| FIM DESTE CONTO |

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Se antes os pequenos se mantinham em silêncio, aguardando ansiosamente a distribuição de presentes, agora, a cena era totalmente contrária

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Se antes os pequenos se mantinham em silêncio, aguardando ansiosamente a distribuição de presentes, agora, a cena era totalmente contrária. Tudo se resumia a gritinhos agudos e entusiasmados, junto a vários outros burburinhos coletivos acerca dos presentes e da grande atração da noite: eu.

Retornei ao meu assento e tentei não me apavorar com o que viria a seguir: ceder meu colo para uma legião de crianças ávidas por fazer desejos que eu nunca poderei realizar.

(ver a coisa sob essa perspectiva só piora a minha situação)

Vejo a primeira delas pegar com gosto a embalagem de presente de formato retangular, a qual a mamãe Noel tão gentilmente retirou de seu imponente saco e lhe entregou. Ela agradece com uma breve inclinada de cabeça, e mesmo que não o tivesse feito, seus olhinhos estreitos e fulgurantes a haviam denunciado, pois estão cheios de vida e de uma gratidão que raramente consegui ver em alguém. Isso amolece o meu coração de uma forma inexplicável, e por um breve momento quase deixo todo o nervosismo de lado.

Bom, pelo menos até que ela comece a se encaminhar até mim, parando bem a minha frente:

- Oie... – diz, não deve ter mais que seis anos, e suas bochechas avantajadas me fazem querer apertá-las como massinhas de modelar, sua pele tem a cor de caramelo e por uma fração de segundos apenas me deixo levar pela fofura hipnotizante da pequena criaturinha. Seus olhinhos brilham de excitação e ela assume lugar no meu colo antes mesmo que eu consiga proferir alguma palavra minimamente amigável.

Não sei o que falar, não sei como agir, minha postura trava, me sinto engessada por trás de todo esse pano pesado e que me pinica a pele, mas ela exige algo de mim, ela quer o bom Noel, para ela, nada mais importa além do papel que eu tenho que exercer. Tento engrossar um pouco a voz (embora ela já tenha um tom naturalmente grave e levemente masculino)

- E-então menininha, se comportou bem esse ano? – indago sem jeito, tensa e temerosa, ainda em dúvida quanto à minhas habilidades noelescas.

A garotinha mantém os olhos em mim, talvez seja a minha barba fora do lugar (porquê cocei), ou talvez ela tenha percebido o quanto sou uma fraude, ou a minha voz, sim! A minha voz! Ela me denunciou!

Finalmente decide quebrar o silêncio, bem quando eu já estava começando a sentir um certo desconforto (que não era causado pelos seus poucos quilos sobre o meu colo):

- Eu tentei. – respondeu com certa tristeza, a luz em seu olhar se desvanecendo um pouco. – Mas a Ane, que divido o beliche, se recusa a me deixar dormir encima, aí acabamos brigando, eu acho que devo ter arranhado ela um pouco no rosto. Mas eu me arrependi depois, só que ela não aceitou meu pedido de desculpas. Isso me deixa meio mal.

Respiro fundo, tão imersa na narração dela que sequer percebo o momento de entrar em cena. Não sei bem o que dizer – Quem sabe o que dizer em uma situação dessas?! – então forço uma tosse grossa e ensaiada de velhinho, só para me dar mais tempo de bolar algo legal para responder:

As Quatro Badaladas do Sino de Natal (Romance LGBTQIA+)Where stories live. Discover now