trinta e quatro.

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Não sabia que horas eram quando escutei vozes masculinas pela casa, mas já está bem tarde.  
Uma da manhã talvez, eu não sei. Não consegui dormir depois da minha discussão com Greta, as palavras dela ainda estavam ecoando na minha mente fazendo-me pensar e repensar no que o seu irmão tinha de tão inocente para não merecer o meu ódio. Porque se fosse uma explicação plausível ele já teria aberto a boca e explicado tudo sendo que perguntei mil e uma vezes.

  Cansada de esperar levantei-me da cama e andei até a porta. Peguei na maçaneta e estava prestes para girar quando me lembrei que poderia encontrar o Sr. Robert no corredor em vez do Theron, mas precisava arriscar. Se ele me perguntasse porque ainda estou acordada irei dizer que quero beber um copo de água. Simples.

    Com o plano todo arquitetado na minha mente abri a porta, curvei-me o suficiente para deixar a cabeça de fora e olhei para o lado esquerdo e direito tendo a visão de um corredor vazio, mas no momento a seguir Theron apareceu no início da escada pronto para andar em direção ao seu quarto.

— Ei, Theron — o chamei, fazendo com que as suas íris se focassem em mim.

Um vinco se formou na sua testa enquanto ele se aproximava de mim, sem entender nada.

— Você não deveria estar a dormir agora? — perguntou, quando chegou no meu encontro.

— Entra — indiquei para dentro do quarto com a cabeça, ignorando a sua pergunta.

— Porquê? — redarguiu, desconfiado.

— Precisamos conversar.

Ele não se opôs. Apenas acatou o meu pedido e entrou. Inspirei o ar com força, preparando-me para criar argumentos que o façam abrir a boca.

Fechei a porta e fui-me sentar na cama, enquanto ele está parado num canto me encarando de volta. A espera que o explique o que está a acontecer.

— O que foi? — perguntou.

— Precisamos conversar — repeti, da forma mais séria que consegui. E ele percebeu exatamente do que eu estou a falar porque desviou o olhar do meu e coçou a garganta.

— São quase três da madrugada. Estou cansado e com sono. Não podemos conversar amanhã?

Só quando ele falou isso percebi as olheiras debaixo dos seus olhos, o quanto a sua camisa social branca estava amassada e os seus cabelos castanhos desgrenhados, mas também percebi que ele quer fugir e não o deixarei.

— Não — neguei. — Você já adiou essa conversa por tempo de mais. Está na hora de contar-me tudo que mereço saber — exigi.

— Não tenho nada para contar a você — mentiu, mesmo sabendo que eu não acreditaria.

— Discuti com a sua irmã essa manhã — comecei, mas fui interrompida.

— E por qual motivo?

— Isso é irrelevante agora — desconversei, e ele não tentou insistir, mas sei muito bem que mais tarde ele irá perguntar a sua irmã. — Ela falou uma coisa sobre você não merecer o meu ódio.

— Sério? — não tinha nenhuma expressão no seu rosto, mas sei que ele está a debochar de mim.

— E eu quero saber o porquê — ignorei a sua pergunta.

— Está tarde — insistiu.

— Eu sei, e é claro que você irá embora, mas irá ser pela janela e nós dois sabemos que seres humanos não tem asas e consequentemente não podem voar, mas se quiser tentar… esteja a vontade.

Pensei que ele fosse rolar os olhos para mim teatralmente, abrir a porta e ir embora — porque se ele fizesse o isso, não o iria impedir —, mas ele me surpreendeu quando sorriu e se sentou numa poltrona, com as costas apoiadas na parede pintada de cinzento.

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