quarenta e dois.

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Não sei ao certo quanto tempo se passou, mas ninguém verbalizou nada ainda. Parece que o tempo congelou e o mundo parou de girar. Não sinto mais nada. É como se não estivesse no meu corpo, mas esse sentimento durou apenas por alguns segundos. Agora sinto um nó se formando na minha garganta, falta de ar e o coração terrivelmente partido. Todas essas sensações em simultâneo.

O meu olhar está fixo numa única pessoa. Jade. Nunca senti tanta cólera de alguém até hoje como sinto dela. Não consigo ver a justificação sobre ter sido ameaçada como algo válido para ignorar a culpa que ela tem nessa história. Não consigo.

Porque ela não avisou antes? Porque não tentou procurar uma outra alternativa? Porque não falou com ninguém?

Não sei porque Greta e Theron estão protegendo ela. As vezes, não há justificação para o mal. Talvez ela queira isso desde a muito tempo e só agora teve a oportunidade de colocar o seu plano em prática.

— Isso não pode ser verdade — Greta negou, balançando a cabeça em negação várias vezes, com a voz embargada. — Você não leu o nome certo.

— Isso não é possível —Theron disse, me irritando.

— Como não? — quase gritei. — Essa mulher acabou de admitir que fazia aquilo com frequência. O que esperavam?

— Eu sinto muito — ela chorou, supostamente devastada 1. Não me senti abalado.

— Sente porcaria nenhuma. O que imaginava que ia acontecer?  — quis saber. — Que Falyn iria ganhar asas?

— Nós já dissemos que ela não tem culpa — Greta esbraveja, apontando o dedo na minha direção e me interrompendo. — Para de agir como se fosse o dono razão. Como se nunca tivesse errado na vida. Tenta entender de uma vez por todas que ela errou. Que foi forçada. Que não fez nada disso por vontade própria.

— Entendendo ou não Falyn está morta. E só sinto raiva de você — me voltei para Jade quando disse isso e completei com o olhar preso no rosto de Greta. —Portanto, não perca o seu tempo me pedindo para entender porque eu não quero. Não irei entender nunca — a mesma arregalou um pouco os olhos para mim devido ao meu tom, acho que nunca gritei com ela.

— Está sendo injusto — acusou, irredutível.

— Não me importa — devolvi, os dando as costas.

— Espera, onde está indo? — Theron pergunta, reagindo pela primeira vez. Me virei para o encarar.

— Embora.

— Embora? — repetiu, com o cenho franzido e olhar indignado. — Não escutou o que o médico acabou de dizer?

Inspirei o ar com força, a sentir os meus olhos arderem de forma instantânea.

— Sim, escutei — confirmei, sem me preocupar em esconder a vulnerabilidade na minha voz. — Mas não consigo ter coragem de a ver agora. Tenho medo.

Só com o pensamento de saber que Falyn estava entre a vida e a morte acabava comigo, ver ela morta me deixaria destruído. É patético. Patético e covarde, mas é a minha realidade.

Theron não me lançou nenhum olhar julgador como pensei que faria. É como se ele entendesse perfeitamente a minha hesitação.

— Ela pediu-me várias vezes para a tirar de casa. Sempre pensei em uma forma, mas nunca era boa o suficiente. E agora não consigo deixar de pensar que se não tivesse demorado tanto nada disso estaria a acontecer. Me sinto tão culpado que até está difícil respirar, Haden. Mas eu sei que fugir não é opção. Não estou o condenando, porque entendo. Me sinto da mesma forma — explicou. — E não precisa fazer isso sozinho. Não somos grandes amigos, mas estarei lá.

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