cinquenta e dois.

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Haden


Quando abri os olhos a primeira coisa que vi foi a tevê desligada. Passei a mão pelo rosto e me sentei no sofá, com um pouco de dor de cabeça.

Quando estava prestes a levantar escutei as vozes de Falyn e Luke
no corredor. Não consigo entender nada do que estão falando, então volto a me deitar no sofá.

Estou cansado e irritado comigo mesmo porque no fundo, sei que estou sendo injusto. Mais que com as duas pessoas mais importantes, comigo mesmo. A sensação de que posso conseguir dizer a verdade sem chorar é mais forte que qualquer coisa, mas não consigo. Se eu me abrir, isso significa que tenho que me lembrar de tudo. De toda dor, e não estou preparado.

Quando visitei a minha mãe hoje de manhã  no centro de reabilitação todas lembranças do meu passo vieram a tona. Já fazem alguns meses desde que só recebo as cartas dela, nunca respondi nenhuma porque não sabia o que dizer. De qualquer forma, ela pergunta mais sobre Luke do que por mim, por isso a evito tanto.

Luke sabe que nossa mãe existe, mas eu disse a ele que ela está do outro lado do país, um lugar bem distante. Porém, isso não é o suficiente para ele não fazer perguntas sobre quando podemos viajar para a visitar ou fazer uma chamada pelo menos, mas só estou tentando o proteger. Se os dois se recontrarem vou ter que explicar o porquê de ela estar internada numa clínica de reabilitação e ter mentido sobre a sua localização durante todo esse tempo. Vou ter que contar toda verdade sobre nossa família e  explicar o que aconteceu quando ele ainda era criança e não tinha noção das coisas.

E essa verdade pode destruir muita coisa nele. E a minha ideia é contar quando ele tiver idade suficiente para entender e aguentar as coisas, mas a minha mãe insisti tanto que fui obrigado a ir a clínica falar pessoalmente com ela, e foi a pior decisão que tomei. Eu não estava nem um pouco preparado e muito menos ela. Não conseguimos nem olhar um para o outro, e eu fui embora. Fugi para ser mais exato e voltei para casa triste e com memórias ruins. Aquele foi o gatilho perfeito para me fazer chorar porque, mesmo se passando anos, ainda não sei como seguir em frente.

Despertei dos meus pensamentos quando escutei a voz de Falyn.

— Oi, você já acordou — sorriu, enquanto caminha na minha direção. Ela me deu um beijo na bochecha e se sentou ao meu lado. — Está com fome?

Neguei, balançando a cabeça.

— Quer um chá? — insistiu. — Um café? Água?

— Não. Nada — respondi, e em seguida ficamos em um silêncio constrangedor, até que ela voltou a falar. Como sempre faz quando não consegue ficar calada.

— Você acredita que depois de dormir, precisei procurar Luke por esse quarteirão inteiro? Ele ainda não sabe a hora de voltar para casa — suspirou, um pouco aborrecida. — E ainda não tinha feito os trabalhos de casa. O seu irmão é fofo, mas as vezes dá vontade de colocar um pouco de juízo na cabeçinha dele com uma chinelada básica — brincou, tentando dissipar o clima estranho.

— Irei conversar com ele.

— Não precisa. Ele já aprendeu a lição — abriu um sorriso orgulhoso.

— E o que você fez? — questionei, curioso. Os ombros dela caíram.

— Chorei — confessou, e um sorriso se formou no meu rosto. — Não tive coragem de olhar para cara dele e ficar brava, por isso chorei e disse que se ele continuasse com essa atitude eu iria ficar triste e resultou! Eu pensei que ele iria revirar os olhos e me chamar de dramática, mas ele ficou tocado e triste comigo. Acho que serei uma ótima atriz no futuro se tentar, sabe? Consigo tocar almas  — fez uma cara convecida.

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