XXVII

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Encontro

Me olhei mais uma vez, conferindo se eu estava apresentável. Optei por passar apenas um brilho labial e máscara de cílios, já que eu não gosto muito de maquiagem. Meu cabelo estava solto e com cachos nas ponta que minha mãe fez com babyliss.

        Há algumas horas atrás, Lyan me ligou perguntando se o encontro ainda estava "de pé" e disse que não tinha problema nenhum se eu quisesse desmarcar, ele perguntou se eu estava melhor e se eu estava precisando de alguma coisa. E por mais que eu tivesse passado um tempinho chorando, eu estava me sentindo bem melhor do que ontem, muito melhor e depois de um banho de banheira, fiquei renovada. Não tinha nenhum problema para desmarcar o nosso encontro.

         Minha mãe quando soube que eu iria sair com um garoto, só faltou quebrar o chão da casa de tanto pular de felicidade. A única coisa que mexeu comigo foi o fato dela perguntar "qual era o lugar que o Adam iria me levar" e eu tive que explicar quem era o cara que eu iria sair. Mesmo ela falando que preferia o Adam e que o Adam era isso, era aquilo e mais mil coisas — mal ela sabia quem era Adam Ashworth — , a mesma me ajudou com o meu bendito cabelo ressecado e tentar ficar apresentável.

        Eu estava nervosa e ansiosa.

        Eu só tive um encontro na minha vida toda. Eu era nova, tinha 14 anos e foi uma coisa bem boba. O irmão mais velho da Aysha — apenas dois anos mais velho que eu e ela —, tinha uma quedinha por mim, e eu também tinha um interesse nele, e foi ai que o mesmo me chamou para sair. Meu pai não ficou de acordo com isso, mas minha mãe o convenceu dizendo que era coisa de criança. E nesse encontro aconteu o meu primeiro beijo, foi desasperador, mas não foi tão ruim como eu pensava.

         — Mary  — a voz da minha mãe me tirou dos meus pensamentos — o Lyan chegou — disse me analisando — Você está maravilhosa, filha. Adam iria amar.

         Fechei a cara na hora. Como sempre, Adam estragava as coisas, e ele nem precisava estar presente para isso acontecer.

         — Esquece o Adam, mãe. Ele é namorado da Hanna e é apenas meu amigo.

        Na verdade, Adam e eu não éramos nada, não mais. E eu não poderia contar para a minha mãe sobre tudo que estava acontecendo, não por falta de confiança — até porque sempre contei tudo para ela — mas não queria dar esperanças para ela sobre mim e Adam, e fora que ela ficaria com bastante raiva dele por conta dos últimos acontecimentos e minha mãe gosta tanto dele. É melhor deixar as coisas do jeito que está.

        — Depois conversamos sobre isso, Mary Angel. — sorriu maliciosa para mim, o que me tirou uma revirada de olhos. — Não revira os olhos para mim, mocinha — cruzou os braços fingindo estar brava.

        Neguei com a cabeça rindo do jeito da minha mãe. Eu a amo tanto.

        Passei a mão no meu vestido o ajeitando; ele era tão lindo. Eu só o usei uma vez e depois disso, ele ficou guardado no armário esperando mais uma oportunidade para ser exibido. Sua cor sempre me chamou a atenção: era ciano, uma cor linda. O tecido do vestido era fino e grudava na pele, realçando minha cintura e o meu quadril largo. Eu gostava da sua simplicidade, era bem a minha cara.

       Dei mais uma checada no espelho tendo a certeza que estava apresentável e sorri com o resultado. Para não deixar Lyan esperando muito, resolvi descer ao seu encontro e tropecei na escada pela minha euforia, mas tive que me controlar ao ir caminhando até a porta. Franzi a testa ao ver meu pai com o ombro escorado na porta enquanto falava alguma coisa para Lyan — que estava com o semblante um pouco assustado. Me aproximei deles e o olhar de Lyan prendeu em mim assim que o mesmo olhou por cima do ombro do meu pai, e um sorriso tirou o seu olhar assustado de antes.

       — Olá, Lyan. -- sorri para o mesmo, e corei violentamente.

         Meu pai se virou para mim e sorriu também. Seja lá o que estavam conversando, espero que tenham esquecido.

         -- Desculpa a demora, não era minha intenção faze-ló esperar — digo me aproximando mais da porta e meu pai deu espaço para que eu pudesse passar. — Vamos?

         Lyan concordou com a cabeça um pouco desorientado.

       — Tchau, pai. Te amo — fiquei na ponta dos pés e dei um beijo na bochecha do mesmo.

       — Também te amo.

       Voltei minha atenção para Lyan que olhou para o seu carro parado em frente a minha casa, e esperou que eu andasse para me acompanhar.

       Eu estava muito nervosa. Minhas mãos estavam soando e minhas pernas fraquejando à cada passo dado. Eu estava perdendo as forças de tanto nervoso. Algo dentro de mim estava incomodado com aquela situação toda, por mais que eu estivesse feliz com aquele encontro, não era 100%. Eu não estava bem com aquilo, eu não estava bem há uma semana e tem um motivo: Adam. O maldito Adam que não sai da minha cabeça em nenhum momento, para estar ali lembrando o quão dói é ser machucada sem amar. Ele entrou na minha vida rapidamente, passou feito um furacão e foi embora em uma fração de segundos.

         Eu estava me sentindo uma pré-adolescente de 13 anos, na qual está confusa entre o "namoradinho" ou o melhor amigo dele. Não que eu esteja confusa, mas essa situação de estar chorando por um e depois saindo com o outro me preocupava e me assustava.

         Mas esses pensamentos negativos não poderiam atrapalhar a minha noite, não mais como foi ontem. Eu me prometi que iria tentar me distrair e ser uma pessoa legal. Não pensar em nada e nem em ninguém, ao não ser Lyan e eu, apenas em nós dois.

o caminho até o restaurante foi o mais tranquilo possível, com uma música agradável e uma conversa sobre hóquei no gelo e descobri que ele torcia para o Washington Capitals, ao contrário de mim que torço para o New York Islanders. Era muito bom conversar com alguém que gostasse e entendesse hóquei, pois minhas amigas não gostam muito de esporte e como eu não tenho muitos amigos, acaba dificultando um pouco as coisas.

Sorri para o garçom que puxou a cadeira para que eu pudesse sentar.

O local que estavámos era um restaurante muito popular, e muito caro para ser realista. Eu só vim aqui uma vez, eu tinha 10 anos e foi no aniversário do meu pai, fora isso nenhuma vez à mais.

— Lyan, não precisava virmos aqui. — comentei baixinho meio receosa. Estava com medo de ele ficar bravo.

— Não gostou daqui? Quer ir para outro lugar? — sua voz estava ficando desesperada.

     Respirei fundo e neguei com a cabeça, armando um sorriso confortável para ele.

      — É óbvio que gostei! — olhei-o nos olhos e sorri mais ainda. Qual era o problema desses caras em ter um olhar tão... maravilhoso? — Só não precisava se incomodar em me trazer aqui. Sei que aqui é um dos lugares mais caros da cidade... — mordi os lábios um pouco apreensiva, eu precisava medir minhas palavras — Pode ter certeza que como até um Hot Dog da Burg Food.

      Lyan sorriu e riu baixo, negando com a cabeça. Retribui na mesma medida e ele parou por um segundo, com um sorriso que parecia bobo.

       — Queria agradar você. — esfregou as mãos, uma na outra — Mas eu nunca iria levar você para comer no Burg Food, o hot Dog de lá é horrível! — brincou me tirando uma risada que eu tentei prender para não chamar a atenção das pessoas presentes.

Pequenas mentiras Where stories live. Discover now