— Onde viemos parar? — Taehyung indagou, com as mãos sobre as janelas. Seus olhos estavam entristecidos. — Há pouco estávamos de frente a uma loja de roupa.

Meu irmão sempre discordou com qualquer tipologia que fosse referente à violência, especificamente a tortura. Ele, inclusive, tentou por algum longo período tornar-se vegetariano, o que não pôde acontecer por uma deficiência excessiva de proteínas específicas, mas deixou de usar o máximo de produtos que pudera. Quando Taehyung reconhecia que o mundo era coberto por pessoas macabras, culpava-se dizendo poder fazer algo para proteger o próximo, mesmo que fosse impossível em muitas situações. E aquela era uma delas. Toquei seus ombros, apertando-os. Taehyung sabia, pelo meu rosto, que eram circunstâncias que sequer poderia buscar solução, e, se houvesse, seria impossível e totalmente fora de seu alcance.

— Também gostaria de saber. — Suspirei pesadamente. Tudo aquilo apenas mostrava que meu pensamento sobre a humanidade estava correto. Não importava as ocasiões, a ganância era perpétua, mesmo se atentasse contra a vida de um ser vivo. — Todos atrás de mim. Em silêncio! — Salientei em um sussurro enquanto erguia a lâmina e seguia em frente.

O mais ligeiro e calado possível, caminhamos por entre as sombras que se uniam ao odor que batalhava com a falta de respiração para evitá-lo, em direção à saída que nos levava a uma rua transversal que mais parecia um labirinto, mas era nossa única real saída. Devido ao choque da batida anteriormente, meu corpo estava sobrecarregado o bastante para que sentisse como se cinquenta toneladas estivessem penduradas sobre os ombros, afundando-me oceano abaixo. Jimin cobria a retaguarda junto a Namjoon, em compensação, Junmyeon e Hoseok faziam a contenção nas laterais. Estávamos em um perfeito círculo em prol da proteção imediata de Jonghyun, o qual ainda necessitava caminhar devagar mediante suas complicações, sendo auxiliado por Jin. Yoongi e Taehyung carregavam o pouco dos mantimentos que conseguimos reaver da Ferrari que fora deixada para trás. Chegamos ao fim da ruela estranhamente familiar para mim, desde as pichações sexualizadas e patriarcais até os pontos de ônibus cobertos por folhetos de encontros para a semana geek, mas o que me chamara real atenção fora uma pequena porta dourada, dando acesso a uma loja de mesmo tons, mesclados a um rosa chiclete que fazia jus aos requintados artefatos que vendia. Larah’z Candy era o nome, uma filial pequena, mas significativa durante minha infância. Estávamos prestes a entrar em uma esquina que nos levaria a um beco deserto, evitando ao máximo os cadáveres cambaleando do lado oposto, quando Yoongi pisoteou acidentalmente o crânio de uma senhora que se arrastava pela calçada.

— Silêncio, porra! — sussurrei, dando a ele um olhar raivoso quando percebi a proporção avassaladora que o eco seco causou.

— Desculpa. Caralho! — respondeu, claramente frustrado pelo seu erro.

É óbvio que vocês ouviram. Os gemidos irregulares e as mandíbulas estridentes se modificaram para a direção, como se essa fosse a sua verdadeira trajetória desde o início. Não há momentos de paz no apocalipse como mostram os filmes.

— Vamos voltar para a loja — Taehyung sugeriu em um tom estridente. — Provavelmente aquele lugar tem alguma porta de fácil acesso ao segundo andar.

— Não temos tempo para essa possibilidade — disse, conferindo alguns mortos que materializavam atrás de nós. — Aliás, é tarde demais. Com certeza o local já foi banhado pelo mar morto como um tsunami.

— Então o que tem em mente? — Namjoon perguntou.

— Com que velocidade vocês acham que podem correr enquanto ajudam o Jonghyun?

Alvorecer Mortal  »  JK + JMWhere stories live. Discover now