— Você mesmo disse que queria apenas ser a pessoa especial do meu carona. — Gargalhei, sabendo que o garoto de fios, naquela época, azulados fizera uma feição desaprovando, mesmo que assinasse o verídico em minhas palavras.

— Talvez aquele fosse o antigo dono? — Namjoon arriscou, e tocou-me nos ombros e, por conseguinte, pisquei repetidas vezes para concentrar-me no presente conturbado.

— Eu quero é que ele se foda — Yoongi disse, sorrindo satisfeito pelo automóvel. — Papai Noel veio mais cedo este ano. — Abraçou o capô preto e observou seu reflexo mal feito na lataria.

— Não está muito velho para isso? — Namjoon voltou a indagar, fitando o descontentamento que recheou o rosto do menor de vermelhidão.

— Espero que esse presente não venha com um brinde que não podemos escolher — disse, jogando a lanterna sobre o vidro fumê das janelas.

Bati com a ponta do coturno nas rodas de tamanhos proporcionais ao veículo, que estava adaptado para a imensidão do mar-morto que poderia atingi-lo. Talvez aquele homem estivesse se preparando para enfim se despedir da loja de conveniência que pareceu um plano bom, mas o tiro saiu pela culatra. Os para-choques foram feitos sob medida com anexos de ferros pontiagudos soldados a eles, as rodas cromadas reluziam diante o facho de luz da lanterna. Ao meu ver, as janelas foram reforçadas com uma espécie de fibra de vidro. Aquele era o tipo ideal de automóvel para a gravação de uma das mil continuações do filme velozes e furiosos.

— Você sempre estragando a felicidade alheia. — Yoongi revirou os olhos.

— É minha especialidade. — Esbocei um sorriso leve.

Abri a porta, preparado para uma investida rápida cujo objetivo é abater um futuro cadáver, mas a lâmina alegrou-se com o interior vazio e abstergido. Do lado de dentro, as janelas tinham acabamentos com ferros pneumáticos finos, fincados de uma ponta a outra, aprimorando as condições para algo visivelmente voltado para uma presumível quebra dos vidros laterais. E bancos de couro marrom completavam a estética descolada. Observei a adequação do painel com pequenas telas cujo nome identificava ser para o uso exclusivo de comunicação e busca por informações via satélite.

O que será que esse homem era antes dessa porra? Fitei o termômetro digital preso ao teto e um mapeamento desenhando em uma conexão de quatro folhas A4 coladas ao lado objeto anterior. Qual o significado disso? Pausei o dedo em uma diminuta circunferência verde que indicava determinada região.

— Aposto um dólar que as chaves estão em um dos bolsos do nosso amiguinho — Namjoon disse, apoiando-se no veículo.

— Dinheiro não está valendo nem a língua do Yoongi — afirmei, com toda a certeza que me restava. — Aposto uma garrafa de Jack Daniels. — Um sorriso firme e contemplador aflorou no canto dos lábios do loiro.

— Primeiramente, vai se foder. — Yoongi revirou os olhos. — Segundo, toda essa situação... — Fez um círculo com o dedo indicador, deixando claro que todos fazíamos parte dela. — Deixa claro que, perto de vocês, eu sou um anjo. — Sorriu, satisfeito. — Felizmente sou puro e não bebo.

— Não beber álcool não o torna “puro”. — Aspou a última palavra, debochadamente. — Sua maior embriaguez é trazida pelo leite produzido exclusivamente pelo Hoseok — Namjoon finalizou e piscou para o garoto que parecia pisar em ovos diante o olhar incrédulo.
   Sem sequer tentar segurar, meu gargalhar saiu animalesco.

Alvorecer Mortal  »  JK + JMWhere stories live. Discover now