Enquanto Nam se encarregava de cuidar do rapaz que, embora por pouquíssimos instantes, acordou há uma hora, ainda cercado pelos delírios, Yoongi e eu circulávamos por entre os arredores. Para nossa surpresa, ela possuía um longo corredor que conectava uma simples loja de conveniência a uma sequência de depósitos, uns fechados, outros com frestas que estavam prestes a se abrir.
O lugar era seguro e bem conservado, o chão de cimento estava bem varrido e algumas prateleiras bem organizadas, essas que possuíam condimentos vencidos e caixinhas cujos nomes estavam presentes em um pedaço de papel colocados em silver tape.— Ei. — Yoongi pontuou as marcas de pneu que ainda fediam a borracha queimada e indicavam um fim em uma das portas metálicas entreabertas. — Quer checar?
O garoto mais do que nunca sabia minha resposta para tal pergunta. Ergui a faca há pouco devolvida por Namjoon junto a uma lanterna minúscula, e fiz um sinal apontando o dedo indicador para porta e para cima depois, sinalizando para que ele abrisse.
O som seco do metal enferrujado pontuou-se quando a porta atingiu seu pico e se prendeu automaticamente no gancho no teto corroído pelo acúmulo de gotículas de chuva devido ao espaço aberto, sem uma claraboia de qualidade o mais razoável possível.
Um morto-vivo bateu as mandíbulas do outro lado do depósito, um homem gordo de cinquenta e poucos anos mostrou os dentes amarelados enquanto caminhava lentamente em nossa direção, similar a uma lesma. Minha faca atingiu o desalmado que desabou, emitindo um ecoar desastroso considerando o peso que carregava em uma mochila presa a suas costas. Provavelmente, aquela fora a forma mais segura de manter-se vivo. Tolo, pensei fitando o morto encharcar o chão com sua massa encefálica cheirando a algo como um alimento fora da validade há semanas, quiçá anos. De onde estava, examinei o que parecia ser a lanterna de um veículo estacionado e coberto por uma lona fina, mas, grossa o suficiente para que a poeira não se acumulasse na lataria bem lustrada.— Puta que pariu. — Yoongi, de pé no cimento frio, chocou-se com a belezinha preta estacionada bem no meio do ambiente.
Sem contar duas vezes, o garoto correu para chamar Namjoon como se tivesse acabado de receber um prêmio, o que naquele momento, realmente poderia ser um.Retirei completamente as lonas. Era um Ford Maverick V8 em excelente estado, este que brilhava em contato com os fios solares que conseguiam penetrar o local mal iluminado por algo que parecia um lampião, o que me fez perguntar: por quanto tempo aquele homem permaneceu vivo? Observei o espelhado bem ilustrado, arrastando os dedos pela lataria fria. Um sorrir animalesco no canto direito de meus lábios poderia ser visto ou percebido em um raio de dez metros.
— Por Deus, Jungkook! — Papai cruzou os braços, notoriamente irritado com os repetidos pedidos. — Se continuar enchendo minha paciência, não darei nada. — Engoliu um pouco do líquido preto.— Então isso significa que eu ganharei mesmo um Maverick? — Dei um salto, como se aquilo fosse a melhor coisa do mundo e, para mim, realmente era.
De longe, aquele era o modelo de automóvel que mais me atraiu em toda a minha vida, consequência das revistas automobilísticas que era obrigado a folhear durante os quarenta minutos até ser atendido pelo doutor Echo, meu dentista.
— Talvez. — Papai revirou os olhos, embora escondesse um sorriso misterioso, o que me deixou com uma pulga atrás da orelha por meses.
— E quanto a mim? — Taehyung berrou, enquanto mantinha os olhos fixos em seu filme favorito: Sociedade dos poetas mortos, um longa-metragem que foi lançado no ano de 1990. Meu irmão não perdia a oportunidade de repetir uma dose do drama que parecia repor todas as suas energias, como uma pessoa revigorada após um demorado banho aquecido depois de um dia exaustivo.
ESTÁ A LER
Alvorecer Mortal » JK + JM
Mystery / Thriller[Ebook disponível na Amazon] Jeon Jungkook jamais imaginou, nem nos sonhos mais loucos, acordar no cenário pós-apocalíptico do qual sempre foi fã. Entretanto, seu mundo virou de ponta cabeça quando ele e seu irmão foram obrigados a aprender como sob...