Capítulo 20 | Travesseiro

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Quando a aurora começou a atravessar as janelas, Leander parou na soleira da porta do quarto, recostando-se ali para observar a figura na cama. Jaíne estava desmaiada na sua cama. Seu corpo por baixo da sua camisa estava esparramado, sem revelar muito sob os lençóis emaranhados, e os cabelos dela eram uma completa bagunça sob o travesseiro dele.

Leander a observou dormir por alguns minutos e nunca viu uma mulher tão bonita e... dele. Mal podia acreditar que uma mulher no auge da juventude e vivacidade, ainda se guardasse para um casamento. Quem fazia isso hoje em dia? Se ele já não estivesse apaixonado por ela, provavelmente teria se apaixonado agora pela sua obstinação. Não tinha tido consciência do porque a tinha feito dormir ali, mas a sensação de permanência que o atravessou vê-la na sua cama lhe forneceu alguma resposta.

Leander tinha quase certeza que Jaíne sentia-se desconfortável em falar sobre a própria virgindade, mas o que ela não sabia é que ele se sentia de certo modo satisfeito se não houvesse ninguém antes dele.

Isso significava que estava disposto a esperar por ela? Infelizmente, Leander não tinha resposta para essa pergunta, pois sentia uma intensa necessidade de invadir a cama e tocá-la. Mas é claro que não faria isso, nem mesmo se ela se sentisse tentada a mudar de ideia. Leander não queria destruir o que quer que a fez preservar a si própria.

Erguendo uma mão, Leander esfregou o rosto com força, para desanuviar a mente de pensamentos inadequados. Uma parte dele desejou rir do absurdo da situação. Um casal adulto e maduro se abstendo de ter relações quando era evidente que gostavam-se mutuamente, mas o que é que poderia fazer? Por que não sabia o que fazer, ele saiu do quarto e a deixou sozinha.

Já era bem tarde quando Jaíne acordou. Lembrava-se de quando Leander a deixara no quarto dele com uma camisa na mão, dizendo-lhe para dormir tranquila, pois ele estava tão cansado pela luta de ontem que provavelmente não conseguiria seduzi-la mesmo. Mas mesmo contra as próprias palavras, Leander deu a ela um sorriso que só significaria problemas.

Uma vista de olhos ao seu relógio informou-a de que estava atrasada para o trabalho. Mas ela não se levantou, pelo contrário, espreguiçou-se e enfiou o rosto nos travesseiros de Leander. Farejando os resquícios do perfume dele no tecido.

Se não tivesse que trabalhar em pleno sábado, Jaíne não teria tido qualquer problema em virar-se para o outro lado e continuar a dormir envolvida pelo conforto daquela cama. Mas tinha trabalho para fazer, lembrou a si mesma. O diretor ficaria muito aborrecido se soubesse que faltaria para ficar com Leander o dia inteiro, mesmo que ele fosse seu chefe e chefe dele também. Com esse pensamento, obrigou-se a sair da cama e vestir-se. Um pulo no banheiro garantiu toda a dignidade necessária para aparecer apresentável.

Quando ia a meio do corredor, ouviu Leander na cozinha e mudou de direção ao sentir o cheiro de café. Parou à porta e ficou a observá-lo. Ele encarava com a testa franzida a cafeteira disposta na bancada que Leander apertava entre os dedos.

— Você deveria ter me acordado antes. Vou chegar atrasada na Seventeen.

A cabeça de Leander ergueu-se de repente ao ouvir a voz de Jaíne. Estava à espera de a ouvir desde que acordara. Leander sorriu e aproximou-se dela, encostando testa contra testa enquanto a segurava pela cintura.

— Vamos aproveitar o dia e sair.

Jaíne olhou para o queixo dele ao invés dos olhos.

— Eu tenho que trabalhar, Lee.

— Eu vou ligar para copa — Leander passou uma mão pelos cabelos espetados de Jaíne — Não vai ter problema. O gerente é meu amigo — brincou.

Jaíne conseguiu ouvir empolgação naquelas palavras e reprimiu um suspiro.

— Lee, eu não posso faltar o trabalho para me divertir. Meu horário e dia não são tão flexíveis como seu. Você acha que eu não gostaria de sair por aí com você?

Desta vez Leander fez um esforço para não sorrir.

— Eu sabia que você não iria aceitar. Você é tão previsível, Jaíne.

— Mas eu aceitaria uma carona hoje e podemos ir onde quiser — Sorriu para ele e ficou contente por ter captado o interesse de Leander. Ele estendeu a mão para tocar as costas dela.

— Seus pais sabem que eu vou conhecê-los amanhã?

Puxando pela memória, os olhos de Jaíne esbugalharam-se.

— Amanhã? Eu pensei que fosse domingo. Um domingo qualquer. E não esse domingo.

Não era a cara assustada dela que o surpreendia. Se lhe tivessem acabado de dizer que gostaria de conhecer os pais de uma de suas namoradas, nem teria acreditado. Provavelmente teria rido. Mas ali estava Leander, desejando aquilo que não queria antes.

Estava apaixonado.

Podia ver-se nos olhos de Jaíne que ela estava mais assustada em ter um relacionamento sério e verdadeiro do que se Leander apenas quisesse uma diversão qualquer. Mas Leander aceitava simplesmente Jaíne pelo que ela era e apaixonou-se. Sem questões, sem dúvidas. E Jaíne retribuía-lhe da mesma forma. Mas ela tinha dúvidas sobre ele, sobre o relacionamento recente deles, refletiu Leander. Ela tinha razão em ter dúvidas, no entanto. O último relacionamento dela não tinha sido lá muito bom parâmetro.

Por isso, Leander puxou-a para perto do café e disse:

— Eu até vou na igreja se for preciso. Nós podemos levar seus pais para almoçarem aqui em casa.

— Não, aqui não — ela murmurou. O apartamento de Leander era tão refinado e exibia uma riqueza tão ostensiva que se Jaíne sentia-se incomodada em ser pobre perto dele, imaginava o que sentiria seus pais. — Podemos ir a um restaurante qualquer se é assim então.

Leander assentiu.

— Você não está se sentindo pressionado em fazer isso, não é? — Jaíne perguntou.

Leander ergueu uma sobrancelha. O rosto moreno claro vertia divertimento com a sua apreensão.

— Não e você? Está se sentindo pressionada?

— Eu... — Ouviu-a suspirar e relaxar, mas ela enterrou o rosto contra o pescoço dele. Leander abriu os olhos quando percebeu que Jaíne estava a chorar em silêncio.

Quando ele olhou para ela, Jaíne abanou violentamente a cabeça como se quisesse negar as lágrimas.

— Você deve me achar uma idiota. Me sinto uma idiota — Afastou-se, mas ele impediu-a de sair em disparada.

— Você não é idiota. É única.

Jaíne franziu o cenho sob os olhos anuviados, fazendo uma careta.

— Única — repetiu — as pessoas dizem isso quando as outras pessoas são esquisitas. Essa é uma maneira educada de chamar uma pessoa estranha de especial.

Ele voltou-se para olhar para ela.

— Então você é minha pessoa estranha especial — ele murmurou.

O amo, pensou ela encostando a testa na dele de novo. Amava-o demais em tão pouco tempo. Sentia-se tão confortável perto dele, como se houvesse esperado toda a vida para encontrar um homem tão incrível como ele a encheu de pesar. Suspirou e secou as lágrimas que escorreram-lhe pelo rosto. Ele estava rindo, um sorriso meio forçado para ela. Achando um pouco engraçado a cara dela. Quanto tempo ela tinha antes de perdê-lo? Antes de Leander viajar para Rússia e Jaíne permanecer com as raízes bem fincada aqui?

Respirou fundo para tentar controlar-se e sorriu. Não iria pensar nisso agora. Não podia pensar nisso agora.

— Só saio depois de duas xícaras de café. Com bastante açúcar, por favor.

Leander assentiu, nitidamente aliviado que o choro havia passado.

— É para já, senhorita.

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