XXVI

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Uma vez babaca, sempre babaca

O clima no carro estava tão desconfortável que eu queria me jogar pela janela do mesmo e rolar no asfalto da estrada até não sentir minha pele.

Adam me olhava a todo momento pelo retrovisor e isso estava me agoniando. Lyan estava inquieto no banco da frente e Ellie me olhava a todo momento roendo as unhas postiças. Qual era o problema com todo mundo? Eu estava me irritando com tudo aquilo.

— Você chamou a Mary para sair, Lyan? — a voz de Ellie preencheu todo o ambiente. Franzi a testa não entendendo, eu não tinha comentado com ela sobre — Eu escutei um pouco da conversa.

Suspirei agora inquieta. Virei o rosto para frente vendo Lyan olhar para mim ao virar o rosto. Observei dois olhos azuis curioso e sobrancelhas grossas arqueadas pelo retrovisor.

— Você fez o que, Lyan? — Adam disse em um tom furioso, quase sem acreditar.

— Sim, eu a chamei para sair — Lyan confirmou me olhando e sorriu de canto, vendo meu nervosismo transparente.

        Meu corpo pulou no carro me dando um susto quando Adam chocalhou o carro, ele parecia muito irritado, bem irritado e era mais que óbvio o motivo... agora, por que aquilo? Ele estava com ciúmes ou apenas irritado?

         — O Lyan e a Mary formam um casal perfeito! — Ellie disse batendo palmas devagar. Seu rosto tinha um sorriso largo e malicioso, ela tinha intenção por trás daquela frase.

— Eu não acho isso... — Adam resmungou baixo, enquanto apoiava o cotovelo na janela.

— Por que, cara? — Lyan se virou para ele franzindo a testa. Até eu fiz o mesmo jeito.

Eu sei que Adam e eu nos beijamos, mas ele não sentia nada por mim, deixou isso bem claro, com todas as letras. Ele tinha algum problema com a minha "relação" com Lyan? Adam era tão indecifrável, ele era impossível de se entender e eu me sentia capaz de tentar entendê-lo, aliás, quem era Adam Ashworth?

— A Mary é muito... muito... — Adam parou de falar por um momento tentando achar a palavra certa. E me olhou pelo retrovisor, e disse sem piedade:
— Mary é infantil demais. É uma garotinha ainda, fala sério. Não sei como um cara consegue se interessar por ela sem pensar em a fuder, apenas comer ela...

          Eu não acreditava no que eu estava ouvindo, não era possível... Eu estava delirando? Ou aquilo era real? Qual era o problema de Adam? O que eu fiz para ele falar de mim daquele jeito? O que eu fiz de errado? Eram tantas perguntas sem nenhuma resposta, eu teria que me dar as próprias repostas, mas isso levaria tempo.

         Com certeza aquele era o preço que eu estava pagando, o grande preço por ter traído Hanna, pela minha infidelidade na nossa amizade. Eu fui tão cruel com ela e a mesma era a melhor amiga que alguém poderia ter... Mas aquele era o meu preço: ouvir palavras de merdas da boca de um cara de merda.

          Os lábios de Adam ainda se movimentavam, mas eu não conseguia ouvir mais uma sequer palavra daquela boca podre dele. Ele agia como eu não estivesse no carro, como estivesse falando mal de mim para o meu pior inimigo...

          Eu apenas observei os movimentos rápidos de Ellie quando eu comecei a soltar o cinto assim que o carro parou por conta do trânsito. Ellize tentou segurar meu braço, mas já era tarde demais, eu já estava abrindo a porta. As gotas da chuva de outono molhou minha pele assim que eu pisei no asfalto. Só ouvi Lyan e Ellie mandando eu voltar para dentro do carro, mas nada fiz... Apenas agradeci por ter uma passarela pequena que dava ao outro lado da estrada.

         Como ele teve a audácia de falar sobre mim daquele jeito? Adam não me conhecia e nunca teria a chance de fazer tal ato. Aquele era o pensamento dele, aquele garoto idiota só queria transar comigo e cair fora... Que burra que eu fui, e ainda esperava um pedido de desculpas dele por conta da noite anterior. A minha ingenuidade me sufocava.

          Quando eu comecei a subir as escadas que dava acesso à passarela, meu corpo foi puxado bruscamente e eu jurei ser Lyan. Mas não era... Era Adam, apenas ele e sua idiotice.

          E uma coisa que me assustou quando eu o olhei... Eu não estava chorando, nem sequer uma lágrima, eu estava com tanto ódio dele que não conseguia chorar.

           — Mary, deixa eu me explicar, eu juro que...

          — JURA O QUE? — gritei com ele e o mesmo apareceu ficar assustado. — QUAL O SEU PROBLEMA? O QUE EU FIZ PARA VOCÊ?

          — Eu não quis dizer aquilo. — tocou meu braço com os dedos, mas eu me afastei.

         — Igual das outras vezes, não é? — minha voz embargou e agora eu estava prestes a chorar. Droga!

         — Sim... — passou a mão pelo rosto — Mas você me deixa... eu não sei...

         — Mas isso não explica o que você pensa de mim. — engulo em seco — Não é a primeira vez, Adam. E não será a última que ouço você falando coisa horríveis de mim — levanto o rosto, podendo encarar seus olhos azuis. — Só me esquece, pode ser? Finge que nunca nos beijamos, finja que não me conhece e que eu não existo. — suspirei baixo, tentando conter um soluço — Você sempre fez isso, nunca soube da minha existência e eu mal sabia quem era você. Vamos voltar para o início e continuar no início.

Eu sabia que, no fundo, aquelas palavras valiam mais para mim do que para ele. Afetava mais à mim do que ele, com toda certeza. Aliás, Adam nunca se importaria comigo, ou com a minha tentativa de afastá-lo. Mas eu não tinha nada a perder, eu só iria evitar uma tragédia maior, bem maior.

          — Adam, deixa ela. — ouvi a Ellie e ela surgiu atrás de Adam.

          — Estamos conversando, Ellize. — Adam se virou para a irmã que já estava toda molhada.

         — Não temos nada para conversar... — puxei todo o ar que eu podia e dei uns passos para trás, sem quebrar nossos olhares e uma lágrima solitária caiu sobre o meu rosto, misturando-se com as gotas da chuva.

          Me virei olhando para a enorme passarela.

          Eu não tinha ideia para onde eu iria. Eu estava sem a minha bolsa que estava minha carteira e o meu celular, e a mesma estava dentro do carro.

          Comecei a andar sem rumo e me abracei, tentando me proteger do frio. Ellie me gritou e eu já sabia que ela viria atrás de mim. Suas mãos tocaram os meus ombros e virou-me bruscamente, passando seus braços por meus ombros e me abraçando, no meio da chuva.

Pequenas mentiras Where stories live. Discover now