Casando Com o Inimigo

Lembranças Dolorosas

Amanheceu e o dia estava cinza e chuvoso lá fora, já fazia uma semana desde que eu tinha tido a pior notícia do mundo, ou pelo menos do meu mundo. E eu havia entrado em algum tipo de estado de choque. Eu estava mal de verdade pelo que teria que fazer. Mas eu não havia outra alternativa, nem escolha. E por mais que parecesse tão errado, era o certo a se fazer.

Passei maior parte da manhã na cama, nem mesmo havia percebido quando a manhã se tornou tarde. Aquele dia cinza, úmido e vazio... parecia com como eu estava me sentindo.
Me casar com aquele monstro parecia o fim pra mim, e eu nunca nem nos meus piores pesadelos imaginei que um dia isso poderia acontecer. Na verdade, eu cheguei a acreditar que nunca mais veria ele pessoalmente, mas isso seria bom demais para ser verdade.
Eu tentava muito não pensar em como iria ser, mas era inevitável. Eu pensava o tempo todo e isso me levava a ruína emocional.
Não sabia bem se estava dormindo ou acordada ou quase dormindo quando ouvi dois toques na porta, afinal, estar dormindo ou acordada eram quase a mesma coisa quando se está dopada de medicamentos para dormir. Aquele vazio e escuro de quando você fecha os olhos, é o que eu sinto o tempo todo, mesmo quando eles estão abertos.
- Entra! - eu disse.

Uma das funcionárias, Michelle, colocou a cabeça para dentro da porta e disse - Senhorita Elize, seu pai pediu que se vestisse e fosse até a sala de recepção, ele mandou informar que "Marcos Suller está aqui." -
- Obrigada Michelle, avise que ja estou descendo. - Eu disse em total desânimo.
Antes de sair, ela terminou de passar pela porta me permitindo ver uma bandeja de café com dois sanduíches, suco de laranja e algumas frutas. Foi aí que eu me lembrei que não havia comido. Eu sorri para ela em agradecimento pelo cuidado, ela deixou o quarto e me esforcei para comer um pouco.

Eu não queria descer, não queria sair da cama, muito menos ver o pai do meu terrível inimigo e agora futuro marido.

Após comer eu me levantei vagarozamente com uma porcentagem de 0% de ânimo no meu corpo, tomei um banho rápido pois não havia levantado da cama durante todo o dia, penteei meu cabelo e vesti uma calça jeans clara de cintura alta e uma blusa rosa bebê de gola alta . Eu sabia que minha cara deveria parecer horrível depois de chorar tanto, então apliquei um pouco de corretivo, rímel e de lip tint nos lábios, calçei meu nike air jordan branco e desci as escadas de madeira, respirando fundo e encontrando dentro de mim a melhor atriz que existisse.

Avistei meu pai na sala, que sorriu quando me viu, e o homem de costas então se virou e olhou pra mim, ambos em seus habituais ternos. Marcos Suller olhou para mim e tudo o que eu pensei foi: Será que ele tinha noção do quão horrível era o filho dele?
- Aí está ela. - disse meu pai.
Eu tentei manter uma expressão simpática.
- Olá papai. - Eu disse e então sorri para Marcos Suller, que aparentava ter a mesma idade que meu pai, porém com algumas injeções de botox, pude olhar firme em seus olhos azuis turquesa, que seriam lindos se não me lembrassem do filho babaca dele.
- Prazer, Elize. - Eu disse sorrindo amigavelmente, torcendo pra não estar soando tão falso quanto realmente era, então estendi a mão, ele apertou firme a minha mão e disse - Prazer em conhecê-la minha futura nora. - em tom de brincadeira.
- Ela não é linda? - meu pai disse.
EW. Eu me senti como uma mercadoria naquele momento, na qual ele iria vender para o filho deste homem. O filho que havia destruído minha sanidade mental e tornado minha adolescência um verdadeiro inferno.

- Realmente linda, a propósito, não se parece nada com você Ricardo. - Ele disse em tom de brincadeira, e eles riram. Me esforcei para não revirar os olhos.
- Eu espero que você e Liam se dêem bem, saiba que vamos prosperar muito com esta parceiria. -
Se ele soubesse o risco de morte que o filho correria morando na mesma casa que eu baseado em toda raiva que ainda sinto dele, ele não diria isso.
Eu sorri, tentando parecer o menos psicopata possível.
- Nós vamos nos entender. - menti.