catorze.

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Ri quando Liane ameaçou o mais novo de morte quando ele deixou o copo de leite vazio na bancada da cozinha e foi para a sala como se não tivesse feito nada sendo que ela havia acabado de organizar tudo. Nós ainda estávamos a espera de Haden chegar e ele estava a demorar.

Eu sentia-me muito melhor, mas ainda estava cansada. Não pude deixar de pensar que, se isso fosse um caso de vida ou morte eu já teria morrido há muito tempo. Já eram quinze horas da tarde e nada dele dar algum sinal de vida. E a cada hora que passava mais o meu medo crescia.

— Como você conheceu o Haden? — Liane pergunto no segundo em que Luke deixou a cozinha e foi para a sala novamente para assistir a sua luta. Remexi-me na cadeira desconfortável.

Foi num cemitério. Eu vi ele a chorar e tentei falar com ele para o passar apoio moral e o mesmo mandou-me embora de forma rude e acabámos por discutir. Sem esquecer das ameaças, é claro.

Quase respondi isso.

Quase.

— Numa cafetaria qualquer — menti, a falar a primeira invenção que me apareceu na cabeça.

Ela concordou.

— E como veio parar aqui? — outra pergunta escapou da sua boca.

Franzi levemente o cenho. Não gostava de ser interrogada. Liane era legal e se mostrou uma pessoa muito simpática comigo desde que abri os olhos essa manhã. Ela não me tratou como uma desconhecida. Tratou-me como uma garota normal que poderia ser sua amiga, mas eu não gostava de perguntas. Odiava, para falar a verdade. Principalmente quando não tinha as respostas exatas para elas.

— Não lembro muito bem — fui curta. Espero que ela tenha entendido a mensagem e para a minha sorte ela entendeu, mas isso não a impediu de continuar a falar.

— É porque achei muito estranho Haden ter trago uma garota para casa — começou, de forma causal. — Quando ele bateu na porta da minha casa essa manhã e pediu-me para ficar com você pensei que Jesus já havia descido. Quer dizer, Haden não é exatamente a pessoa mais simpática do mundo. Ele é rude, insuportável e mal-humorado. E ele não costuma sair por aí ajudar as pessoas. Então você deve ser uma pessoa importante para ele.

Não.

Não estava a gostar do rumo que aquela conversa estava a ter. Ela estava a tentar colocar-me num pedestal invisível. Haden não sentia nada por mim.

Porque primeiro: o cara não me conhecia. Não realmente.

Segundo: sempre que nos cruzávamos só sabíamos  insultar um ao outro.

Terceiro: não existia nenhuma química entre nós dois.

— Não é nada disso — balancei a cabeça em negação. — Talvez ele tenha mudado.

— De um dia para o outro?

— Talvez? — encolhi os ombros. — Mas ele não gosta de mim. Nós não nos conhecemos faz muito tempo e para ser sincera, o pouco que conheci dele não me agradou muito — sentei-me melhor na cadeira e endireitei a postura. — Apesar de estar agradecida pelo o que ele fez por mim, não existe nenhum sentimento envolvido.

— Bom saber que sou o assunto principal da vossa conversa — uma voz grave preencheu a cozinha e notei Liane apertar os olhos com força como se estivesse a se amaldiçoar internamente. Virei o meu rosto para encarar a sua figura escorada na batente da porta. Pensei que o ia ver com um sorriso sarcástico, mas o seu rosto estava sério. Talvez o que eu tenha dito o tivesse deixado irritado.

— Onde estava? — soltei e antes que ele respondesse continuei. — Demorou. Eu quero voltar para a minha casa.

— Mal-agradecida — murmurou, sem responder a minha pergunta enquanto andava até o frigorífico e tirava uma garrafa de cerveja.

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