A vida tem uma forma engraçada de nos mostrar que vale a pena viver.

— Que bom que decidiu jantar com a sua família hoje — a voz de Sr. Robert causou uma sensação de enjoo pelo meu corpo.

Família.

Aquela não era a porra da minha família. Eu não fazia parte daquilo. E por esse motivo, não respondi. Eu não iria sorrir na sua direção e concordar com  aquilo. Era insano e estúpido. Eu nem sabia o motivo de estar sentada naquela mesa. Não sabia o motivo de estar naquela casa. Não sabia de nada. Então é isso que eles — menos Greta, talvez — significam para mim. Nada.

— Estou a falar com você — a sua voz saiu mim tom rude, claramente me avisando o que aconteceria se eu não reagisse.

A contragosto levei os meus olhos até ele.

— Eu ouvi — repliquei.

— Que bom — bebeu a água que estava no seu copo.

— É.

E o silêncio pétreo contínuo. Pelo menos para mim, a situação toda era incómoda, mas quando olhei para Greta ao meu lado percebei que a mesma estava no seu próprio mundo alheia a tudo e Theron com os olhos em mim.
O fitei de volta até ele desviar o olhar, como se nunca tivesse me observado.

Gostaria de saber o que se passa na sua mente. Pessoas caladas demais costumam ter a mente desordeira. Provavelmente várias batalhas aconteciam na sua mente enquanto o mesmo fazia de tudo para manter a expressão impassível. Porque ele se dava ao trabalho de ser tão impassivo?

— Quando será o casamento? — fui pega de surpresa quando Sr. Robert decidiu quebrar o silêncio. Ele não conseguia manter a boca fechada por muito tempo.

Casamento?

Franzi as sobrancelhas, confusa sobre para quem ele direcionava a pergunta.

— Pai… — pela primeira voz Theron se pronunciou, num tom repreensivo, mas seu pai parecia nem aí para os problemas que poderia causar.

Greta ao meu lado havia parado todos os seus movimentos, como se tivesse congelado no tempo.

— E quando pretende conta-lá? — a sua voz saiu desdenhosa. — Se não é homem o suficiente para a dizer eu irei — ele voltou os seus olhos pretos para mim. — Falyn, minha querida — o veneno não passou despercebido na sua voz. — Daqui a alguns meses você e o meu filho irão casar e se Deus quiser, viverem  felizes para sempre.

A única coisa que consegui fazer no segundo após isso foi rir. Um riso nervoso que precisava desesperadamente ser acompanhado porque era impossível acreditar nas palavras daquele homem.

Nenbuma pessoa se juntou a mim. E por isso calei-me, com o olhar fixo no de Theron. Pela primeira vez desde que o conheci, ele demonstrou alguma emoção para além da falsa calma: arrependimento. 
Era como se a palavra “desculpa” estivesse presa na sua garganta. E naquele momento, o seu lugar era ali mesmo. Porque essa palavra não iria diminuir o sentimento de raiva que estava a nascer no meu peito.

— Não — balancei a cabeça em negação. — Diga-me que isso não é verdade — pedi, com a voz embargada. Ele não respondeu. Parecia incapaz de formular uma palavra naquele momento. — Fala algo, Theron! — aumentei o meu tom de voz. — Eu exijo uma explicação!

Silêncio.

Ninguém falou nada.

E eu levantei-me de forma brusca da cadeira, a fazer com que ela caísse atrás de mim.

— Fala algo! — bati na mesa com as duas mãos, a causar um barulho enorme. Tanto que fez Greta tremer levemente.

O encarei com escárnio e depois do que pareceram horas ele respondeu.

NeutroWhere stories live. Discover now