Epílogo

522 32 19
                                    

Cinco meses depois

Jaíne estava com fones de ouvido, estudando o tempo na timeline do imac. Ela balançou a cabeça enquanto sua perna batia no compasso da música de fundo do vídeo.

A cena estava rápida demais, mal dava para ler, pensou.

Ela mudou de um segundo para três o tempo do texto promocional. Estava concentrada em assistir o início daquele comercial de marketing quando alguém agarrou sua cadeira por trás.

— Chega de trabalhar — disse uma profunda voz de barítono às suas costas.

— Só um minutinho — ela retrucou, aproximando o rosto da tela do imac.

— Como seu chefe, eu me vejo obrigado a fazer isso. — Lucas Veiga apertou a tecla do monitor com um dedo rápido e escuro.

Jaíne girou a cadeira para ficar de frente para ele. Uma única sobrancelha loira arqueada.

— Por que está fazendo isso? Eu estou há horas nesse comercial — reclamou, mas parou de falar quando notou a forma como ele estava vestido.

Lucas era um homem negro, alto e de músculos salientes advindo do jiu jitsu que praticava todos os dias. Normalmente ele sempre trajava roupa social, mas hoje não. Ele estava com uma polo amarela e um chapéu enorme e bizarro que terminava quinze centímetros acima da sua cabeça, com uma palavra bem no centro dele: Brasil.

Lucas percebeu que estava sendo observado e mostrou a corneta verde canário que escondia em sua outra mão. Ele colocou na boca e soprou forte.

A buzina apitou alto e estridente, bem nos ouvidos de Jaíne. Ela gemeu. Lucas riu.

— Hoje o Brasil vai jogar — ele disse, rindo ainda mais após reparar na careta dela — A empresa sempre para e assiste os jogos na sala de reuniões.

Ela segurou seu olhar mais alguns instantes e, em seguida, virou-se em seu assento.

— Obrigada, mas eu não tô afim de assistir.

— É meio que obrigatório. Todo mundo vai estar lá, até a direção — ele disse apressadamente.

— Humm, é mesmo? — Jaíne perguntou ao se virar de volta, apreensiva. Jaíne mordeu a pele de dentro da bochecha — Eu preferia ficar aqui e terminar o que preciso fazer.

— Nada disso. Você desce também. Isso é uma ordem, mocinha.

Jaíne estreitou os olhos para ele.

— Você não é o diretor ainda.

— Mas vou ser. Acostume-se com isso.

Vinte minutos depois, Jaíne estava esmagada entre dois caras altos do TI. Eles pulavam aquele peso todo como pipoca na cadeira, cada vez que o Brasil fazia um ponto. Assim como o resto do salão, todos estavam vidrados e concentrados demais na TV para se darem conta da cara assustada de Jaíne.

Ela queria dar o fora dali. Para que se torturar? Era loucura. Era sádico. Mas quando finalmente o locutor do jornal apareceu na tela, com uma vinheta de boxe, tudo o que Jaíne temia estava ao vivo, em cores, em pleno jornal nacional.

O repórter estava entrevistando o presidente do CBBoxe, enquanto no fundo os competidores brasileiros estavam treinando. Jaíne sentiu o coração parar na garganta quando a câmara vislumbrou e focou em Leander.

Os minúsculos pelos do seu corpo se ergueram com a visão dele.

Enquanto Jaíne sentia a boca escancarar conforme a câmera descia o ângulo até a barriga suada e absolutamente musculosa dele, mal notou no que o locutor dizia.

Lute por nósWhere stories live. Discover now