Et viginti quattuor

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Há quanto tempo, hum? Eu tava morrendo de saudade de vocês. Perdoem-me por tamanha demora mas a vida de dona de casa tá me
consumindo.

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A euforia tomava conta do corpo de Camila enquanto um sorriso de orelha a orelha rasgava, sem cautela qualquer, sua face. Pela primeira vez em séculos não estava com medo de sorrir ou de sentir a magnitude de tamanha emoção. Pela primeira vez em séculos sentia que podia ser feliz de verdade.

Obviamente não havia se passado pela mente da arquiteta que aquela penúltima tentativa daria tão certo. Camila não poderia imaginar que, seu canto tão enferrujado, ainda pudesse servir para algo extremamente significativo.

Cantara de coração.

Foi como se suas cordas vocais estivessem interligadas diretamente ao seu velho amigo que batia de maneira descompassada dentro do peito. O repetido compasso tornou-se a melodia que emanou piamente daquela mulher. Fora uma experiência de emoção e apreensão.

Não era mentira que Camila esperava receber um balde de água fria em sua cabeça ou coisa pior, considerando às circunstâncias, mas agora agradecia com força por receber uma resposta positiva e um convite inesperado. Bendito fosse aquele coral.

A arquiteta agradeceu com fervor ao conjunto musical e despediu-se de cada um com um abraço apertado. Ela pegou um embrulho que uma das mulheres segurava e ouviu vários desejos de "boa sorte". Camila agradeceu mais uma vez antes de direcionar-se a entrada do prédio. Adentrou e jogou um beijo para o senhor da portaria, seguindo para o elevador, extremamente nervosa.

Há quanto tempo não sentia-se tão fora de controle assim? Não lembrava-se nem quando fora a última vez que sentiu tamanho nervosismo, e agora seu corpo tremia como um liquidificador em máxima velocidade, seu estômago estava tão frio quanto o gelo que cobria toda Amsterdam e mesmo assim suas mãos suavam como se estivesse passeando pelo Saara. Como Lauren conseguia fazê-la passar por tantas emoções diferentes com um único sorriso? Era mesmo uma pergunta retórica.

A arquiteta tratava de checar sua aparência no espelho do cubículo metálico enquanto tentava deixar de lado o seu pequeno colapso nervoso. Endireitou o cachecol, retirou as luvas de suas mãos e as colocou no bolso de seu sobretudo, ajeitou o cabelo por fim. O elevador avisou quando chegara no andar da Tournant e ela respirou fundo antes de sair e ir em direção ao apartamento que já estava com a porta entreaberta. Aproximou-se sorrateiramente antes de bater e aplicar seu rosto pela fresta.

― Com licença. Será que eu poderia...

― Titia Camiiiiiiiii! ― Esmerald parou tudo o que estava fazendo e correu para os braços de Camila que abaixou-se para abraçá-la bem apertado. A criança começou a beijar as bochechas da arquiteta. Sua empolgação chamou a atenção das quatro mulheres que estavam por lá. ― Tava com muita, muita, muita saudade! Poxa vida! Feliz Natal!

― Estava morrendo de saudades sua, pequenina. Está maravilhosa vestida de mamãe Noel. ― Aplicou um leve beijo no nariz de Esmerald e sorriu quando a viu franzir o mesmo. ― Feliz Natal, meu amor!

― Vejam se não é a arquiteta mais bunduda de toda Amsterdam. ― A babá direcionou-se de braços abertos até Camila e a segurou apertado. ― Te falei que dessa vez ia dar certo. ― Sussurrou no ouvido da mulher para depois aplicar um beijo em sua bochecha. ― Eu e Allyson não erramos.

― Bom vê-la novamente, Dinah. ― Camila disfarçou e seguiu para a Jauregui mais velha. ― Espero que queira me abraçar também.

― E por qual motivo não iria querer? É sempre um grande prazer, minha querida! Pode pendurar o seu casaco ali. ― Lily apontou para o cabideiro. A arquiteta retirou o seu casaco e o pendurou, a Jauregui a beijou o rosto três vezes. ― Eu quis matar você, ah, você nem pode imaginar como eu quis! Mas ficou para trás. É Natal!!

Sign of the timesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora