Depois de nos acomodamos  em sua cama e ela ler-me a sinopse do livro — que agora é filme — fiquei bastante interessada. Se chama Harlan Está Morrendo. Sobre um garoto bom e educado que sofre um terrível acidente e toda sua vida muda. Quer dizer, a sociedade o mudou o tratando de um jeito um pouco bruto, mas não foi isso que deixou-me com a mente a mil.

O filme abriu a minha mente e deu-me uma ideia. Uma ideia que pode acabar com tudo isso. Com o Sr. Robert para ser exata. Só precisava de saber de mais algumas coisas.

— Me empresta o seu celular? — pedi a Greta, em algum momento do filme. Ela está tão concentrada que não estranhou o meu pedido nem nada. Apenas tirou o celular do bolso, desbloqueou e me entregou.

Enquanto ela se encontra perdida no filme eu estou nas minhas investigações. Eu acredito que é uma ótima ideia, mas um pouco complicada. Porém, não é algo que vá ser difícil de resolver. Pelo menos para Theron, eu acho.

— Posso mandar uma mensagem para o seu irmão? — questiono.

Agora ela se concentra em mim.

— O quê? — franzi as sobrancelhas, como se não tivesse escutado direito.

— Posso mandar uma mensagem para o seu irmão? — repito.

— Claro — respondeu lentamente, confusa. — Não tem problema.

E voltou o olhar o laptop. Aliviada por ela não ter feito muitas perguntas — apesar de saber que poderia responder a todas sendo que não são nada de mais — fui para os contactos. Pesquisei o nome de Theron e ele apareceu rodeado de vários corações. Eles se amam mesmo. Fico feliz que tenham um ao outro.

Greta: pode chegar cedo em casa hoje?

Surpreendendo-me a resposta chegou no segundo a seguir.

Theron: chegar cedo porquê? Aconteceu algo?

Ri levemente e balancei a cabeça em negação, achando graça a preocupação dele com a irmã.

Greta: não, não aconteceu. Só preciso conversar com você. Falyn.

Decidi colocar o meu nome para suavizar a preocupação dele, mas penso que agora ele esteja transbordando de tanta confusão.

Theron: Falyn?

Sorri, enquanto dígito.

Greta: sim, eu.

Greta: e não demora. É uma coisa importante.

Bloqueei a tela do celular quando um ok apareceu como resposta. Preciso que ele volte cedo, sem o seu pai, porque só assim me sentirei livre para falar. Sem ter medo de ele estar a escutar ou algo do tipo.

— O que quer com ele? — a garota ao meu lado perguntou.

— Nada de importante.

— Mentirosa — sibilou, brincando, mas não insistiu.

(…)

Não sei porque se passou tanto tempo sem eu entrar na biblioteca que tem nessa casa. Se eu soubesse que ela é tão linda e agradável teria passado todo o meu tempo livre aqui e não naquele quarto.

Estou tão extasiada que penso que já se passaram pelo menos trinta minutos com eu abrindo livros, ler uma ou duas páginas, fechar e procurar outro. Preciso controlar as minhas emoções. Porque se continuar assim o dia irá acabar sem eu ainda ter decidido qual livro ler.

Talvez deva ler fantasia. Nunca li um antes. Sempre terminei no romance e ficção adolescente.

— Você parece feliz hoje — fui surpreendida pela presença de Theron ao meu lado por isso deixei cair o livro nas minhas mãos, assustada.

— Por Deus — suspirei, com a cara fechada. — Você não pode simplesmente aparecer assim.

Ele não pareceu ficar muito afetado com a minha reação porque parece que está a segurar o riso.

— Idiota — revirei os olhos, um pouco calma. — Jade também me disse isso hoje de manhã — me referi a frase que ele disse quando apareceu do nada. — Porque acham isso?

— Você está sorrindo.

— Nunca me viu sorrir? — cruzei os braços.

— Não — negou. — Se vi, não lembro.

— O meu sorriso vale ouro por isso não dou o luxo de qualquer um ver ele — fingi uma falsa pretensão, fazendo com que ele ria em seguida.

— Não sabia que é tão… segura de si.

— É, eu sou — respondi.

— Então, sobre o que quer falar? — mudou de assunto.

Mordi o interior da minha bochecha, hesitante. Porém, tenho certeza que é uma boa ideia por isso decidi falar logo.

— Bom — cocei a garganta. — Eu e Greta estávamos assistindo um filme. Muito bom para falar a verdade, que me deu uma pequena ideia sobre o que fazer acerca de toda essa situação. Sobre o seu pai especificamente…

— Continua — incentivou-me.

— Eu meio que pensei que tu poderias ir á um hospital e solicitar uma internação psiquiátrica — falei muito rápido, por estar um pouco nervosa. Afinal, é pai dele.— Involuntária — acrescentei e quando não recebi uma resposta, tagarelei. — E uma internação psiquiátrica involuntária é aquela que é feita sem o consentimento do paciente…

— Eu sei — ele cortou-me calmamente, me impedindo de continuar. — Mas para isso acontecer, tem que ser pela recomendação de um médico ou psiquiatra.

— Então vá a um médico ou psiquiatra e paga para ele falsificar a recomendação — sugeri, porque não havia outra saída.

— O quê? — ergueu as sobrancelhas, como se a ideia o incomodasse.

— Não sei, é só uma ideia. Que, sendo honesta, irá ajudar o seu pai — apesar de ele não merecer, completei mentalmente.

— E se eu fizer tudo isso e quando ele chegar lá, descobrirem que o mesmo não tem nada e ele voltar?

Soltei um riso, irônico.

— Theron, é óbvio que o teu pai não está bem. Pelo menos, não mentalmente. Tenho a certeza de que, se ele for para lá não sairá tão cedo. É um facto.

— Desculpa, você tem razão — passou as mãos pelo cabelo. — Só fiquei um pouco assustado com a parte da recomendação falsa. E se algo der errado e descobrirem sobre isso?

— Nada vai dar errado — falei com uma convicção que não parece minha.

— E sobre as garotas que ele sequestra? — perguntou. — Se eu o prender lá ele não irá falar nada. E tudo continuara na mesma.

— Pode o enganar, dizer que o irá tirar de lá ou ir ao escritório dele e procurar algo. Como ele não estará terá todo tempo do mundo e eventualmente iria encontrar algo. Eu acho.

— Uau — foi a única coisa que ele disse. — Pensou em tudo isso apenas hoje?

— Uhum — confirmei. — E as minhas ideias sempre dão certo. Pode confiar.

— Eu confio.

Sorri, satisfeita pelo facto de ele ter concordado.



NeutroWhere stories live. Discover now