21 de Julho

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— Você está linda. — Disse meu pai, ao meu lado no banco de trás do carro.
Eu nem consegui sorrir com o elogio.
— Pai, por favor, pare de agir como se fosse uma coisa boa, um dia feliz. —
— Me desculpe. Mas você realmente está linda, querida. —
Eu respirei fundo.
E continuei aguardando a Organizadora de Eventos vir me chamar.
Da janela do carro eu só conseguia ver grandes portões de madeira que davam para o grande salão onde estava organizado o casamento.
Eu fechei os olhos e aproveitei meus últimos minutos sem estar unida civilmente ao cara que destruiu parte da minha vida e que agora vai destruir um pouco mais.

Ouvi algumas batidas no vidro do carro.
Abri os olhos vendo a organizadora, me chamando.
— Ta na hora, filha. — meu pai disse.
Eu respirei fundo e assenti para ele, que abriu a porta, deu a volta no carro e veio me ajudar a descer. O longo vestido branco sem alças pesava um pouco em meu corpo, mas nada que incomodasse muito. Meu cabelo estava solto, com uma parte presa apenas na lateral e descendo em ondas suaves nas pontas, minha maquiagem estava impecável, eu me sentiria linda e feliz se fosse em outras circunstâncias.
Cheguei nos grandes portões de madeira, por onde entraria.
Arrumei meu vestido, a organizadora me ajudou, desamassando com a mão em algumas partes e arrumando o grande véu que se estendia atrás de mim.
Meu pai se pôs ao meu lado, cruzando o braço com o meu.
Eu não acredito, que em pleno século XXI eu estou passando por um casamento por contrato, um casamento sem amor.
A organizadora, que estava o tempo todo com uma prancheta na mão, parecia se comunicar com alguém dentro do salão, através de um pequeno dispositivo em seu ouvido que continha um fio onde havia provavelmente um microfone.
— 10 segundos. — Ela disse, me entregando o buquê de flores mescladas entre rosas brancas e cor-de-rosa claro.
Eu respirei fundo mais uma vez, e meu coração acelerou quando eu ouvi a marcha nupcial dentro da igreja.
Os dois lados do portão foram abertos por dentro, revelando o tradicional tapete vermelho entre vários bancos com as laterais enfeitadas com flores brancas, todos lotados, em maior parte, por pessoas que eu nem conhecia, pessoas que agora estavam olhando para mim.
Eu tentei sorrir, eu juro que tentei, mas era impossível. Eu sentia que se tentasse mover demais um único músculo do meu rosto, eu desabaria em lágrimas.

Eu e meu pai caminhamos devagar até o altar.
Em direção a Liam, que estava esperando, em um terno preto, que não duvido que tenha sido mais caro que meu vestido.
Quando paramos próximo ao altar, ele veio até nós e deu um aperto de mão em meu pai, enquanto a mãe de Liam veio pegar o buquê para segurá-lo durante a cerimônia. Meu pai foi para o banco ao lado, próximo aos pais de Liam.
Liam parou a minha frente e olhou pra mim, segurou minha mão, e eu resisti ao instinto de soltá-la imediatamente, lembrando que estavamos diante de centenas de pessoas que acreditavam que nós nos amávamos.
Fomos para frente do cerimonialista, que iniciou o casamento.
—  Nesta noite tão bonita, estamos aqui para testemunhar e oficializar o amor entre Liam e Elize. —
Para evitar vomitar com toda a baboseira e mentiras que começaram a ser faladas, eu me perdi em meus pensamentos.

A previsão de duração da cerimônia estava prevista para 40 minutos, mas eu torcia para durar menos. Queria acabar isso o mais rápido possível.

Enquanto estava ignorando as palavras do cerimonialista, eu percebi que deveria prestar um pouco mais de atenção para o momento em que precisasse dizer Sim.
E se eu dissesse Não? Ah, quem me dera.
Foi quando do nada eu gelei.
Depois do Sim, vem o beijo.
Acho que que eu tentei evitar de toda forma possível pensar no dia do casamento por tanto tempo que esqueci da merda do beijo. Quem esquece DO BEIJO DE UM CASAMENTO?
Eu engoli seco com a idéia de que iria beijar Liam em alguns minutos, e começei a desejar o contrário de antes, que os 40 minutos demorassem muito.

Tentei me acalmar mentalmente.
Tudo bem Elize, é só um beijo.
É óbvio que não vai passar de um um simples selinho, até por que eu sei que ele não que me beijar tanto quanto eu. Mas mesmo assim, eu estava completamente aterrorizada em ter que beijar esse cara pelo qual guardo tanto ódio, beijar a boca da qual eu já ouvi tantos insultos.
Eu acho que vou vomitar! Vou vomitar no meio do altar.
O cerimonialista indicou o momento dos votos, e então fiquei atenta.
— Liam, é de livre e espontânea vontade que você aceita Elize como sua companheira em matrimônio? —
— Sim. — disse Liam.

— Elize, é de livre e espontânea vontade que você aceita Liam como seu companheiro em matrimônio? —
Na verdade, não. Pensei.
— Sim. — eu disse.

E então entraram as alianças.
Uma garotinha que eu desconheçia, entrou com um vestido branco de daminha de honra, trazia as alianças em uma pequena almofada.
As pegamos e nos viramos de frente um para o outro. Queria estar me casando com uma pessoa que não tivesse vontade de socar sua cara o tempo todo.

Ele pegou minha mão esquerda e começou a dizer os votos.
— Eu, Liam Suller aceito você, Elize Gilleard como minha esposa e prometo te amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, por todos os dias de nossas vidas. — e então ele colocou a aliança dourada no meu dedo anelar.
Eu não pude conter o leve sorriso de irônia ao ouvir ele dizendo isso.
Esses votos tradicionais se tornaram uma grande piada neste casamento.

Ele permaneceu sério, havia notado algo estranho nele desde o início da cerimônia, e por algum motivo acho que o motivo não é só o casamento.

E então o cerimonialista colocou o microfone em minha direção, torci para não errar o pequeno trecho que a Sra. Suller havia me passado, já que toda vez que eu tentava decorá-lo eu me sentia ridícula.
Eu peguei a mão de Liam e posicionei a aliança em seu dedo.
— Eu, Elize Gilleard aceito você, Liam Suller como meu marido e prometo te amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, por todos os dias de nossas vidas. —
Encaixei a aliança ao terminar de falar.

O cerimonialista então voltou a falar, enquanto eu me preparava psicologicamente para o que logo iria acontecer.
— E assim, tendo testemunhado sua troca de votos diante de todos que estão aqui hoje, selamos este amor e é com grande alegria que os declaramos marido e mulher.
Pode beijar a noiva. —

Eu parei de respirar por um segundo quando Liam se aproximou, ele colocou as mãos em minha cintura, e seu toque era firme, a expressão de sério havia dado lugar para o seu típico sorrisinho sarcástico que sempre me deixa profundamente irritada, e eu estava começando a pensar que ele sabia disso.
Ele demorou demais para chegar até minha boca, como se estivesse gostando de prolongar meu sofrimento.
E então ele encostou seus lábios nos meus, uma onda de sensações que não sei explicar passou pelo meu corpo.
Ele felizmente não tentou nada mais que um selinho, mas demorou um pouco mais do que eu gostaria, então fui eu quem deu fim ao beijo, me afastando.
Ele olhou pra mim, e ainda sorria sarcasticamente, mas eu logo desviei o olhar, por que estava um pouco constrangida e me sentindo de certa forma, derrotada. Olhei para as pessoas, que agora estavam de pé aplaudindo.
Fomos até uma mesa que estava ao lado do altar, um homem de terno, possivelmente um advogado, estava ao lado, então assinamos dois papéis, o do matrimônio civil e do contrato.
E agora, eu estava oficialmente casada com meu pior inimigo.

Casando Com o Inimigo Where stories live. Discover now