— Falyn… — suspirou. Um pouco assustada por eu ter aberto a porta de maneira bruta. — Pensei que fosse Louise.

— É, eu também — Sussan, a sua atual companheira que também morava no orfanato reagiu.

— Desculpa — murmurei. — Só vim pegar as minhas coisas. Preciso tomar banho.

Na verdade, eu queria ficar no quarto e deitar-me na cama, mas não iria conseguir ser uma empata para elas. Apesar de agora odiar Maxine a Sussan era legal e eu precisava de um banho de qualquer forma.

Peguei nas minhas coisas e sai do quarto tão rápido quanto entrei. Fui até o balneário e tentei demorar um pouco, para colocar os meus pensamentos em ordem, mas a água estava tão fria que não tive escolha a não ser desligar o chuveiro e vestir-me.

Quando voltei para o dormitório ele estava vazio. Sentei-me na minha cama e encarei os meus próprios pés. Sabia que Keanu entraria por aquela porta a qualquer momento. Ele havia-me visto e isso não deveria ter acontecido. 
E se ele contasse aos seus amigos eu seria uma garota morta.

Parte de mim, queria acreditar que ele não o faria porque éramos amigos, mas agora sei o quanto não o conheço então não sei ao certo se ele irá mesmo calar a boca por mim porque os outros tinham razão quando disseram que eu tinha um espírito de justiceira. Eu não poderia ter uma notícia importante como aquela para ficar calada. A família dessas raparigas sofriam dia e noite a pensar em como as suas filhas se encontravam ou se ainda estavam vivas. Eles podem matar-me, não me importo, mas não ficaria calada.

— Você não deveria ter escutado nada daquilo — Keanu falou assim que abriu a porta do dormitório. Senti o espaço ao meu lado na cama ser preenchido. — Você não deveria saber nada daquilo, Fal.

Não respondi.

— Sinto muito — ele tocou no meu ombro e afastei-me dele. Vi o seu olhar ficar perdido e o arrependimento nas suas íris castanhas.

— Como você pode ter a coragem de fazer isso?

Eu de facto queria saber como ele podia fazer isso com um ser humano sem sentir remorso algum. Keanu era uma das pessoas mais alegres que conhecia. Maior parte do seu tempo ele estava a rir e contar piadas.

— Após ter feito o que fiz com elas sinto-me a pior pessoa do mundo — confessou, cabisbaixo.

Me levantei da cama e fiquei a uma distância considerável dele.

— Meu Deus, sinto tanto nojo de você agora — balancei a cabeça negação. — Estou tão decepcionada.

— Não fala isso.

— Como não? Você destruiu a vida delas em troca do quê? — perguntei, quase a gritar. — Responde!

Ele baixou o olhar. Parecia envergonhado.

— Dinheiro.

— Por Deus! — as lágrimas nos meus olhos, já estavam prontas para cair. — Isso é ainda mais nojento. Como pode? Essas garotas tinham uma vida pela frente… elas tinham um futuro. Tantos sonhos para serem realizados e você destruiu tudo isso devido à merda do dinheiro. Dinheiro que poderia ter se deixasse de ser cabeça dura e estudasse comigo, para que quando terminássemos o ensino médio, fôssemos para uma das melhores faculdades e encontrássemos um bom emprego. Nós poderíamos ter conquistado o nosso dinheiro, juntos! Você não precisava fazer esse trabalho sujo.

Respirei fundo, a sentir o meu rosto ficar quente de raiva.

— Não me importa quantos anos de amizade nós temos ou o que vivemos juntos durante o período que passei nesse orfanato. Amanhã eu vou à delegacia e conto tudo! Não me importa se os seus amigos me matem ou façam qualquer coisa comigo.

— Não — a sua voz saiu mais como uma suplicia. — Por favor, não. Se fizer isso ele mata todos nós. Todos, Falyn.

— Pelo menos a justiça será feita — redargui, irredutível.

— Não terá porra de justiça nenhuma feita. Sr. Robert é podre de rico e ele com certeza irá sair ileso disso e nós mortos.

— Foda-se.

— Não — ele balançou a cabeça em negação repetidas vezes. — Não irei suportar a ideia de ver você morta. Eu ainda sou o seu melhor amigo e a sua família. Não pode ignorar isso. Nunca pedi nada a você Falyn, por isso eu peço-te. Não fale nada.

Lágrimas já deslizavam pelos nossos rostos e senti algo dentro de mim, desmoronar. A ideia de ver o meu amigo chorar causava-me uma má sensação no peito. Eu odiava ver pessoas a chorar e odiava ainda mais quando eram próximas de mim como ele era.

— Odeio você — a minha voz saiu quebrada e quando ele me envolveu num abraço não consegui afastar-me.

— Eu também.

— Isso não é justo com elas — a minha voz saiu abafada por o estar a abraçar com força.










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é isso, nenhum ser humano é perfeito.
spoiler (ou quase isso, sei lá) : Falyn meio que vai ter que pagar por ter decidido não falar nada
em um futuro bastante próximo.

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