| COMO SOBREVIVI AO INFERNO NATALÍCIO |

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Eu ODEIO o Natal, assim como DETESTO o Papai Noel e TOLERO a droga da neve

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Eu ODEIO o Natal, assim como DETESTO o Papai Noel e TOLERO a droga da neve. Em plena véspera, enclausurada o dia inteiro em meu limbo - vulgo quarto – isso é tudo o que as pessoas lá embaixo precisam saber.

Não é como se eu tivesse alguma perseguição injustificável contra o nascimento do menino jesus nem nada do tipo, é só que, se reunir em família num único dia do ano para trocar presentes e comer até se empanturrar não me parece algo tão convidativo. E ainda temos a neve – Ah, sim! A neve! – e todos os seus bonequinhos medíocres e transtornos que ela traz consigo.

Resumindo; o Natal é uma grande perda de tempo.

O rock em meu headphone toca num volume de surdez total, mas, nem mesmo isso me impede de ouvir os risos e a falação coletiva rolando na sala – o amigo secreto... – penso.

Não ouço ninguém se aproximar até que a Isis escancara a porta, adentrando na "caverna do dragão", nome que os meus pais deram carinhosamente ao meu recinto impenetrável.

Preciso tirar os fones para ouvir o que ela diz:

- Toma. – Diz, me entregando o pequeno embrulho que traz em mãos. – Esse é o seu, quem lhe tirou foi a tia Betina.

Nãooooooo.

- Que maravilha... – Balbucio, ambas sabemos o quanto a tia Betina é mão de vaca e sem criatividade para presentes em amigos secretos. – Vamos ver o que temos aqui.

Dou uma olhada no cartãozinho, ao qual diz: "Para Maya, que sua vida seja repleta de luz." E então rasgo a embalagem de listras vermelhas e brancas, revelando a escultura de um pequeno anjinho de prateleira, todo feito a cerâmica.

Minha prima dá um sorrisinho, possivelmente se lembrando que ela também deu um desses ao meu pai ano passado, a pessoa quem tirou no amigo secreto:

- Daqui a pouco não teremos mais espaço nesta casa para coloca-los. – Ironizo.

- Você poderia vender! – Ela diz entre risos. – é natal, quem sabe você não consegue uma graninha?

- Tenho quase certeza que vi um montão desses à venda na loja de suvenires da esquina! – digo por fim, ela o pega de minha mão, levando-o até a minha estante e encontrando um lugar para ele:

- Por falar nisso, minha mãe adorou o livro de receitas. – Comenta, enquanto mexe em minhas coisas, eu sequer saberia o que lhe dar de presente, por isso tive que pedir ajuda a Isis, lhe dando o dinheiro e encarregando de fazer o resto.

Ela pega a fotografia da Lexi em mãos, dando uma breve olhadinha antes de chamar a minha atenção:

- Não vai estar com ela? Bem no que se pode considerar "a pior noite anual da sua vida"?

Reviro os olhos, insatisfeita:

- Ainda é cedo, essa é a pior parte da coisa toda: a maldita espera!

Ela larga a foto em seu lugar, retornando para a cama e sentando ao meu lado. Isis sempre parece alternar as atenções entre mim e todos os pôsteres do Nirvana, The Beatles e AC/DC espalhados pelo quarto:

- Agradeça por isso, você tem um alguém com quem passar o Natal. Você acha que eu estaria aqui se tivesse um namorado?

Dou um risinho, ouvimos algum tio chamar por ela lá embaixo, e então ela se levanta:

- Eu não sei você. Mas eu, no seu lugar, me enfiaria num desses seus jeans surrados e iria agora mesmo para aquele café, e não como forma de admiração ou por não aguentar até que ele feche, mas para encorajá-la e mostrar que a ama. Eu jamais aceitaria trabalhar em plena véspera de Natal, por mais que estivesse precisando da grana!

Não chego a responde-la, mas, mesmo depois que a Isis deixa o quarto, não consigo deixar de lado as suas palavras. E a coisa só vai crescendo e crescendo dentro de mim, até que se torne uma ideia fixa e não anulável.

É isso.

Jogo os fones de lado, indo até o guarda roupas e pegando uma jaqueta legal. – Eu tomei banho antes, só pra constar! – então dou uma leve bagunçada no cabelo, deixando que ele caia sobre a minha testa. Dou uma breve olhada pela janela antes de sair do quarto, lá fora a neve caí, abundante e implacável, como se o mundo houvesse sido reduzido a um globo de neve, que alguém havia agitado antes de pôr novamente em seu lugar.

Passo pela sala voando, alguns estão se empanturrando na mesa, outros conversam enquanto bebem, a Isis tá fotografando seus pais perto da grande árvore e minha mãe ganhou um novo secador de cabelos no amigo secreto:

- Tô indo até a BearBucks. Não volto cedo. Boa noite!

Meu pai apenas assente, minha mãe fala alguma coisa sobre uma possível nevasca e tia Betina me pergunta se gostei do presente; não respondo nenhum deles.

...

Chego na estação central em menos de vinte e cinco minutos, é o único dia do ano em que se pode vê-la assim, completamente vazia – Tem até assentos vagos na plataforma! – me encaminho até um deles, esfregando as mãos nuas uma na outra para gerar algum calor (deveria mesmo ter colocado as luvas). A respiração condensa no ar enquanto aguardo o trem, a neve parece engrossar a cada minuto, é aí que um barulho rouba a minha atenção.

Ouço uma pequena cantoria e passos de pessoas vindo em minha direção, me viro, dando de cara com a figura de uma senhora, trajando uma fantasia de mamãe Noel, seguida por mais algumas pessoas, que se vestem como integrantes de um coral natalino:

- Você precisa nos ajudar meu garoto... – Diz, os olhos meio aflitos. Não é a primeira vez que algo do tipo me acontece, e já estou preparada para corrigi-la quando ela percebe o erro. – Ops! Me desculpe, eu realmente não fazia ideia de que...

- Sem problemas. – Asseguro. – O que você iria dizer?

Ela procura uma forma de começar a sua fala, e nesse instante percebo o que fazia tanto barulho: o grande saco de presentes que ela traz consigo.

- O nosso papai Noel ficou preso numa das estradas e não vai poder chegar a tempo, agora, precisamos de alguém que possa vestir a fantasia e entregar alguns presentes conosco. Eu não pediria isso, mas sabe como são as crianças, elas precisam da figura do Papai Noel, algumas preferem ele ao próprio presente!

Reviro os olhos, procurando uma forma leve de externar para ela o quanto acho tudo isso uma droga inútil, mas eu não consigo, por pior que a ideia possa parecer, não consigo arruinar a noites dessas pessoas. Então respiro fundo, assentindo com a cabeça:

- Tudo bem... o que eu preciso vestir?

 o que eu preciso vestir?

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As Quatro Badaladas do Sino de Natal (Romance LGBTQIA+)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora