| UM VELHINHO E DOIS JINGLE BELLS |

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- Me empresta sua meia? – Guto pede, atravessando o quarto com seus pezinhos agitados e sentando na beirada da minha cama, me observando enquanto dou uma última checada no visual frente ao espelho. – Não consigo encontrar a minha, e como você já deve saber, não ganhamos doces se alguém não tiver pendurado elas na lareira...

Me sinto impelido em confessar a verdade, abrir o jogo de uma vez e lhe dizer que o papai Noel nunca existiu, que não passa de uma convenção social, e que só o que precisa fazer para cair na real é levantar de sua cama entre as onze e meia-noite, que é quando o nosso pai deposita os doces furtivamente em sua meia (decorada á giz de cera e bastante glitter). Mas percebo que uma coisa dessas é cruel demais, especialmente quando se é véspera de natal e estamos falando de um garotinho de sete anos, por hora, melhor deixar essa pequena frustração de lado, por mais que a coisa só piore a cada ano que passa:

- Deve estar ali. – Aponto minha gaveta de cuecas, onde muito provavelmente larguei a meia. Ele vasculha por alguns segundos, a encontrando e erguendo em minha direção com um riso de satisfação estampado no rostinho bochechudo:

- Aqui! – diz, deixando o quarto às pressas e sem nem mesmo fechar a minha gaveta, em êxtase pela comilança de doces e porcarias estar salva. - Vou pedir para o papai pendurar...

- Seu pivete... – murmuro, fechando a gaveta de cuecas. Ouço passos no batente da porta e me viro, deparando com a figura da minha mãe, me olhando atentamente enquanto analisa o meu visual:

- Ainda acho um absurdo você estar abrindo mão de uma noite em família por um encontro... – brinca, embora eu possa ver que tem certo ressentimento em suas palavras, por mais que tente disfarçar. – Mas, esse moletom ficou tão bonito em você que é até perdoável.

Dou um risinho sem graça, meio envergonhado, mas já era de se esperar algum comentário do tipo, tendo em vista que é a primeira vez que uso esse moletom, presente dado por ela em meu último aniversário. Meu pai surge por trás dela no mesmo instante, já embalado pela alegria viral e contagiante de Natal:

- Desiste! – Exclama, jogando um dos braços sobre os ombros da minha mãe. – É hora de aceitar que o nosso garotão cresceu, e que aos 19 anos, nada mais importa além de um rabo de saia (mesmo que seja noite de natal e o frio lá fora esteja de rachar os dentes).

- Não fala assim! – ela o censura, dando uma tapinha em seu braço. – Me faz repensar o meu papel de mãe!

Reviro os olhos, impaciente e visivelmente envergonhado:

- Relaxa amor... – meu pai assegura, lhe dando um breve selinho. – Você é uma ótima mãe, e uma esposa melhor ainda.

Que ótimo, estou à beira de um encontro e os meus pais resolveram relembrar os tempos de colegial bem agora:

- Tá legal, agora eu tenho que ir! – digo, passando entre os dois, que acabaram formando uma espécie de "barreira intimidadora" bem na porta do meu quarto.

- Já sabe as regras do jogo, não é?! – meu pai indaga, e mesmo que para mim essa seja uma pergunta retórica, ele faz questão de salientar. – Não passe das uma, dirija com cuidado, nada de drogas, documento de identificação na carteira e nada de netinhos para mim.

Minha mãe sorri, ciente de que ele está sendo exagerado, e que tudo isso não tem outra finalidade senão me deixar sem graça. Apresso o passo, ansioso por terminar a sessão de tortura parental.

Passando pela sala, faço um último cafuné no cabelo do Guto antes de me despedir deles dois:

- Fiquem tranquilos... – asseguro. – Vocês são bons pais...

 – Vocês são bons pais

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As Quatro Badaladas do Sino de Natal (Romance LGBTQIA+)Where stories live. Discover now