XLIII

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Senhora Ashworth

As palavras de Ellie rodaram a minha cabeça a manhã inteira, não me deixando um segundo em paz. Ela estava certa, ou talvez estivesse, mas eu me recusava a acreditar. A minha autodefesa estava erguida contra qualquer coisa que me fizesse criar expectativas em relação ao Adam. Se ele sentia algo por mim ou não, eu não tinha nada a ver com isso, eu dei todas as cartas brancas que poderíamos ser algo e ele simplesmente ignorou, jogando todas as esperanças que eu depositei nele no lixo.

       Ellie era irmã dele e querendo ou não, ela queria o bem do Adam. Eu também queria, para ser sincera, mas não podia demonstrar ou seria fraca demais.

       Encarei o teto do corredor e me encostei em uma pilastra ali. Eu estava esperando Ellie que pediu para que eu esperasse ela. A Senhora Ashworth, marcou de almoçar com nós duas em um restaurante próximo daqui, eu não entendi muito bem o motivo, mas não pude recusar o convite dela.

        — Mary, Mary, Mary! — ouvi os gritos afobados da Ellie e me virei, a vendo correr igual à uma maluca.

— O que aconteceu? — perguntei preocupada assim que a mesma parou na minha frente, ofegante.

— Acho melhor eu te contar no caminho... — disse fazendo pausas para respirar. — O meu carro está lá no acesso E.

Segurei a alça da mochila e saímos do corredor, indo para a saída. Ouvi Ellie puxar todo o ar que podia e começar a falar:

— Tem um cara aqui na faculdade, Gael Smith, ele é da mesma fraternidade que o Adam e bom... — ela parou por um momento, acho que tomando coragem para prosseguir — Nós estamos tendo um lance. Transamos para aliviar a tensão da semana e nada mais que isso. Só que... — fez um breve suspense e me olhou rapidamente. — Ele me disse que está sentindo algo à mais por mim, acho que mais que deveria. E eu acho que é recíproco. — paramos de andar na mesma hora e quando olhei para Ellie, dei um sorriso alegre.

         — Isso é maravilhoso! Fico feliz por você e... — parei de falar no mesmo instante quando vi seu rosto triste e desolado. — O que houve?

— Tem um problema: o Adam sabe que o Gael e eu temos esse "relacionamento" — fez aspas com os dedos e me olhou. — e disse que o Gael não é homem para mim. Eu sei que ele já foi um galinha, mas ele me diz que mudou. — um suspiro escapou dos seus lábios pequenos — O Adam até me proibiu de ver o Gael, mas eu não obedeci. Eu sei que o meu irmão tem medo de eu me machucar. Ele sempre foi protetor comigo em relação a garotos. Mas... — uma lágrima solitária caiu de seus olhos perfeitos e eu, rapidamente, limpei com o meu polegar.

Pelo os olhos castanhos dela, dava para ver que tinha grandes emoções ao falar desse cara, era evidente, porém complicado. Ela estava gostando de um garoto e era recíproco, mas o Adam estava estragando tudo, impedindo que a irmã fosse feliz. Ele sempre estragava tudo em sua volta, pensando que o mundo girava ao seu redor, que as pessoas teriam que fazer o que ele mandasse. Mas estávamos falando da irmã dele, Ellie, e mesmo que ele quisesse a proteger, teria que saber que a vida era dela e que a mesma poderia fazer o que bem entendesse. Ellie me ajudou muito e eu precisava ajudá-la.

— Ellie, amiga, não deixe que o Adam controle sua vida! — apoiei minhas mãos em suas ombros — Ele é o seu irmão, e não o seu dono. A função dele como irmão é te proteger e não ditar a sua vida. Se você gosta do Gael, não deixe que o idiota do Adam impeça que você seja feliz. Saiba que te apoio muito, em qualquer decisão. — e enfim, a puxei para um abraço apertado, a reconfortando.

Eu devia tanto a Ellie e nunca poderia pagar. Eu me lembro muito bem, quando ela me amparou em meio ao meu choro misturado a água da chuva. Ela se molhou, em meio à uma tempestade para sussurrar palavras doces e me dizer que tudo iria ficar bem. Naquele dia, Adam disse coisas horríveis sobre mim, e a minha única reação foi sair correndo do carro, sem destino algum, apenas corria. E ela, depois, me ajudou e ainda foi embora comigo, me distraindo e falando mal do irmão. São esses pequenos momentos que apreciamos com carinho.
Eu conhecia a Hanna, há anos e anos, e quase não tivemos esses momentos, aliás, nunca falamos sobre mim, apenas sobre ela e sua vida glamorosa. Mas com Ellie era diferente, ela me passava paz e confiança, e, em pouco tempo, me mostrou que uma amizade forte não era feita de tempo e sim de amor.

— Eu vou conversar com ele. — sussurrei baixo, próximo ao seu ouvido, enquanto passava a mão nas suas costas.

— Mary, não precisa. — ela me soltou de seus braços. — Sei como estão as coisas entre vocês. E o Adam não é nada fácil de lidar.

— Eu vou falar com ele! — digo decidida e meio receosa — Mesmo sabendo que isso é assunto de vocês dois, deixa eu ajudar? Ele precisa acordar para o mundo. — respirei o mais fundo que podia e Ellie apenas concordou com a cabeça.

       Fomos até o carro de Ellie conversando sobre a prova difícil que ela teve e aprendi algumas coisas sobre esse curso tão complicado que era direito. O caminho até o restaurante foi o mais agradável possível, conversamos sobre nossos gosto culinário e musical também.

        Olhei em volta do restaurante e quase fiquei surpresa em ver aquele ambiente tão chique e organizado, nada com que eu esteja acostumada. Cumprimentei a senhora Ashworth com um abraço e sua recepção calorosa me deixou animada. Antes mesmo que nós começássemos a conversar, meu celular vibrou em cima da mesa e eu olhei para a tela, vendo uma mensagem de Lyan.

          Vulgo Fox: onde você está? Estou aqui no refeitório.

Droga! Esqueci de avisar o Lyan que não poderia encontrá-lo no refeitório e que iria sair para almoçar com Ellie e a senhora Ashworth.

Eu estou almoçando com a Ellie e com a senhora Ashworth. Nos vemos mais tarde?

Escrevi a mensagem e bloquei o celular, o deixando em cima da minha perna. Olhei para a Diana que dizia algo para Ellie, mas eu mal pude identificar. Depois de um tempo, elas se viraram para mim e a minha amiga estava com o rosto um pouco receoso.

— Bom, querida, eu te chamei aqui, porque eu quero conversar com você! — seu rosto estava mais triste que o normal e muito preocupado. — A Ellize me contou que te explicou tudo sobre o Adam... — concordei com a cabeça e o meu nervosismo me atacou de fez, deixando minhas mãos soadas — Eu quero te dizer que não precisa ficar com medo do meu filho, por mais que pareça apenas palavras de uma mãe desesperada... O Adam gosta muito de você e mesmo ele e eu não nos dando muito bem, o mesmo contou sobre vocês dois. — um suspiro alto escapou dos meus lábios, me deixando mais tensa.

        No começo, nenhuma pessoa poderia saber sobre nós, sobre Adam e eu, sobre tudo, porém muita gente já estava ciente do que acontecia.

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