- Muito. David ficou entre a vida e a morte. Na verdade, ele ainda corre risco de vida. – respondo com pesar, pois não gosto de ficar falando disso.

- Ainda corre risco? Por que esse garoto não morreu de uma vez? – meu pai indaga irritado e eu fico abismada de como ele consegue falar esse tipo de coisa. Como um pai ao receber a notícia de que seu filho sofreu um acidente deseja que ele morra ao invés de ficar desesperado ou ao menos preocupado?

- Você não pode estar falando sério. – comento indignada.

- É claro que eu estou. Quando eu finalmente tenho a chance de me livrar do peso que é essa desgraça na minha vida, ele ainda sobrevive? Vaso ruim não quebra mesmo. – ele menciona frustrado do outro lado da linha e eu rio de nervoso com o que eu acabei de ouvir. Não é possível que um pai realmente pense isso sobre o próprio filho, não pode ser.

- De qualquer forma, eu preciso que o senhor assine uns papéis aqui no hospital, eles precisam da assinatura de um responsável maior de idade. – informo, tentando ignorar o seu comentário anterior.

- Querida, acha mesmo que eu vou perder meu tempo atrás disso? Mas de jeito nenhum. Deixe-o aí para morrer. Vai me poupar uma vida inteira de desgosto. – ele diz com a maior naturalidade do mundo, como se não estivesse sendo absolutamente desumano.

- Mas pai...

- Lis, não me incomode mais com esse assunto, ok? Eu não quero saber. – ele avisa e desliga na minha cara em seguida, sem permitir que eu diga mais nada.

Fico estática com o celular na mão, ainda digerindo os absurdos que acabei de ouvir do meu pai. É claro que eu sempre soube que meu pai e David não se dão bem, eu vejo isso todos os dias, mas chegar ao ponto dele não se importar nem um pouco quando o filho está à beira da morte e literalmente dizer para "deixa-lo morrer" é de uma baixeza e barbaridade sem tamanho. Odeio ter que admitir, mas sinto um pouco do amor que sinto pelo meu pai desvanecer. Eu ainda o amo por ser o meu pai, mas o amor pela admiração que eu tinha nele como pessoa acabou de morrer. Não tem como amar alguém que seja tão tirano com alguém do seu próprio sangue, alguém que nunca lhe fez nenhum mal.

- E então, como foi? – Liam pergunta, me tirando do estado paralítico de choque por ainda não aceitar que palavras tão cruéis foram ditas de um pai sobre um filho.

- Péssimo, meu pai não se importa, me disse para deixar o David morrer. – respondo sem acreditar que estou repetindo essas palavras.

- O quê? – Liam se indigna também como qualquer pessoa normal ficaria. – Só pode ser brincadeira.

- Eu queria que fosse. – uma lágrima escapa do meu olho direito. – O David não tem ninguém além de mim. Somos só nós dois. – sempre foi, penso. E mais uma lágrima escorre.

- É claro que ele tem. – meu namorado contesta. – Ele tem a mim, tem à Ravena, tem à Jasmine, tem aos amigos de Boston. Todos nós nos importamos com ele.

- Você tem razão. – concordo, enxugando minhas lágrimas. – Eu vou avisar os amigos dele de Boston, tenho certeza de que David gostaria da visita deles. – Liam faz um sinal com a cabeça para mostrar que concorda. – Pode contar para a Ravena? Ela é sua irmã, e eu...

- Tudo bem. – ele me interrompe. – Eu falo para ela. A Ravena vai ficar arrasada para dizer o mínimo. – sua expressão fica ainda mais chateada ao pensar nisso.

- Vai mesmo. – tento segurar as novas lágrimas que se formaram sob os meus olhos. – Agora pode me dar um momento a sós com o meu irmão? Preciso ficar sozinha.

- Claro, meu amor, claro. Me chame se precisar. – Liam dá um beijo no topo da minha cabeça e sai da sala em seguida.

Pego na mão fria de David, observo seu corpo imóvel todo arrebentado e enfaixado e respiro fundo.

Crumble to Ashes | Phoenix Love #2Onde histórias criam vida. Descubra agora