Pego minha bicicleta e vou pedalando sem pressa para a praça que tem ali por perto. Andar de bicicleta era o único hobbie que eu ainda mantinha. Quer dizer, eu também lia bastante, mas como membro do clube do livro, às vezes as leituras não eram bem minhas favoritas, então se transformavam mais em obrigação.

Estudar na Cesare consumia muito do meu tempo, com todo o estudo puxado e tudo mais. E meu instinto caseiro não me deixava sair muito quando me sobrava um tempinho. Kaila vivia dizendo que eu era sua avó, não irmã mais nova.

Então eu dei voltas e voltas pela praça, aproveitando o final de tarde, o vento frio batendo no meu rosto, bagunçando meus cabelos. E afirmei mais uma vez para mim mesma que essa tranquilidade me bastava.

 E afirmei mais uma vez para mim mesma que essa tranquilidade me bastava

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.


Desligo o despertador barulhento do celular antes que Kaila acorde. O quarto é uma escuridão total e espero minha visão enevoada de sono tomar foco. Resisto a vontade de voltar a deitar e dormir por mais cinco minutos. Se eu não levantar agora, vou chegar atrasada. E se há algo nesta vida que eu odeio, é chegar atrasada nos lugares.

A água fria do chuveiro faz seu trabalho de me despertar por completo. Tremo dos pés à cabeça por uns cinco minutos até me secar e vestir meus jeans escuros e uma camiseta cinza com estampas pequenininhas de coala. Minha favorita no momento.

Felizmente consigo me vestir sem acidentes. Detesto trocar de roupa no banheiro, pois não tem muito espaço, mas Kaila reclama de qualquer fresta de luz no quarto quando está dormido, e eu tento começar o dia sem ouvir reclamações logo cedo.

Deixo o cabelo solto para secar naturalmente, depois vou para a cozinha, onde mamãe já está tomando café. Sorrio para os desenhos rabiscados presos por imãs na porta da geladeira. São todos dos alunos da minha mãe. Me lembram de quando eu era que fazia desenhos para pôr ali.

— Papai não vai trabalhar hoje? — pergunto, sentindo sua falta. Meus pais sempre tomam café juntos.

— Lucian saiu bem cedo, meu bem. Foi buscar algumas peças fora da cidade.

— Ah, então a senhora vai de ônibus?

Mamãe me lança um sorriso brincalhão, notando a preocupação na minha voz. Ela não gosta do transporte público por já ter presenciado — e infelizmente sido vítima — alguns assaltos.

— Eu é que deveria me preocupar com você apanhando o ônibus todo dia, Lia — ela frisa.

— Os meus nervos são melhores que os seus, dona Sibele.

— Você está me chamado de velha? — mamãe finge ultraje e me aponta um dedo acusador.

Sopro um beijo para ela, apressando-me para pegar minha bolsa e ir esperar o ônibus. A parada fica à dois quarteirões da minha casa. A rua está pouco movimentada agora, há poucas pessoas esperando quando chego. Meu celular apita na bolsa, e estou indo ver a notificação, mas meu ônibus aparece, e deixo para depois. Me sinto satisfeita por conseguir um lugar para sentar.

Cada Vez MaisWhere stories live. Discover now