— Tem um segundo andar. — Jin surgiu, recolhendo alguns pertences enquanto unia aos poucos suprimentos que encontrou bisbilhotando o ambiente.

As escadas produziam um som indesejado de assoalho envelhecido à medida que tentavamos subir degrau a degrau, embora o silêncio nunca permanecesse por muito tempo. O odor de traça e mofo era ardiloso, mas suportável diante de todos que sentira desde o início do apocalipse. No andar de cima, demos de cara com um corredor cheirando à naftalina e a insetos mortos, cuja madeira das paredes tinham uma espécie de musgo nojento, com somente duas portas: a primeira com uma placa branca feita de papel com a palavra escada quase apagada, o que proporcionaria uma segunda saída, se não fossem pelas tábuas mal pregadas. A outra dava em um escritório pequeno e conservado, composto por apenas uma mesa recheada de anotações desconexas e outras que não passavam de rabiscos, uma cadeira de plástico vagabunda e um armário enferrujado com produtos de limpeza.

— Podemos descansar — Namjoon disse e sentou-se ao lado da janela imunda escondida por um pedaço de pano rasgado.

— Indo direto ao ponto principal, quem ficará com o primeiro turno da guarda? — Jin colocou os suprimentos adquiridos na mesa e distribuiu igualmente.

— Diz que não sou eu. — Yoongi jogou-se no chão desajeitadamente, acomodando-se nas pernas do namorado.

— Por Deus! Você é um inútil mesmo — Hoseok murmurou, empurrando-o.

— Você deveria me defender — disse incrédulo, enquanto todos gargalhavam do semblante desengonçado e dramático do garoto.

— Trabalho com fatos, amorzinho — Hoseok ironizou, beijando a ponta do nariz do garoto.

— Pode deixar que eu fico. — Arrastei a única cadeira até o lado da porta e sentei-me. — Descansem.

— Tem certeza? — Jonghyun indagou. — Posso ficar se quiser.

— Você precisa descansar, meu amigo. — Entreguei-lhe uma garrafa de água mineral que acabara de pegar sobre a mesa.

— Eu faço companhia a ele. — Taehyung sorriu, aproximando-se.

— Não se preoc... — Antes que pudesse completar, meu irmão depositou um tapa em meu ombro. — Tudo bem, porra.

Não passou mais de uma hora até que todos estivessem deitados por todos os lados, uns dormindo profundamente, outros acordando com quaisquer ruídos que ecoavam pelas frestas calorentas. Em um pequeno papel preso em um dos pés da cadeira, visualizei palavras em letras cursivas, algumas rasuradas, porém, entendíveis. Estas queimaram em meus olhos marcados pela vermelhidão exaustiva: Para Durkheim, “A sociedade é superior ao indivíduo”; em uma perspectiva oposta, Weber compreendia que “Somente o indivíduo é capaz de realizar ações sociais”. Em um viés mais crítico, Tonnies afirmava: “Se na comunidade os homens permaneciam unidos, apesar de todas as distinções, na sociedade permaneceriam separados não obstante todas as uniões”. Será que algum desses pensadores cogitaria fantasiar um mundo preenchido pela morte antes de jogarem suas ideias de sociedade para que pudéssemos estudar? Ou até mesmo que talvez o que, naquela época, chamavam de lar, poderia ser consumido pela morte de maneira tão drástica?

— Jungkook. — Meu irmão apoiou-se em minha perna. Sua voz manhosa evidenciava seu subconsciente martelando sobre o que fora visto mais cedo. — Acha que ele nos abandonou de propósito? — Taehyung tentou batalhar contra as pequenas lágrimas que se forçavam a umedecer as maçãs de seu rosto. — Ele não seria capaz, não é?

— Não sei, maninho. — Levei as mãos aos seus fios, ajeitando-os. — Mas prometo descobrir, hm? — Fixei meus olhos nos seus. — Volte a descansar.

Alvorecer Mortal  »  JK + JMWhere stories live. Discover now