Capítulo 16 | Distraído

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Amar deveria ser fácil. Como pode um sentimento tão bonito quanto o amor ser uma coisinha tão difícil de se lidar? Pensou. Jaíne estava deitada na cama observando um facho de luz no chão. O nascer do sol preenchia as fendas da cortina e tornava tudo mais claro dentro do quarto escuro. Ela se afastava cada vez que o raio de luz batia mais perto da cama, o que a fazia se sentir como fosse uma vampira.

Eram seis horas da manhã e embora tivesse mais que na hora dela tomar banho e ir trabalhar, ela não conseguia ultrapassar a preguiça. Os olhos dela estavam pesados demais por ler a noite toda, ela não tinha descido para assistir um filme na TV da sala por medo de outro encontro desconfortante com a mãe, então ela pegou um livro de romance e quase terminou de lê -lo naquela madrugada.

Quando o celular vibrou, ela ainda pensava nas palavras da mãe com preguiça demais para se levantar para mais um dia. Debaixo do travesseiro o celular voltou a vibrar, xingando mentalmente quem poderia estar ligando a essa hora da manhã, Jaíne rolou na cama e pegou o celular. Era uma mensagem, de Leander.

"Bom dia, vou passar em Copa hoje. Vamos almoçar."

Uma ansiedade e felicidade pairou sobre ela, antes que decidisse manter um pouco de distância. Reuniu a coragem, empurrou para longe as cobertas e respondeu:

"Bom dia. Eu ia almoçar com as meninas hoje."

Encarou o aparelho a espera.

"Cancele então." Foi a resposta dele.

Irritação se comprimia e se expandia dentro de Jaíne agora, mas ela respondeu: "Quem disse que eu quero almoçar com você? Você poderia ao menos perguntar se eu estou bem, ao invés de só decretar o que quer."

"Já vi que acordou de mau humor hoje, amor. Tô sem tempo. Nos falamos no almoço. Preciso treinar. Tchau."

Os lábios de Jaíne se contraíram por um momento, mas então se abriram em um sorriso amplo. Amor, ele a chamou de amor. Ela fechou os olhos na cama e suspirou dramaticamente.

— Você está muito distraído — afirmou Robin para Leander, enquanto passavam a habitual manhã no ringue de treino. Era ofensa gratuita, por que ambos sabiam que Leander jogava direito com um equilíbrio perfeito, apesar de sua mente estar em outro lugar.

— Deixe o garoto, ele tem que dar a resposta sobre a Competição amanhã — seu pai assegurou. Leonardo Silva, em seu habitual terno cinza, apenas assistia o treino com um sorriso minúsculo no canto.

Com o rosto coberto de suor, tanto quanto o corpo, Leander olhou para o relógio da academia.

— Chega por hoje, tenho que ir em Copa e depois vou almoçar. Volto mais tarde e termino o treino.

O treinador acenou e não olhou nem para Leander nem para Leonardo quando falou novamente.

— Se você não achar logo esse cara, esse CEO, você nunca vai estar pronto para a competição. Esse lance de ter só metade do seu dia não funciona.

— Ele está pronto, Robin. Meu filho já nasceu pronto — respondeu seu pai — Mas ele tem razão. Quando é que você vai contratar o CEO para a Seventeen?

Leander encarou-o.

— Você é acionista também, por que não me ajuda a procurar um?

— Eu só tenho 20% da empresa e nenhum tempo na agenda para brincar de empresário com você.

— Mas tempo para interromper os treinos, tem não é?

Robin deu um tapa no seu pescoço em resposta.

— Pega leve, ele só tá preocupado com a sua decisão. Todos estamos.

Leander aplacou o suor do rosto com as costas das mãos.

— Eu ainda não decidi nada — murmurou.

Seu pai riu ao dizer:

— Já decidiu, só é teimoso demais para não nos contar.

— E... – disse Robin.

Leander se irritou.

— "E"?

— E você está com medo de perder aquela garota que esteve aqui, não é isso? — Robin questionou.

Seu pai franziu o cenho e encarou-o em busca da mesma resposta. Sentindo-se fuzilado por dois pares de olhos exigentes, Leander fechou a cara.

O silêncio do filho não era a reação que seu pai desejava, pelo visto, pois ele disse:

— Você está namorando? — Questionou.

— Estou.

— E isso é sério? — indagou o pai, indignado.

— É — afirmou ele, finalmente, e sua expressão estava mais séria. Talvez tivesse sido má ideia permitir que seu pai soubesse de Jaíne com o campeonato em vista, pensou Leander. Seu pai normalmente era muito competitivo e ele costumava dizer que os relacionamentos enfraquecem o foco dos lutadores.

Seu pai pareceu processar a informação enquanto o treinador se mostrava culpado por ter colocado Leander em maus lençóis.

— Vai embora, Robin. Nos vemos mais tarde — murmurou Leander, sem olhá-lo.

— Foi mal, cara — foi o que ele disse antes de se afastar com a cabeça baixa, saindo do ringue.

Seu pai recuperou-se da notícia e enfiou as mãos nos bolsos quando Leander também resolveu sair do ringue e parou diante dele.

— Você gosta dela? — Avaliou seu pai.

— Gosto.— Revelou.

Leonardo assentiu com a cabeça.

— Então a leve para Rússia com você. Problema resolvido.

Leander olhou ao redor, à procura de outros lutadores na academia. Ao que parecia, ninguém prestava atenção nele.

— Acha que não pensei nisso? Ela não vai aceitar. Ela tem um trabalho fixo, pai. Ela não é como a gente com a vida ganha. Sem contar, que acho que ela pode pensar errado sobre a nossa relação se eu a levar comigo para uma viagem tão cedo.

— Não é uma viagem, Leander. É a competição da sua vida. Se ela gostar de você, ela vai. O que não dá meu filho, é você se prender aqui e perder a oportunidade de ouro para sua carreira. Eu dei um duro danado para....

— Eu sei, pai — interrompeu Leander, enquanto passava os olhos pela saída da academia — Não precisa voltar com esse discurso. Só me deixar pensar, ok? Eu vou conversar com ela hoje.

Seu pai acenou com as mãos no alto, um sinal de paz.

— Ok, só me deixe saber que decisão você tomou.

— Vai saber, eu quero levar ela em casa e apresentar para vocês.

Leonardo agrupou as sobrancelhas juntas, o que destacava o tom cinzento de seus olhos. Seu pai não parecia ter quase o dobro da sua idade, no máximo, parecia um irmão mais velho.

Leonardo ficou em silêncio por um momento, então disse:

— Vou falar com a sua mãe a respeito da garota. Espero que tome a decisão certa, filho.

— Tomarei. Agora preciso tomar um banho, se não vou me atrasar.

Leander se despediu do seu pai com um abraço de tapa nos ombros e partiu para o chuveiro, com a sensação de que a conversa com Jaíne a respeito da competição, não poderia ser adiada.

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