trinta e três.

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Se eu pensava que depois do que aconteceu ontem um pedido de desculpa mudaria tudo estava extremamente enganada.

Mesmo que eu o tenha dito que estava errada, que ele não é obrigado a revelar-me nada, que respeitaria o espaço dele e que esperaria com toda paciência do mundo o momento em que ele se sentisse á vontade em contar-me a expressão distante no seu rosto não mudou fui respondida com o “ok” e “penso que já está na hora de você ir embora” mais seco da história. Nem tive tempo de esperar o irmão dele acordar para o cumprimentar ou fazer alguma outra coisa porque o mesmo até se disponibilizou para pagar um uber para mim, o que deixou-me um pouco revoltada.

— As coisas não precisam ser assim — argumentei, com os braços cruzados.

— Assim como? — teve a audácia de se fazer de desentendido, apesar da expressão ainda fechada.

— Assim como você está fazendo — me exaltei. — Entendi que agi de forma errada e pedi desculpa. Não precisa tentar afastar-me como se eu tivesse uma doença contagiosa — fiz cara feia para ele. — Até parece que nunca errou — murmurei essa última parte.

Ele soltou um suspiro cansado.

— O Uber já chegou — foi a única coisa que respondeu, ignorando todas as minhas palavras.

— Está bem, se é isso que você quer — o dei as costas e sai da casa dele. O Uber já havia chegado mesmo. Andei na sua direção, e entrei. Sem me dar ao trabalho de sequer olhar para o condutor. Ele também  parece estar nem aí para mim porque apenas girou a chave na ignição e pisou no acelerador. Para o mesmo não me ter perguntado para onde quero ir me fez deduzir que Haden o tenha dito.

Estou tão puta da vida com ele pela sua atitude. Já sabia que um dia pedido de desculpa não o faria me abraçar e muito menos beijar, mas não esperava que fosse ser despachada da casa dele, daquela forma. 

Tudo isso devido a uma pergunta que ouso dizer ser inofensiva. Porque as coisas que quero saber dele são superficiais. Como o seu nome completo, onde nasceu e sua comida preferida. Isso bastava para mim, mas não. Ele tinha que fingir indiferença e agir como um babaca.

Toda essa situação me fazia questionar a vida dele. Porque se fosse comum ele já teria aberto a boca. Não teria feito aquele drama. Não teria me afastado de sua casa com tanta frieza.

Inspirei o ar com força, sentindo-me ainda mais encolerizada. O motivo de estar assim não é porque contei toda a minha vida para ele de forma gratuita e voluntária e não foi feito o mesmo comigo, mas sim porque essa situação me fez perceber que ele não confia em mim. Não mesmo. Nem um pouco. 

Se ele tivesse feito aquele discurso de não estar preparado e que era um assunto delicado que trazia a tona sentimentos melancólicos, teria doido menos do que nem ser olhada na cara.

Do retrovisor, percebi que o motorista estava me encarando e quando percebeu que eu o tinha pego, desviou o olhar de forma rápida.

— Tenho uma garrafa de água selada — comentou, quando parou o carro num sinal vermelho.

— E? — ergui as sobrancelhas, estranhando o facto de ele ter começado a falar agora.

— Está com cara de quem está prestes a explodir — disse como se fosse óbvio. — Então penso que seja melhor que beba um pouco de água e conte mentalmente — deu de ombros. — Pode ajudar.

Revirei os olhos.

— Estou bem — forcei um sorriso. — Obrigada.

Ele jogou as mãos para trás em rendição.

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