Blast Heart [ji.kook]

2.2|Vigésimo Segundo E Carta Dez

Não tinha dormido a noite toda.

Na verdade, não dormiu bem o resto do ano.

Tudo acontecia tão rápido, por que os dias acabavam tão imediatamente agora, mesmo que sentisse cada segundo interminável na garganta?

As mãos de Jungkook já não eram mais macias e brancas, mas sim, com traços fortes e marcados. As mãos de um verdadeiro homem.
O corpo do Jeon doía porque os músculos cresciam cada vez mais pelo esforço que fazia. Ele também tinha crescido bastante naquele ano que passou. Sentia que deixava seu eu sumir, pelo menos, seu antigo eu.

O cabelo tinha crescido e já se encontrava suficientemente cumprido para atrapalhar seus olhos. Precisava cortar.

Suspirava fundo enquanto Hoseok passava a tesoura cuidadosamente e sentia seus cabelos cortados caírem pelos ombros. O estranho sentimento de que aqueles fios não pareciam ter sido dele um dia. Exatamente como...

Como Jimin, vamos, diga o nome dele, Jungkook. Ele não é um fantasma. Você sabe o nome dele perfeitamente, você o soletra ele mentalmente todas as vezes que se sente sozinho, a sua oração secreta. Perfeitamente caligrafada no teu olhar que se fixava no dele porque você sabe que ao lembrar de cada detalhe do corpo de Jimin, você ouve seu nome, seu corpo esquenta e é como se ele estivesse ali novamente ao seu lado. Então por que não consegue dizer o seu nome?

Porque ele está morto.

Pensar nisso já não doía tanto para ele, porque gostava de pensar que o Park estava num lugar muito melhor que uma batalha sangrenta. E sabia que se quisesse muito, Jimin estaria o observando lá de cima.

- Pronto - Hoseok deixou a tesoura de lado e lavou as mãos repletas de fios cortados. Estavam no banheiro.

O Jeon levou seu olhar para o espelho para se analisar. Se surpreendendo afinal, nunca tivera seu cabelo tão curto como estava agora. Os fios não chegavam nem mesmo a encostar em sua testa de tão pequenos.

- Obrigado, Hoseok.

Sorriu, se levantando da cadeira. O pequeno espelho na parede úmida do banheiro revelava o corpo já totalmente diferente de Jungkook, comparado ao que era quando chegara no quartel.

Mesmo que tivesse quase dezoito anos, conquistara um corpo adulto e muito atraente. Consequência dos treinamentos árduos. Mesmo que estivesse sentindo a falta do Park, ou que suas entranhas ainda tentassem digerir sua morte, Jungkook não poderia ficar encolhido na cama todos os momentos. Era um homem, e devia lidar com seus problemas feito um deles, não precisaria mais do ombro de Namjoon ou Hoseok pra reclamar da falta que sentia (até porque, seria suspeito para eles, que Jungkook sentia tanto a falta de Jimin).

Tinha de ser um homem a partir de agora querendo ou não. Quanto mais rápido lidasse com aquelas coisas, mais rápido acabariam. Sentia saudades de sua mãe, de seu irmão, de seus amigos e da sua cidade, mas agora Jungkook era um soldado talhado a força, e mesmo se não quisesse, o uniforme já estava posto.

Passou a descontar toda a angústia no treinamento, e por isso ficou em primeiro lugar na tabela de classificação, mais alto do que Namjoon (que inclusive o ajudara com alguns golpes mais secretos). Tinha se tornado o melhor soldado do batalhão por pura dor que precisava botar pra fora, não choraria como um fracote mais.

(Mesmo que ainda se lembrasse perfeitamente do cheiro dele)
(Mas como eram mesmo os traços do seu rosto? A boca se curvava de que modo quando sorria? Seus olhos eram de que cor?)

- Você irá no baile do batalhão? - Hoseok perguntou, limpando os fios do chão. Seu peso já tinha se controlado e o Jung tinha conquistado alguns músculos. O cabelo tinha sido cortado também, e estava bem rente.