Casal Feliz

14.4K 1K 112
                                    

Eu estava no sofá da casa de Liam, que estava ao meu lado. Próximo demais para me incomodar, mas sem chegar a me tocar. Eu estava tentando sorrir o máximo possível enquanto pensava o quanto isso é ridículo.
Um homem estava arrumando um tripé de uma câmera e mais alguns equipamentos e uma mulher, a entrevistadora, estava esperando.

— Tudo pronto Carla. — Disse o homem com a câmera.
— Ok, podemos começar? — Disse a mulher a nossa frente.
E eu só conseguia pensar: Uma entrevista.
Sério?
Isso está passando dos limites.
Liam parecia estar adorando, ou ele realmente gosta muito de câmera e atenção ou estava fingindo extremamente bem.

— Olá galera da KultMagazine. Estamos aqui para um entrevista exclusiva, com o casal mais comentado do momento. Elize Gilleard e Liam Suller. —
Sorri para a câmera, mas a vontade era de chutar ela pra longe.
— Elize, a primeira pergunta é especificamente para você. Conta pra gente, como está os preparativos para o casamento? Faltam apenas 10 dias, certo? Está ansiosa? —
Respirei fundo e tentei ser convincente, e ao mesmo tempo, não me intimidar muito diante da câmera.
— Está indo tudo bem. Estou muito ansiosa, penso nisso dia e noite. Mal vejo a hora de me casar. —
Eu quase ri de mim mesma dizendo essas coisas, e ao mesmo tempo, me surpreendi com a minha capacidade de mentir.
— Vocês já estão morando juntos? —
— Não, ainda não. Estamos esperando o casamento. — Eu respondi novamente.
— E contem pra gente. Como esconderam tão bem esse relacionamento? e por quê? —
Eu ia falar mas Liam falou primeiro.
— Somos bem reservados quanto a isso, sabiamos que teria uma grande repercursão. Então mantemos isso privado, mas com o noivado decidimos que era a hora de mostrar para o mundo o nosso amor. —
Ele soou tão convincente que eu quase aplaudi. Porém logo me deu uma raiva enorme ao perceber que todos que assistirem isso vão começar a achar que ele é um cara legal, quando na verdade ele não é.
— E a lua de mel? onde vai ser? —
— Vamos para Paris. E sei que vai ser incrível. — Liam respondeu novamente.
— E os filhos? Pretendem ter logo ou vão aproveitar mais o casamento? —
— Não estamos pensando nisso ainda. — eu respondi. 
— Como vocês se conheceram? —
Eu limpei a garganta ao ouvir essa pergunta, e foi Liam quem respondeu:
— Na escola, á muitos anos atrás. Mas foi a pouco tempo que voltamos a ter contato. — Ele olhou pra mim enquanto falava isso. Não era exatamente uma mentira. Porém ele sabia que mencionar isso, e me lembrar da época da escola, me deixaria irritada.
— Agora para finalizar, nos digam: Existem planos de parceirias entre as empresas de seus pais? —
Eu não sabia o que responder e Liam também pareceu meio perdido.
Tentei pensar em algo rápido.
— É uma possibilidade. Visando que agora seremos uma só família. Quem sabe. — Sorri aliaviada ao dizer isso.
A parceiria entre as empresas é o único motivo relevante para este casamento, mas a imprensa nunca pode saber disso.

— Então, quero agradeçer a vocês por se disponibilizarem a realizar esta entrevista, Agradecer ao Liam Suller por nos receber em sua casa e dizer que KultMagazine deseja muitas felicidades ao casal. —
Eu sorri e agradeci, Liam fez o mesmo.

Continuamos fingindo ser um "casal feliz" até eles irem embora, o que não demorou muito. E depois de Liam fechar a porta, eu começei a contar alguns minutos para dar tempo deles estarem fora de vista e eu poder ir embora tranquilamente.

— Até que você foi bem convincente hoje. — Ele disse.
— Obrigada. Precisei reunir todas as minhas forças pra não deixar bem claro que a única coisa que existe entre nós é ódio. —
— Ódio, e um contrato. —
Eu fiquei em silêncio, vamos assinar o contrato no dia do casamento, junto com a certidão de casamento. Me assusta tanto saber que dentro de alguns dias, vou estar presa por dois anos a esse idiota.
— Já pode ir embora agora? Vou receber uma garota. — Ele disse.
Notando a menção desnecessária eu não pude ficar calada.
— Ah claro, não quero te atrapalhar com suas prostitutas gourmet. —
— Garota, eu já falei que não preciso pagar por isso. Elas praticamente se jogam em mim. —
Eu ri, demonstrando todo o meu sarcasmo.
— Ok garanhão. Só toma cuidado pra não ter saliva do seu amiguinho em todas elas. —
Ele revirou os olhos.
— Vai me encher o saco com isso de novo? — Ele pareceu estressado, eu gostei disso.
— É apenas a verdade. —
Eu me levantei do sofá e caminhei para perto dele e então peguei minha bolsa, peguei meu celular dentro dela, e esperei o momento certo.
— Escuta vadia. Você não me conhece, não conhece meus amigos e muito menos sabe algo sobre a minha vida. Então só vaza logo da minha casa, por que ver sua cara já está me deixando irritado. —
— Eu pensei que tinha deixado bem claro pra você nunca mais me chamar de vadia de novo. Mas vejamos, o que se pode esperar de garotinho mimado e que não sabe, e nunca soube respeitar alguém? Você é podre Liam. —
Ele ficou em silêncio, parecia buscar palavras, mas eu continuei falando.
— E o pior é que você realmente acredita que alguém gosta de você. Nem seus pais devem se importar com você. As garotas só dormem com você por dinheiro, seus amigos só estão a sua volta, como moscas, também pelo seu dinheiro. Mas a verdade é que seu caráter fede, e no fundo ninguém te suporta. —
Ele riu, e nessa hora eu sabia que era o momento certo, que finalmente eu ia jogar aquilo na cara dele. Então eu coloquei o audio no meu celular, alto e claro.
No começo ele pareceu não entender, direito, mas em algum momento eu notei na expressão dele que ele reconheceu que era a voz do tal amigo que ele tanto confiava e defendia. Foi como se  estivesse derramado um balde de água fria na cabeça dela.
Eu mantive meu sorriso vitorioso nos lábios, enquanto via o dele se dissipar.
Quando o audio acabou eu continuei falando.
— Vamos lá. O que você vai fazer agora? Você não é nada sem seu sobrenome. Você é só um lixo e não merece nada além de ser tratado como um. —
Eu vi algo diferente nos olhos dele, além da raiva. Seria tristeza?
— Sai daqui! Anda! sai daqui. — Ele disse, com o tom de voz bem elevado e um tanto agressivo indo até a porta e a abrindo.
Eu saboreei o sofrimento dele mais um pouco, e fui até a porta.
Escutando ela bater atrás de mim.

Eu entrei no meu carro, e dirigi pra casa, mais satisfeita do que nunca.

Casando Com o Inimigo Onde histórias criam vida. Descubra agora