Encontro Inusitado

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Cheguei no estacionamento do abrigo, e assim que fechei a porta do meu carro eu vi o carro de Liam chegando também.

Esperei por ele na porta da recepção.
- Pronto para divertir umas crianças hoje? - eu disse.
- Eu já nasci pronto. Pra qualquer coisa... -
Ele disse, e piscou um olho.
Tentei ignorar o quanto ele é convencido
e entramos.

— Olá Irmã Isabelle. — Eu disse para a jovem freira na recepção.
Ela sorriu.
— Olá Liz. Parece que as crianças conquistaram o seu marido também, hein!? — Ela disse simpaticamente, olhando para Liam ao meu lado.
Só pensava em por que as pessoas precisavam ficar me lembrando que ele é "meu marido", eu odeio isso.
— É, parece que sim. — Eu disse sorrindo.

Fomos até a brinquedoteca, como de costume. Percebi que estávamos um pouco atrasados, pois as crianças já estavam lá, e pareciam entretidas, pois nem notaram que a gente havia entrado na sala. Antes que eu pudesse dizer oi, vi Tati, que vinha na minha direção com cara de brava.
- TIA LIZ! EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ MENTIU PRA MIM! - Ela disse alto.
Eu estranhei aquilo e me abaixei até ela para tentar entender, e tentando não rir por ela ficar super fofa com a carinha de brava.
- Do que está falando Tati? -
- Você me disse que ele era seu colega. Mas a irmã Dulce disse pra gente que você e seu MARIDO iam vir ver a gente hoje. - Ela apontou o dedo para Liam ao dizer "marido" e cruzou os braços.
Eu não sabia o que dizer, olhei para Liam e ele estava morrendo de rir do meu lado. Antes que eu pudesse pensar em alguma coisa ele falou:
- Que absurdo "Tia Liz". - Disse ironicamente, dando enfoque em "Tia Liz".
Então ele pegou em uma das mãos dela e saiu.
- Venha, deixe essa mentirosa aí. - Ele disse, ainda rindo de mim.

- Inacreditável. - Eu disse. Vendo que Liam ao invés de me ajudar ficou rindo e ainda saiu com a criança.

Ajudamos as crianças com as atividades, as vezes eu olhava para Liam, mesmo que dessa vez eu não precisasse procurar sinais de fingimento, eu achava bonitinho a forma como ele brincava com eles, e fazia eles se divertirem. E depois de contar a história nos despedimos das crianças e saímos do Abrigo.

Quando chegamos no apartamento, o assunto não podia ser outro.
- Como você foi capaz de mentir para uma criança? - Ele fazia uma expressão forçada de indignação e parecia segurar o riso.
Eu revirei os olhos.
- Você poderia ser menos irritante, por gentileza? -
- Você acha que um dia ela vai superar? - Ele dizia dramaticamente.
- Amanhã mesmo ela já esquece isso. - Eu disse, mesmo sabendo que foi uma pergunta tão idiota quanto retórica.
- Ela parecia bem decepcionada com você, você viu aquele olhar? - Quando ele disse isso, eu não resisti a rir, por que lembrei do rostinho dela, e era a coisa mais fofa do mundo.
- O que você falou pra ela? - perguntei.
- Que desde a primeira vez que fui lá, nos apaixonamos e eu te pedi em casamento. -
Eu olhei para ele, para ver se falava sério.
- Fez sentido pra ela. - Ele disse.
- Eu não conseguiria ter pensado em algo melhor. - admiti.

Eu suspirei como um sinal de cansaço, e estava indo em direção ao meu quarto.
— Ok, preciso de um banho por que já vou ter que sair novamente. — Eu disse.
— Onde vai? — Ele perguntou.
Eu ergui uma sobrancelha e pensei em dizer que não o devo satisfações, mas estava sem tempo então decidi ser breve.
— Vou em um outro lugar que eu ajudo. —
— Mais crianças? —
— Animais. —
Ele fez uma expressão de surpresa.
— Você não se cansa de ajudar tantos lugares? —
— Na verdade não, é um prazer pra mim. — Eu disse, e um sorriso distraído se formava em meus lábios ao pensar nas crianças, nos idosos e nos animais.
— Vou com você. — Ele disse.
— Oi? — eu disse, para ver se tinha escutado direito.
— Vou com você. Eu também gosto de animais. —
Eu abri a boca para contestar. Mas como eu poderia impedir alguém de ajudar?
Pelo menos eu sabia que Ryan não estaria lá hoje, não sei se ele já superou o que aconteceu entre a gente, mas se não, ele iria ficar bem chateado em ver Liam lá.
— Saímos em 10 minutos. — Eu disse, entrando em meu quarto.

Eu estava dirigindo meu carro, e Liam estava no banco do carona. Era bom eu dirigir para variar, sempre que íamos para algum lugar juntos, a gente ia no carro dele. Mas desta vez como ele não sabe onde é, não pode contestar.

Mostrei os animais para Liam, ele me ajudou com algumas coisas e fez algumas perguntas.

No final, ele estava literalmente agarrado a um filhote de cachorro marrom.
— Tem certeza que é proibido animais no apartamento? — Ele disse, acariciando o cachorrinho, que lambia sua mão.
— Sim, tem uma placa enorme bem na frente do prédio. —
— Mas e se a gente desse um jeitinho, e pedisse uma exeção? —  Ele parecia uma criança insistindo para os pais deixarem levar um cachorrinho para casa.
— Liam, coloca ele no chão e vamos. —
— Olha só pra ele. —
Ele colocou o filhote perto do meu rosto.
— Você pode vir ver ele sempre que quiser, agora vamos. —
Ele se deu por vencido e eu ri ao analisar aquela situação, eu estou conhecendo um Liam cada vez mais diferente.

— Tchau amiguinho. — Ele disse ao colocar relutantemente o cachorro no chão, e o pequeno filhote pulava em suas pernas alegremente querendo ser pego de novo.

Quando estávamos saindo do lugar, quem eu menos esperava apareceu.
Os olhos de Ryan encontraram os meus e logo depois pousaram em Liam.
Eu sabia que ele não estava falando comigo, então ia passando diretamente por ele, mas desta vez ele segurou meu braço e me puxou até um pouco distante de Liam.
— Não acredito que trouxe ele aqui. — Ryan disse baixo, mas talvez não o suficiente para que Liam não ouvisse.
Eu pensei que me sentiria diferente quando ele finalmente falasse comigo de novo, mas eu não senti.
— Ele queria conhecer o lugar. — Eu disse, minha voz falhando um pouco.
Olhei para trás e Liam estava parado, com os braços cruzados e uma sobrancelha erguida olhando para nós.
— Você me trocou por esse idiota e ainda vem esfregar isso na minha cara? — Ele parecia irritado, e um pouco chateado.
— Claro que não! Você sabe que eu nunca faria isso. Eu pensei que você não estaria aqui hoje. — Eu disse, olhando firme para ele. E como ele não disse mais nada, eu saí.

Liam continuou olhando para ele por alguns segundos e depois continuou me acompanhando até meu carro.

— Dava quase para tocar a tensão entre vocês. — Ele disse.
— Da pra gente não falar sobre isso? — Pedi, enquanto ligava o carro, tentando esquecer este encontro inusitado.
— Parece ter deixado o cara bem apaixonado. —
Este assunto estava me irritando, Liam estava me irritando e eu só queria que ele calasse a boca.
— Liam, por favor. Só dessa vez, não seja tão irritante. — Eu disse já um pouco nervosa.
Ele levantou as mãos como se estivesse se rendendo, mas havia um leve sorriso em seus lábios. A forma como eles se diverte em me irritar me irrita extremamente mais.

Casando Com o Inimigo Where stories live. Discover now