vinte e sete.

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Abracei o meu próprio corpo enquanto os observava conversarem. O amigo de Haden parecia legal. Quando ele percebeu que eu o estava a encarar muito piscou o olho para mim e abri um pequeno e sutil sorriso afinal, por causa dele teria uma vontade minha realizada.

Haden lançou-me um olhar estranho por cima do ombro  para em seguida ficar em frente do seu amigo dando-me somente a visão dos seus ombros largos.

Será que ele estava com ciúmes de mim?

Quase ri do meu próprio pensamento. Foram poucos — ou até mesmo nenhuns — garotos que já mostraram interesse em mim. Nunca me preocupei com isso, não mudava nada na minha vida, mas não posso dizer que quando terminava de assistir algum filme de romance não sentia uma pontada de inveja. Eu também — por mais que nunca vá admitir em voz alta — quero viver um romance. Quero amar uma pessoa e ser amada de volta, na mesma intensidade, mas não me acho capaz disso.

Penso que de tanto ter medo de ser abandonada irei ficar independente da pessoa emocionalmente por isso não quero. Recuso-me a deixar o meu coração gostar de uma pessoa.

E espera um pouco… como eu acabei nesse dilema todo?

Era ridículo. Se for para acontecer vai acontecer.

Só voltei para a realidade quando senti uma mão no meu ombro.

— Como consegue ficar tão distraída? — coloquei a minha atenção no rosto do garoto a minha frente. Haden tinha as sobrancelhas levemente franzidas.

Abri um pequeno sorriso, envergonhada.

— E então? — afastei-me dele, a ficar a mais ou menos cinco passos de distância dele. — Falou com o seu amigo?

— Sim — respondeu lentamente, a avaliar o espaço entre nós, confuso.

— Ele aceitou? — interrompi qualquer pensamento que quisesse se formar na sua mente porque se ele me perguntasse o porquê de ter-me afastado de forma súbita não teria coragem de responder. Não iria conseguir dizer que quero evitar sentir alguma coisa por ele em voz alta.

Ele avaliou as minhas expressões com calma e em seguida desviou o seu olhar para longe.

— É, ele aceitou.

— Que bom! — respondi animada.— Quando vamos começar?

— Daqui a uns cinco minutos, eu acho — meteu as mãos no bolso. — Tem certeza disso? Ainda pode mudar de ideia — uma emoção estranha tomava conta das suas feições agora. Receio, talvez.

— Sim, Haden. É o que eu quero agora. Um pouco de emoção. Adrenalina.

Ele riu.

— Esse seu desejo por emoção e adrenalina — fingiu imitar a minha voz. — Pode nos custar bem caro, mas — inspirou de forma profunda. — Só vivemos uma vez. E se existir essa merda de reencarnação, numa outra vida você pode não ter a oportunidade de conhecer-me. Então vamos aproveitar esse momento. É a única coisa que importa, de qualquer forma.

Não respondi. Apenas fixei as minhas íris no seu rosto. De repente, o garoto a minha frente parecia bonito. Não que eu não tenha reparado nisso, no dia que nos conhecemos, mas a atitude dele camuflou muita coisa naquele dia. Digo isso porque as palavras conseguem transformar as pessoas. Do mesmo jeito que machucam, elas fazem-nos sentir bem e dão beleza.

Sim, certas palavras transformam pessoas nas criaturas mais belas do universo. Só tem que ser ditas no momento certo e com a intensidade certa.

— Porque esconde tanto o cara legal que, no fundo é? — mudei de assunto.

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