Byron Bay

39. O troco.

13 DE JUNHO

Como sempre, eu fui o primeiro a acordar. Lara ainda dormia enfiada embaixo da coberta preta, se escondendo da claridade. Peguei minha mochila e sai da barraca.

Há quinhentos metros do lago a nossa frente havia um posto com banheiros. Era uma grande construção de piso branco. Estava incrivelmente limpa e cheirava a cloro. Troquei de roupa, deixando de lado o moletom e colocando uma bermuda e regata. O sol já havia nascido em Byron Bay, e ele não era nada tímido. O calor já estava começando a surgir.

Voltei para onde estávamos acampando, após escovar os dentes e lavar o rosto. Cheguei bem a tempo de ver Christopher e Joel empurrando um colchão inflável para dentro das águas do lago. Ao me aproximar, vi uma cabeleira rosa saindo de baixo das cobertas.

Arregalei os olhos e corri até eles.

— O que estão fazendo? — sussurrei, apontando para Barbara dormindo no colchão.

— Dando o troco — respondeu Chris.

Eu fiquei tão chocado perante ao que estavam fazendo que não consegui me mexer, quando dei por mim a água já estava batendo na cintura deles, e com um leve impulso, jogaram o colchão ainda mais para a frente. Seria impossível pegar ele agora sem me molhar inteiro.

— Você disse que não era fundo — Joel argumentou e deu de ombros.

— E não é... Mas mesmo assim. — Fiz uma careta observando ela se afastar.

Como segurança de todos ali em Byron Bay — os pais deles me pagavam para isso, e não apenas mais os de Lara — eu sabia que era meu dever tirar Barbara de lá. Mas eu simplesmente não consegui me mexer. Senti uma incrível nostalgia de quando eu saia com Chris, Richard, Joel e Erick para aprontar. Uma parte minha ainda era leal aos quatro e a nossa adolescência, e eu não conseguia fazer algo para impedir aquela trollagem.

Me senti péssimo, mas a vontade de rir era ainda maior. Eu quis muito levantar a mão e dar um high five com os dois, porque a ideia tinha sido simplesmente genial. Mas me controlei.

— Se alguém perguntar eu não vi nada — avisei, indo para minha barraca.

Lara já estava acordada, prendendo o cabelo colorido em um coque no alto da cabeça.

— Bom dia — falei, entrando e me inclinando para lhe dar um beijo. — Que bafo gostoso.

Ela me mostrou o dedo do meio como resposta, me fazendo rir.

— Eu não consigo dormir mais quando você sai da cama — disse, olhando ao redor e fazendo uma careta ao ver que não estávamos bem em uma cama.

— Não, você não consegue dormir por causa da claridade. Sempre que eu acordo fecho as cortinas pra você continuar dormindo, e você dorme até meio dia se deixar.

— Pena que você nunca deixa — resmungou, pegando sua mochila.

Saímos da barraca, encontrando todos parados na ponta do lago, ao redor de Joel e Chris. Eles encaravam o colchão com Barbara se afastando de braços cruzados, enquanto os outros estavam chocados.

Juntamos-nos a eles, todo mundo em silêncio observando Barbara dormir sobre o lago na maior calma do mundo.

— Que maldade... — comentou Zac, negando com a cabeça.

— Vai lá buscar ela — falou Kim, apontando para dentro da água.

— Ah — ele deu de ombros — ela merece.

Me controlei para não soltar uma risada. Se até Zac, o maior defensor de Barbara, concordava com aquilo, quem era eu para discordar?

Mas então comecei a pensar o que aconteceria quando ela acordasse. Ficaria assustada? Com medo? Raiva? Tentaria bater em um deles? Porque eu tentaria.

A cama já flutuava de volta em nossa direção, e logo Barbara acordaria.

Com mais pensamentos na cabeça, tirei os sapatos e comecei a entrar na água.

— Não, eu não aguento — falei, sentindo a água morna em meus dedos.

— Não! — Joel me puxou pelo braço.

Chris se juntou a ele, pulando em minhas costas. Fui pego de surpresa, e meus pés pisaram em falso, minha perna falhando e fazendo nós três cairmos na água.

Foi uma grande confusão de pernas, braços e rostos. Conseguimos nos levantar após Chris rolar por minhas costas e cair em minha frente, e Joel de alguma maneira rodar por cima dos meus braços e sair do meu lado direito e ir para no esquerdo. Quando conseguimos parar de cair, levantamos os olhos e demos de cara com dois gigantes par de olhos azuis furiosos. Arregalei os olhos pelo susto.

Barbara parecia prestes a matar alguém.

E foi isso o que fez.

Apoiou as mãos nos ombros de Joel e o empurrou para baixo da água. Se não fosse por minhas mãos em sua cintura, para a tirar de cima dele, ela provavelmente teria caído na água, por causa do colchão inflável. Tirei Barbara da água, recuando, enquanto ela esperneava e tentava se soltar.

— Me solta! — gritou, chutando o ar.

Me afastei mais, saindo do lago e indo para a grama verde. A coloquei no chão, e quando tentou correr, a segurei de novo.

— Não, não.

Ela tentou passar por mim, mas não conseguiu, ficando ainda mais irritada.

— Barbara, se acalma — pedi, segurando em seus braços. Ela apenas bufou.

— Eu vou matar eles! — Apesar do tom de voz, seus olhos se encheram de lágrimas.

— E que diferença vai fazer? Vai matar um e ficar com o outro?

Ela não respondeu, apenas respirou fundo e colocou as mãos na cintura, levantando o rosto para segurar o choro.

— Eu gosto dos dois — respondeu, andando até mim e enterrando o rosto em meu peito. Suas mãos me apertaram como se o mundo estivesse acabando, e ela chorava como se o coração tivesse partido em dois.

E de fato estava.

A abracei, apoiando o queixo no topo de sua cabeça enquanto passava as mãos em suas costas, tentando acalmá-la.

Lara chegou e ficou ao nosso lado.

— Vem amiga, vamos planejar como você vai matar eles.

Barbara fungou e levantou o rosto, secando as lágrimas em minha blusa. Sem falar nada, pegou a mão estendida de Lara e a seguiu de volta para as barracas. Fui atrás delas.

Encarei Christopher e Joel com um olhar que eles se encolheram atrás de Kimberly. Apesar de sugerir um "nós vamos conversar mais tarde", eu não tinha intenção de fazer isso. Barbara tinha tanta culpa quanto eles pela infantilidade deles terem feito aquilo.

Apenas segui até o centro, perto da fogueira, e olhei para todos.

— Estamos indo embora, arrumem as coisas de vocês.