Capítulo vinte e oito

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A voz de súplica de Júlia ainda se apossava dos pensamentos da princesa — por favor não vá, fique, aqui em Guersi estarão seguros e poderão morar no Palácio também — Se lembrou Avice. Todavia seu coração determinado e sua mente focada exclusivamente no que queria fazer ao chegar em Campbell a impediram de ficar acomodada em uma terra a qual não era a de sua origem;

Estavam em um navio de mantimentos voltando para casa.

Enquanto isso Thomaz sentado sob a borda do navio observava o céu escuro e estrelado, apesar de ser um dos líderes do movimento rebelde em Campbell o jovem não tinha certeza de que os seus aliados estariam dispostos a lutar ao seu lado, já que o seu amigo Matteo decidiu ficar em Guersi e grande parte dos rebeldes optaram por ficar em uma terra onde a paz já havia sida restabelecida.

— Sinto que está aflito — falou Avice se juntando a Thomaz.

— Um pouco, não sei quantos rebeldes restaram em Campbell, não sei se serei capaz de reestruturar o nosso grupo.

— Você sabe que consegue, não é tão difícil.

— A causa rebelde em Campbell durou anos para chegar onde chegou, e só chegou porque Órion era o líder.

— Você é filho dele — disse a princesa colocando a mão sob o ombro do rebelde — mesmo que não seja legítimo, eles reconhecem você como tal.

— Eu temo por sua vida e por Charlotte, se seu pai a machucar eu não sei se terei forças suficientes para enfrentá-lo.

— Olhe para mim, Thomaz.

Depois de tanto caos, os dois haviam esquecido de como era reconfortante se perder nos olhos um do outro. O olhar transmitia segurança, esperança e respostas em meio a dúvidas cruéis.

— Nós vamos conseguir — Avice acariciou o rosto do amado — Eu prometo.

. . .

A viagem foi longa, entretanto encorajadora.

Ao desembarcar os dois juntos com a criança foram até a fazenda a qual Thomaz fora criado por sua mãe Mira e por Órion. O local estava desocupado, e a beleza havia se perdido em meio ao mato o qual cresceu mais do que ele imaginara. O rebelde abriu caminho com sua espada até a porta, que estava emperrada. Ambos se assustaram ao ouvir passos por trás deles, Thomaz se apossou de sua espada e ficou na frente de sua família, tentou detectar algum movimento estranho, porém não viu nada.

— Os rebeldes acham que eu sou um traidor.

— Nós conquistaremos a confiança deles novamente e faremos isso juntos.

Por fim conseguiram abrir a porta.

— Tudo continua exatamente da maneira que deixamos quando embarcamos para Guersi — disse ele.

Avice se admirou com o conforto da casa humilde, percorreu os olhos por todos os lugares e logo colocou Charlotte no chão.

— Então foi aqui que você cresceu — ela o encara.

— Sim, o lugar que eu e Júlia crescemos, me sinto tão tranquilo em saber que ela está a salvo de todo esse perigo — ele senta em uma cadeira — agora vocês duas me preocupam.

— Aqui é o meu reino Thomaz, me sinto responsável por todo esse fracasso, Campbell não merecia um rei como meu pai e eu estou disposta a me arriscar por isso.

— Em breve ser irmão tomará o trono — ele se levanta e caminha até ela — tem certeza que vai intervir?

— Eu iria me casar com Nolan para poder matar os rebeldes — ela lança um olhar arrependido para ele — e agora vou me casar com você e vou destruir o meu pai.

— Parece que as circunstâncias mudaram, não é?

— Realmente mudaram... algumas pessoas se perdem por causa do amor e outras felizmente conseguem se achar.

Os dois se aproximavam para um beijo, quando batidas na porta os surpreendem, afastando-se um do outro Avice pegou uma espada e Thomaz outra enquanto iam em direção a porta.

— Fique atrás de mim.

Assim que a porta se abriu, rebeldes invadiram a casa e apontaram a espada para Thomaz.

— Olha quem está aqui — disse um homem — o traidor.

Avice suspirou assustada.

— E a princesa que era pra estar morta — disse ele erguendo o queixo para ela.

Logo outros dois homens a agarraram pelo braço.

— A filha de Ara — disse o rebelde.

— Solte-a — gritou Thomaz.

— Por causa do seu pai, nós estamos passando fome, não temos mercadorias, estamos fadados à miséria.

— Eu não tenho culpa das escolhas do meu pai — ela tenta se soltar dos homens que a seguram — mas, eu vim para tirar o trono dele.

Os homens começam a rir com sarcasmo, e o homem mais velho, ordena:

— Corte a cabeça dele.

Avice paralisa, Thomaz é empurrado para o chão, um dos homens que a segurava a solta e caminha até o rebelde, em todo o tempo seus olhares permaneciam ligados, mesmo assim Avice não se arrependia de ter voltado, era o mínimo que ela poderia ter feito. O rebelde ajeita a espada, mas é surpreendido por barulhinhos no chão de madeira. Repentinamente Charlotte aparece engatinhando e vai em direção à Thomaz que está ajoelhado no chão. Todos ficam quietos, observando-a. Ela continua engatinhando e só para quando fica ao lado dele.

— Me deixem ao menos tirá-la, ela não merece vê-lo morrer, por favor — insistiu Avice aos prantos.

O homem solta Avice, que corre e se abaixa para pegar a neném. Entretanto, para a surpresa de todos, Charlotte abre um sorriso banguelo e leva as mãos úmidas de saliva em direção ao rosto de Thomaz, dizendo:

— Papa.

— Ela disse a primeira palavra — Avice se levanta emocionada e abraça um dos homens, involuntariamente.

Estava tão feliz pela neném que nem se lembrou de que estavam prontos para matar Thomaz.

— Por Deus! — os rebeldes o soltam — vocês são malucos!

— Você é pai? Meus parabéns.

A essência de Charlotte trouxe à tona a verdadeira personalidade daqueles homens.

— É quase isso — os dois responderam, sem graça.

— Charlotte é filha de meu irmão Nate... — Avice conta — ele morreu enquanto fugia dos ataques em Guersi.

— Eu lamento — o homem mais velho recuou, guardando a espada.

— Daremos uma chance para vocês — ele semicerrou os olhos para Avice — conte conosco.

— Falam sério? — Thomaz os encara, desacreditado.

— Conte com a nossa ajuda — um deles afirmou — acreditamos em vocês.

Dito isso eles saem de dentro da casa.

— Charlotte me salvou — diz Thomaz enquanto abraça a criança que brinca com as mãozinhas gorduchas.

— Seremos os pais dela Thomaz — fala Avice ajeitando o pouco cabelo da bebê — e nós venceremos essa batalha, por ela.

. . . 

A princesa prometidaWhere stories live. Discover now