Capítulo 15 | Chá & mingau

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Naquela noite quando ela chegou em casa, seus pais não estavam dormindo como pensava. Fechou a porta atrás de si, ouvindo a melodia do rádio da cozinha ligado, indicando-lhe que sua mãe provavelmente estava por lá.

Ao dirigir-se a cozinha, pelo canto do olho viu seu pai na sala brigando sozinho mais uma vez com o notebook Dell de um milhão de anos atrás. Abanando a cabeça em descrença, Jaíne decidiu que não precisava ouvir mais uma vez o discurso do pai quando ela lhe tinha aconselhado a comprar um novo notebook. "A vida não é assim, Jaíne. As coisas de antigamente duravam muito, porque nos ensinavam a consertar quando algo quebrava e não a jogar fora como nos dias de hoje."

— Quando é que o pai vai deixar o senhor João dá uma olhada no notebook? Ou comprar um novo — disse Jaíne como cumprimento para a mãe que a viu entrar demasiadamente lenta na cozinha.

— Teimoso que só ele — respondeu ela, um pouco distante, franzindo as sobrancelhas enquanto estudava a postura chateada da filha — Você demorou muito hoje.

— O pessoal queria jogar vôlei, fiquei por lá um pouco — Jaíne depositou a bolsa na cadeira da mesa e se aproximou do fogão. Sua mãe girava com a colher de pau um líquido marrom borbulhante — Que gororoba é essa aí?

Jaíne tentou enfiar o dedo no líquido que parecia apetitoso, mas sua mãe deu um tapa na sua mão intrometida.

— Tire esse dedo daí, menina — ela mandou, irritada — É mingau de aveia e cacau para seu pai. Vai sobrar, se quiser.

— Eu quero. Lara está em casa?

— Sim, está na cama e você não vai acordá-la, pois ela tem prova bem cedo amanhã de manhã. Aproveita que está aqui e prepare o chá de hibisco, cravo, canela e gengibre.

— Ok. — Obedientemente, Jaíne pegou a chaleira com água filtrada e pôs para ferver enquanto investigava os armários em busca dos itens que sua mãe pediu para o chá.

— Você está escondendo alguma coisa – falou a sua mãe, baixinho, embora não em tom acusatório. – O que é que aconteceu Jaíne? É aquele rapaz bonito que veio aqui?

— Não aconteceu nada – replicou Jaíne. – Nada demais e esse rapaz bonito se chama Leander. Nós estamos saindo, lembra? Eu conversei com a senhora sobre ele.

Sua mãe estalou a língua e cruzou os braços.

— Sim, eu sei. Mas por que é que você está com essa cara? O que ele fez?

Com o rosto escondido dentro do armário, Jaíne fez uma careta antes de se erguer com os itens do chá nas mãos.

— Ele não fez nada, esse é o problema.

Sua mãe voltou a mexer o mingau.

— Como assim? Explica.

— Ele... bem, ele é perfeito. Simplesmente o cara mais decente que encontrei em um tempo – respondeu Jaíne, com o máximo de coragem que conseguiu reunir. Ela abriu um sorriso largo, esperando que sua mãe parasse de encará-la de modo tão estranho e desconfiado. – É sério, mãe. Leander é simpático e me faz rir. É bonito, mas não de um jeito arrogante como outros por aí. Ele sempre faz a coisa certa, sabe? Ele nem mesmo tentou ultrapassar a barra comigo. Quer conhecer vocês dois no domingo, inclusive optou por ir na igreja de vocês.

Sua mãe abriu um sorriso de satisfação.

— Isso é ótimo. Ele parece ser um bom rapaz então — concluiu ela.

— Sim, ele é mesmo — respondeu Jaíne. Ansiosa por fazer alguma coisa, qualquer coisa, pegou as xícaras de chá e as dispôs na bancada — Ele é maduro. Não fica no meu pé e, mais importante, ele respeita a minha ideia de um casamento tradicional.

Lute por nósWhere stories live. Discover now