trinta e nove.

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Existem várias verdades universais e uma delas é: eu não quero morrer. Talvez devesse ter pensado nisso antes de fazer o que fiz, mas não vale a pena ficar  martelando minha mente com uma situação que não vai mudar. O que devo fazer é seguir em frente.

Agora que lembro de tudo tenho vontade de rir. Eu o apontei mesmo com uma faca e apesar de tudo sinto orgulho de mim mesma. Sinto que fui corajosa.

Já se passaram cinco dias desde que fiz aquela loucura e tudo está tão calmo que me causa uma ansiedade de outro mundo. Posso estar tomando banho e meu coração começar a bater num ritmo acelerado de repente — como se tivesse corrido uma maratona. Estar a beber um copo de água e as minhas mãos começarem a tremer. Não consigo pensar em mais nada para além do que aquele homem pode me fazer.

Theron falou com o seu pai, um dia desses. E o mesmo disse que apesar de estar irritado, o seu pai resolveu deixar de lado a forma que reagi e tudo que falei. Principalmente o facto de ter dito que ele devia estar na prisão. De acordo com Theron, o seu pai interpretou as coisas de outra maneira. Ele pensa que eu disse tudo aquilo pelo facto de ter sido sequestrada. Que ele devia estar preso pelo meu sequestro, mas sei que no fundo tudo isso é mentira.

É impossível esquecer o olhar que o mesmo lançou-me quando gritou em plenos pulmões que iria me matar. Sei que não é coisa da minha cabeça.

Só quero dar o fora daqui antes que seja tarde. Está na hora de reagir e arranjar um plano de fuga. Nem que eu tenha que viver debaixo de uma ponte.

Não posso contar com a ajuda de Haden porque não o quero meter em problemas e, porque ele ainda não sabe. Ele aparece aqui, mas sem muita frequência e são apenas alguns minutos já que o maldito do Sr. Robert está sempre a precisar dele.

— Você está tremendo — Greta notou, e colocou as suas mãos em cima das minhas. Tentando me manter calma.

Sorri sem graça.

— Eu… — tentei arranjar uma justificação, mas a minha mente ficou em branco.

— Se estiver se sentindo mal podemos ir ao médico — sugeriu, se aproximando de mim.

— Não. Eu estou bem — menti. Porque tenho medo de ir ao médico. Sei que tenho graves problemas, mas não quero, enfrenta-los agora. É bom para o que resta da minha sanidade que eles continuem desconhecidos. É óbvio que é uma decisão burra e imprudente, mas penso que é o melhor para mim. Por enquanto.

— Falyn, você não está nada bem — colocou a cabeça no meu ombro, esticando as pernas na cama enquanto continuava com a posição de meditação.

— Claro que estou.

Ela levantou o olhar para me encarar.

— Porque é tão teimosa? — perguntou. — Sabe que não posso a ajudar se não falar nada.

— Mas eu já falei — fui um pouco rude. — Eu já disse que quero ir embora daqui, mas ninguém me escuta.

— Nós escutamos você.

Balancei a cabeça em negação.

— Não. Não escutam porra nenhuma — me afastei dela, me levantando. — Já repeti umas mil vezes que não acredito em nenhuma palavra do que o seu pai falou. Que ele vai me machucar se eu continuar aqui trancada.

— Ele não vai…

— Como pode ter tanta certeza? — alterei o meu tom de voz. — Como, Greta?

Já é de noite e não me surpreendi quando Theron apareceu no quarto sem nenhum aviso. Com uma cara de quem escutou o meu grito e está prestes a começar com a palestra de que não irá me acontecer nada.

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