— Aqui? Eles estão lutando aqui?

O arqueiro sorriu, levantou o olhar às copas das árvores e respondeu:

— Lutando, não. Agora, eu diria que estão brincando.

— Eu ficaria ofendido, mas não posso negar que essa é a parte mais divertida da nossa rotina.

Ara se sobressaltou, o elfo que falava estava poucos passos de distância, bem em sua frente. Tinha surgido de súbito e ela sequer tinha notado que se aproximava.

Seu nome era Sgàil, um mestre em misturar-se com a floresta e passar despercebido. Vestia o uniforme de treinamento dos guerreiros, mas tinha um lenço verde preso ao cinto.

— Então esta aqui é a famosa Ara? — Sgàil disse, estendendo a mão para a elfa.

— Famosa? — ela murmurou, cumprimentando o guerreiro que a observava com um ar de curiosidade.

— Eu achei que você seria mais alta.

Ara fez uma careta. Anluath tinha o péssima hábito de fazer piada com sua altura, odiaria que se tornasse recorrente com ainda mais elfos.

— Você sabe quem eu sou? — ela perguntou, ainda confusa.

Anluath revirou os olhos, e deu uma cotovelada leve em seu companheiro.

— Eu não devia ter comentado nada, não é? — Sgàil falou, coçando a cabeça.

O arqueiro balançou a cabeça em negativa, explicou para sua aluna:

— O Maighstir pode não comentar nada durante seu treino, mas ele fala conosco. Você não deveria saber dos comentários do mestre, ele não quer que seus alunos fiquem orgulhosos. É fácil se tornar arrogante.

A elfa tentou mais uma vez segurar um sorriso, e disse para si mesma que aquilo nada significava. Se deixasse que aquelas palavras a enchessem de soberba, o Maighstir ficaria decepcionado.

— Teria sido muito pior se eu deixasse escapar algum elogio sobre Blath perto do garoto, aquele ali já acredita demais em si mesmo.

Ara riu, sabia o quanto isso era verdade. Conhecia Blath desde muito pequena, e lembrava-se do elfo se vangloriando de como seria um excelente guerreiro anos antes de começar seu treinamento. Ele sempre tivera certeza de seu sucesso.

— Sgàil, chega de elogiar minha aluna, e explica logo o que estão fazendo aqui.

O elfo curvou um pouco o corpo, para olhar Ara nos olhos.

— Quantos elfos você acha que estão por aqui, próximos de nós? — Sgáil perguntou.

— Fora nós três? — ela olhou ao redor outra vez, procurando algum sinal dos outros. Não encontrou nenhum, mas sabia que esta não era a resposta. Decidiu adivinhar — Vinte?

Os outros dois pareceram se divertir com a tentativa, obviamente um chute.

— Você consegue mostrar onde está qualquer um deles? — Anluath perguntou.

Ara apenas negou com a cabeça, não tinha ideia. Olhava para as copas das árvores e via apenas as folhas se balançando com o vento.

— Trinta e quatro elfos estão ao nosso redor neste momento. — Sgàil explicou. — Todos escondidos por entre a folhagem, não necessariamente lá em cima. Nosso objetivo aqui é encontrar outro guerreiro e furtar o lenço amarrado em sua cintura, sem ser notado. Se eu me aproximo de Anluath, mas ele me vê, devo entregar-lhe meu lenço. Se ele não reparar em mim, pego o lenço e vou atrás de outro guerreiro. Quem perder, sai do jogo. Quem tiver mais lenços no final, ganha.

Livro 1 - A Elfa, O Homem e a Ordem [completo]Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora