| PARTE II |

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Só quando ponho a chave na ignição é que caio na real, sentindo um certo embrulho no estômago e um calafrio me subindo a espinha, é naturalmente aceitável que eu esteja nervoso, uma vez que estou só há alguns quilômetros do carinha com quem venho ...

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Só quando ponho a chave na ignição é que caio na real, sentindo um certo embrulho no estômago e um calafrio me subindo a espinha, é naturalmente aceitável que eu esteja nervoso, uma vez que estou só há alguns quilômetros do carinha com quem venho trocando mensagens há três meses consecutivos – isso mesmo, acredite. – A única coisa fora do comum, que é curiosamente o ponto chave de tudo, é que eu nunca, jamais, sob hipótese alguma me encontrei com outro garoto antes - não romanticamente! – como agora é o caso, e pensar que estou fazendo isso em plena véspera de natal é ainda mais apavorante. Dou partida, antes de ser tomado por algum receio bobo. – Agora não tem mais volta...

Do lado de fora o frio é de rachar os dentes, e embora eu esteja de moletom, luvas e gorro, a sensação térmica é de que me puseram em um freezer. A neve não dá trégua, e levando em conta o nível atual e todas as pistas bloqueadas pela cidade, logo teremos alguns transtornos.

Não demora muito até que eu me depare com o primeiro bloqueio, pelo que consigo ver, uma carreta derrapou devido a neve, tornando o tráfego pelo trecho impossível, o motorista parece bem, e enquanto alguns guardas de trânsito distribuem cones pela pista, somos orientados a dar meia volta e seguir por um caminho alternativo. Não me junto aos inconformados, que buzinam e disparam palavrões insatisfeitos numa tentativa de reverter a situação, sei o quanto é inútil, ao invés disso, pego o celular em mãos e passo uma mensagem para o Kevin avisando que muito provavelmente irei me atrasar, mas infelizmente não tenho uma barrinha de sinal sequer, o que faz com que a mensagem retorne para a pasta de Não Enviadas. Dou meia volta, redobrando minhas atenções no volante, a última coisa que quero é me envolver em um acidente e acabar atrapalhando o trânsito das outras pessoas...

Em um certo ponto, enquanto aguardo o sinal abrir, avisto uma garota mais à frente que, mesmo com toda a neve, cruza a faixa de pedestres, desafiando o frio e se precipitando entre os carros parados. Ela veste uma capa de chuva com capuz sobre as roupas de frio desgastadas, e por cada veículo que passa, oferece o que quer que esteja dentro de sua cestinha em troca de alguns trocados. Quando chega a mim, percebo se tratar de bengalas de chocolate e Donuts, os quais parecem terem sido feitos com dedicação. E ainda que eu esteja de estômago forrado, pego um de cada só para lhe ajudar com as vendas, uma vez que os outros motoristas sequer baixaram os vidros da janela:

- Quanto lhe dou de troco? – pergunto, me arriscando a dizer que ela tem quase a minha idade, embora a capa sobre o seu rosto revele pouco mais que as suas sardas excessivas e seu sorriso humilde e singelo:

- O quanto achar necessário! – responde calorosamente.

Tiro 20 reais do bolso, lhe passando. Sei que é um pouco a mais do que deve custar, mas não me importo com nada disso.

- Tenha uma excelente véspera de natal! – agradece, e então vai embora, me fazendo sentir como se de alguma forma tivesse transformado significativamente a sua noite...

...

Estou só na estrada, e não só pelas outras pessoas – que preferencialmente estão trocando presentes e enchendo a pança em casa. – Como por esse trecho em si, que é uma rota alternativa e pouco movimentada, e é por esse motivo que decido – contrariando as leis de trânsito e os meus testes. – Pegar o celular e checar se o sinal voltou, se a mensagem foi enviada ao Kevin.

É quando a coisa toda acontece.

Primeiro vem o impacto, seguido pelo pânico, e então o medo de que tenha atropelado algo – ou alguém! – largo o celular no banco, saindo às pressas, e agradeço aos céus por não haver nada além de um banco de neve diante de mim, o alívio é imediato.

Com os faróis iluminando a estrada, retorno para dentro do carro e tento dar ré, mas infelizmente ele permanece imóvel, jogando neve para o outro lado da pista com a rotação dos pinéus. Então saio novamente, indo para a parte da frente e tentando empurrá-lo para fora, nada. Repito ambos os procedimentos por pelo menos cinco vezes, até minhas forças se esgotarem e eu perceber que estou não só sem sinal, como também atolado em um banco de neve.

 Repito ambos os procedimentos por pelo menos cinco vezes, até minhas forças se esgotarem e eu perceber que estou não só sem sinal, como também atolado em um banco de neve

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As Quatro Badaladas do Sino de Natal (Romance LGBTQIA+)Où les histoires vivent. Découvrez maintenant