O sol não nasce

21 1 0
                                    

Simplesmente tem dias que o sol não nasce, a gente espera por ele, a ponto de perder a hora, de perder o dia e ele não aparece.
É nesses dias que me apego ao que sobrou de mim, catando cada caco, pra que não se percam ainda mais.
Amigos? Eu tenho inúmeros, mas eles fazem parte de uma parte boa de mim, eles mal sabem que tem dias em que o sol não nasce. Ninguém nunca percebe, mas eu não cobro nada, sei que é conveniente e assim vou levando a vida, sobrevivendo e existindo, dia após dia.

Eu já vivi um conto de fadas, com princesas, sereias, bailarinas, e finalmente, fadas...
(~Mas porque o plural se vivi apenas um conto?~)
Era uma princesa, uma sereia, uma bailarina, uma fada, uma mulher e eu.
Tudo foi mágico, nem sei se mereci tudo de bom que vivi, eu nasci para viver esse conto, mas e agora que acabou...?
Agora? As coisas não fazem mais nenhum sentido, se meu propósito era viver um conto, e esse conto chegou ao fim, não vejo mais sentido em viver esse declínio que chamo de vida.

Sinto gosto da morte.
A vida que vivi já não vive mais em mim. Ela está ligada a outro coração. Coração esse que me descartou feito um guardanapo em via pública... e de lá pra cá venho procurando este bendito coração, passando de coração em coração, tomando chuva e sol e me desgastando pouco a pouco.

Venho retomando os seus passos na esperança de finalmente encontrar aquele coração, e dizer pra ele que apesar de machucado, ainda sou útil como antes. E que sigo o mesmo caminho, os mesmos horários tudo exatamente igual e pronto pra recebê-lo novamente.

Marcone Ricardo Pereira

Vozes da alma Where stories live. Discover now