Quadraginta duo

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Sem notas hoje porque vocês não têm paciência com a minha vida e meus problemas.

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Há uma beleza indescritível na fragilidade da vida. Viver é como uma lembrança constante da nossa própria mortalidade, um lembrete de que cada momento é precioso e fugaz. Uma visita à existência, a inconstância da certeza e a certeza da inconstância. Viver só é bonito pra quem sabe, e morrer só é bom pra quem soube viver. Era aquela pequena convicção que acalmava o coração da americana, pois Michael, seu pai, soube viver da forma mais bonita possível.

Mas, por outro lado, Lauren não ainda não havia encontrado sossego e pelo visto, não iria encontrar tão cedo. Se já não bastasse toda a tristeza e luto que sua família estava enfrentando naquele instante, agora existia a luta burocrática para conseguir a autorização para que pudessem enterrar seu pai em solo europeu. Com todos os eventos das últimas horas, sua mãe se negava a deixar o hospital com medo que algo acontecesse a sua primogênita e Camila, como boa e preocupada nora, havia se prontificado de fazer companhia e ser o apoio de sua sogra enquanto Lauren, com a ajuda de Alycia, tentava resolver a documentação com o consulado.

A Tournant e a advogada estavam no centro de Amsterdã já próximo ao consulado americano. A estrutura de pedra amarronzada erguia-se imponente em meio ao cenário urbano da cidade, algumas de suas janelas de vidro refletiam os raios de sol que tentavam penetrar através das nuvens cinzentas. As torres pontiagudas se erguiam em direção ao céu, lembrando a estrutura de um antigo castelo medieval. Ao entrarem no saguão principal, ficaram impressionadas com a grandiosidade do interior. As paredes de pedra sólida exibiam tapeçarias antigas e escudos de armas, evocando uma aura de nobreza e história. Lustres de cristal pendiam do teto abobadado, lançando uma luz suave sobre os visitantes que passavam. A recepção estava localizada em uma área espaçosa e arejada, com um balcão de mármore polido que se estendia por toda a extensão da parede. Uma bandeira americana tremulava elegantemente em um mastro dourado ao lado da mesa da recepcionista, enquanto retratos de presidentes americanos adornavam as paredes ao redor. Por um instante, um mísero instante de surpresa e admiração, Lauren esqueceu do motivo de estar ali. As duas foram dirigindo-se à recepção e uma secretária de meia-idade olhou para elas com uma expressão séria por trás de óculos de aro dourado. Ela estava sentada atrás do balcão, com mais uma bandeira americana ao fundo e uma tela de computador na frente.

― Bom dia, senhoritas. Como posso ajudá-las?

― Bom dia. Precisamos falar sobre o funeral do pai dela. Ele era cidadão americano e faleceu aqui. A família quer enterrá-lo nesse solo.

A secretária assentiu compreensivamente e desejou seus sentimentos para Lauren, indicando em seguida, para que elas a seguissem até uma sala de reuniões reservada para casos como esse. Chegando à sala de reuniões, Alycia e Lauren foram recebidas por um funcionário do consulado, cujo semblante solene refletia a gravidade da situação. A sala estava decorada de forma sóbria, com móveis de madeira escura e tapetes persas que cobriam o chão polido. O funcionário do consulado era um homem, também, de meia-idade, com cabelos grisalhos cuidadosamente penteados para trás. Seu rosto estava marcado por linhas de expressão que testemunhavam anos de serviço dedicado ao seu trabalho, mas seus olhos transmitiam uma gentileza e compaixão genuínas. Havia uma serenidade em seu semblante que inspirava confiança e tranquilidade em meio à turbulência emocional que Lauren estava enfrentando. Sua postura era ereta e confiante, refletindo uma aura de autoridade e profissionalismo. Vestia um terno preto impecável, adornado com uma gravata de seda azul-marinho que contrastava elegantemente com sua camisa branca de linho.

― Meus sentimentos pela perda de seu pai, senhorita Lauren. Posso ajudá-las com os procedimentos necessários para o funeral?

― Por favor ― respondeu a americana, com os olhos cheios de lágrimas.

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