— O que se passa? — quis saber, mesmo que, no fundo ele já soubesse.

— Quero ir embora — digo em voz alta.

— E para onde?

— Não sei, Theron. Qualquer lugar serve. O mundo é grande — perdi a paciência. — Posso ir para qualquer lugar e foda-se o resto.

Ele e a seu irmã trocaram olhares antes dele suspirar.

— Mas aí você estará sozinha. E se ele a encontrar?

— E se ele não me encontrar? — rebati.

— Mas não valeria a pena. Você ainda estaria vivendo com medo.

— Não me importa. Só quero sair daqui — argumentei, irredutível.

— Falyn… — tentou me repreender.

— Porque nenhum de vocês entende que não posso ficar mais um segundo aqui? — exigi, porque esse é um assunto que nem devia estar a ser discutido.

— Eu entendo e estou procurando um lugar seguro para você ficar até resolver as coisas com o meu pai — o encarei com a sobrancelhas franzidas, pronta para o cortar, mas ele adicionou. — Não estou dizendo que o lugar que eu encontrar seja para você ficar para sempre. Será temporário. Depois de eu fazer aquilo que planejamos pode ir embora para sempre porque sei que depois de tudo disso não irá querer ver nossos rostos nunca mais.

— Procura depressa — cedi, mesmo que o meu coração esteja pesando e ainda esteja inconformada.

— Obrigado por confiar em mim.

— E que escolha tenho? — ergui as sobrancelhas.

A expressão no rosto dele morreu e senti-me culpada.

— Desculpa — pedi antes que ele fosse embora. — Eu sei que, apesar de tudo, você está tentando me proteger.

Ele só me mostrou um sorriso fraco e foi embora.

— Você entende mesmo? — Greta finalmente reagiu, depois de vários minutos em silêncio.

— Sim — expirei com dificuldade. — Sei que vocês dois não são como ele e querem o meu bem — falei a verdade.

— Você vai mesmo embora depois de tudo isso? — questionou, de forma tímida. — Para sempre?

Fiquei em silêncio, sem saber o que responder. Eu iria mesmo embora? Não sei, mas ao invés de dar essa resposta voltei a me deitar ao seu lado na cama.

— Não.

Ela ignorou o quão insegura a minha resposta soou e abriu um sorriso.

— Você sabe que é minha única amiga — disse. — De verdade.

— Agora sei.

— Estou com fome — mudou de assunto. — Irei mandar uma mensagem para Jade e pedir para ela trazer a comida. Estou a morrer de fome. Você não?

Balancei a cabeça negativamente.

— Mesmo assim, irei pedir para ela trazer qualquer coisa para você. Lamento, mas terá que comer a força.

Revirei os olhos.

— Então, porque perguntou?

— Por educação. O meu irmão me ensinou a ser uma pessoa educada — respondeu, orgulhosa da sua suposta educação.

Ela continuou a fazer o seu trabalho de casa me incluindo na maior parte das vezes na sua atividade. Aproveitando o meu conhecimento para resolver vários exercícios para ela, mas como isso me deixa com a mente ocupada resolvi continuar e também porque não aguentava ver ela quase quebrar a cabeça por contas tão simples.

— Me sinto tão burra — choramingou, de forma dramática. — Obrigada por me ajudar.

— De nada.

— Você devia ser professora — sugeriu. — O que acha?

— Nunca pensei nisso — fui sincera.

— Então, pense — piscou o olho para mim.

— Finalmente — Greta disse, animada quando Jade apareceu e se levantou para ir pegar. Ela se sentou na beira da cama e pegou um copo de suco, parecia de uva.

— Não! — Jade gritou, de repente, nos assustando.

— Por Deus, o que foi? Está se sentindo mal? — Greta perguntou, preocupada.

Ela abriu um sorriso. Parece nervosa.

— Não é isso — respondeu, pegando o copo e o entregando a mim. — É que coloquei esse suco para Falyn. Ela gosta de suco de uva, não é?

— Mas os dois têm o mesmo sabor — digo o óbvio, tomando um gole com ela acompanhando todo o meu movimento. — Mas mesmo assim, obrigada.

A expressão dela vacilou.

— É, de nada.

— Você está estranha — estreitei os olhos na direção dela.

— Não — suspirou. — É que eu marquei esse copo como seu mentalmente. É uma coisa só minha. Deixa para lá.

— Mas não precisava gritar daquele jeito como se estivesse desesperada.

Jade soltou um riso baixo, envergonhada.

— É só um hábito dela, Greta. Acontece — sorri para a mulher a minha frente que desviou o olhar do meu.

Jade ficou conosco no quarto até Greta terminar de comer e eu terminar o suco de uva. Quando ela carregou a bandeja e se levantou pronta para ir embora também me levantei, mas a minha visão ficou embaçada de repente. Franzi as sobrancelhas e de forma involuntária me voltei a sentar.

— Está tudo bem, Falyn? — Jade perguntou, quando me viu ainda sentada.

— Estou cansada — murmurei, sentindo os meus olhos pesarem.

— Você está com cara de quem vai vomitar — Greta tocou na minha testa. — Febre não é — concluiu.

— Você estava bem até trinta segundos atrás — a mais velha disse, preocupada.

— Não — Greta negou. — Ela estava mal desde cedo. Eu disse para irmos ao médico e ela recusou. Olha só como está agora? E se for uma doença grave? Talvez seja incurável.

— Não exagere — consegui murmurar. Nunca senti nada assim antes. Parece que a minha cabeça é feita de chumbo e os meus olhos estão pesando muito, mas não quero dormir.

O que está acontecendo?




NeutroWhere stories live. Discover now