — descanse, nós vamos resgatá-la.
— Ela pensa que estou morto! — ele falou com ira — tem que saber que estou vivo.
— Ela vai saber — Órion respondeu — se você ir só correrá mais risco.
— Eles querem você morto, Thomaz — Daniel enfureceu-se — Você não irá!
— Fique aqui e proteja Alya.
Thomaz somente assentiu, sabia que sua ida não ajudaria muito. Ele estava fraco, debilitado e diferente de Avice que lutava pela vida, sem esperança.
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A princesa prometida
FantasySer princesa é abdicar da própria vida com o objetivo de proporcionar ao seu reino a melhor chance, Avice sabia bem disso, fora ensinada desde antes de aprender a falar sobre os seus deveres e era claro que isso incluía um casamento arranjado, porém...