Capítulo 31 | Snorkel

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Leander a olhou em silêncio quando Jaíne sentou no banco do carro com mais força do que era necessário. Ela desviou o olhar dele e focou sua atenção internamente, mal notando a paisagem no horizonte quando o carro deu partida.

Jaíne bocejou. Havia algo quase hipnótico sobre aquele movimento constante do carro e o conforto absoluto da presença de Leander ao seu lado, quase se sentiu embalada para dormir. Sentindo-se uma zumbi, bateu com a testa contra o vidro da janela do carro.

— Eu não acredito que você me fez levantar às cinco da manhã — falou. — Em um sábado e na minha folga — acrescentou.

— Vou dar uma reuniãozinha hoje às nove sobre a minha ausência — a voz dele soou suave.

— Por que mesmo eu concordei em vir com você? — Jaíne lançou nele o olhar com as sobrancelhas arqueadas que aperfeiçoou de sua mãe.

— Porquê eu sou irresistível e nós faremos snorkel.

Jaíne fez uma pausa. Sua pergunta seguinte tinha um tom de perplexidade.

— O que quer dizer com snorkel? — Jaíne percebeu que ele encarava a estrada, embora sua atenção estivesse concentrado nela.

Ele encolheu os ombros, denotando impaciência.

— Uma flutuação, nada demais.

— Uma flutuação — repetiu Jaíne, unindo as sobrancelhas em vinco. — Espera, você quer dizer mergulho?

— Ha, vamos. Confia em mim. É uma sensação mágica. É inexplicável. Você vai amar — a voz tornou-se untuosa e macia — Minha irmã tem uma escuna, ou seja lá o que quer que seja aquele barco, e é bem perto da casa dela. Seremos só eu, você e a fauna local. Imaginei que você poderia se sentir retraída em público. Será algo íntimo.

— Creio que será mais íntimo ainda — corrigiu ela. — Já que contará apenas com a sua presença.

— O quê? — Leander questionou em tom categórico — Por quê?

— Esse não foi o combinado. Pensei que faríamos um passeio de carro em Angra, você faria uma reunião e depois comeríamos frutos do mar em algum lugar.

— Eu já marquei com um piloto.

— Cancele.

— Não — Leander negou. — Espera aí, está com medo? — escarneceu ele, afagando-a no joelho com um movimento leve de mão.

Jaíne cruzou os braços e o encarou enviesada.

— Eu não sei nadar — esclareceu.

Leander fez uma pausa. Suas sobrancelhas ergueram-se.

— E?

— E? — Jaíne repetiu. — Eu não sei nadar. Como é que uma pessoa que não sabe nadar consegue sobreviver em um mergulho?

— É uma flutuação, Jaíne. Você pode usar até mesmo aquelas boias ridículas ou um colete. Nem precisa saber nadar. É em um coral. É lindo. Não seja estraga prazeres.

— Não seja você — retrucou irritada. — Você não pode marcar as coisas sem conversar comigo antes. Isso é controlador demais até para você. Eu não gosto de surpresas. E eu não sei nadar!

— Eu só queria tornar os nossos últimos dias especiais — Leander disse e algo em seu tom disse a Jaíne que ele estava se esforçando em manter o bom humor intacto — Você deveria se arriscar mais.

Jaíne desviou o rosto. As palavras de Leander tinham sido casuais demais para não ter percebido a mensagem implícita nela.

Jaíne abriu os olhos. Conseguiu controlar o pânico até então, mas já sentia suas garras tentando se libertar. Estava encarando o barco que os levariam para o meio do mar. Ao primeiro tremor dela, Leander a arrastara até a entrada do barco. Contudo, Jaíne voltou assim que sentiu o balanço do barco.

Lute por nósWhere stories live. Discover now