Capítulo 22 | Domingo

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— O amor é paciente, tudo espera. O amor é bondoso, nos faz bem. Não inveja outras coisas, não se vangloria, não se orgulha... — ia dizendo o pastor na igreja naquele domingo de escola dominical. A voz do pastor foi se tornando tão baixa que Jaíne mal conseguia ouvir sob o estrondo dos seus pensamentos quando virou o pescoço na direção de Leander.

Ambos estavam sentados nas poltronas confortáveis aquela hora da manhã, bem ao lado dos pais dela e era tão estranho quanto a maneira que o seu coração dava cambalhotas no peito.

Não era muita coincidência o fato da pregação da manhã, falar sobre amor? Jaíne quase podia perguntar ao pastor se ele sabia o que andava acontecendo com ela. Provavelmente sim, pois o pastor tinha lhe pedido antes da reunião começar para que pudessem marcar um encontro social. Jaíne tinha vontade de dizer a ele e a sua mãe que a sua virgindade não era pauta para conversa de ninguém.

Jaíne olhou para os olhos castanho dourados de Leander e todas as promessas que haviam sob eles quando sorriu levemente para ela. Por um breve momento, houve um encontro de olhar entre os dois, bem ali, no meio da igreja, com as palavras do pastor flutuando a seu redor, então ele se virou para frente novamente, concentrado.

Ele ainda parecia um tanto aborrecido pelo desencontro de ontem, mas Jaíne não pretendia encontrar a mãe dele subitamente sem estar previamente avisada.

— As muitas águas não podem apagar um amor verdadeiro, nem os rios afogá-lo. Quando se ama de verdade, as dificuldades não são essenciais... — seguia dizendo o pastor.

Absorvendo as palavras, Jaíne desviou os olhos do pastor para o altar atrás dele. Seus pais tinham se casado naquela igreja. Nas fotos, o altar era coberto de uma carpete verde musgo com detalhes dourados nas vigas da igreja. Trinta anos depois, o altar tinha sido modificado é claro, não mais sustentando carpete e sim um piso polido e paredes de um bege sofisticado com painel de madeira no altar.

Jaíne já perdeu a conta de quantos casamentos já assistiu acontecer naquele altar, mas pela primeira vez na vida, se imaginou casando com Leander ali. Com Dênis, Jaíne tinha pensado em um casamento simples sem muito alarde, mas com Leander... Jaíne inspirou longa e silenciosamente, sentindo-se tola.

Sempre que Jaíne via ao culto aos domingos e ficava próxima o suficiente das mulheres para ouvir as risadas, as fofocas e as tramoias inofensivas, costumava se permitir se perguntar se teria terminado daquele jeito caso não houvesse terminado com Dênis.

— Vamos? — perguntou sua mãe, subitamente de pé.

Jaíne piscou e descobriu que o culto havia terminado. As pessoas moviam-se como formigas em direção a saída, iluminadas pelo sol do meio dia, provavelmente ansiando pelo almoço.

Leander estava sentado ainda, com os olhos fixos em algum ponto da multidão.

— Você não me disse que o Caio era da mesma igreja que vocês — ele disse.

Jaíne observou com uma careta que o diretor vinha correndo na direção dele, rebocando a esposa e a filha logo atrás.

— Leander! Mas que surpresa encontrá-lo aqui — o diretor disse como cumprimento.

Jaíne viu pelo canto do olho, os pais se afastarem ligeiramente para cumprimentar alguns membros conhecidos enquanto Leander se erguia e dava as mãos a família do diretor.

— Como vai Rebeca? Espero que ande tudo bem com a gravidez — ele disse a esposa do diretor. — Vejo que essa menina cresceu muito desde a última vez que a vi — acrescentou ao apertar levemente a bochecha da menina de cabelos dourados.

— Eu vou bem senhor Silva. Obrigada pela preocupação. Estamos com apenas dez semanas, mas temos esperança que seja um menino dessa vez.

Leander sorriu para ela de maneira gentil, se virou para dar a mão a Jaíne, mas a encontrou com a boca entreaberta, fitando a mulher com os olhos assustados.

Lute por nósWhere stories live. Discover now