Chapter 1

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Já nem sabia há quanto tempo ali estava, já não via nada para além da velha e bolorenta armação de madeira. Tinha praticamente a certeza de que estava numa espécie de celeiro ou armazém tremendamente velho. Já tinha desistido de lutar contra as algemas, sentia os meus pulsos a latejar desde o osso de tanto que eu tinha tentado soltar-me. Se visse de fora pensava que seria fácil ou até básico partir aquele velho cano enferrujado mas era mais forte do que parecia, pelo menos pra mim. Recostei-me à parede e fiquei a observar os meus pulsos, presos mesmo à frente do meu olhar. Apenas um pedaço de metal me conseguia manter completamente submissa.

Ouvi a porta abrir, já nem tinha a visão nítida mas quem mais seria para além dele? Depois de tanto tempo ainda nem sei o nome dele, nem sei o que lhe hei-de chamar. Como sempre fazia quando ele chegava encolhi-me, não muito rapidamente porque estava fraca e dorida desde a última visita dele. Odiava aquele homem com todas as minhas forças mesmo sabendo que tinha poucas.

- Olá outra vez.. -disse ele, conseguia ouvir o sorriso dele pela forma que a sua voz rouca soava o que fez um arrepio subir pela minha espinha. Mesmo depois de tanto tempo só o soar do sapato dele na madeira do chão me fazia estremecer e conforme esse som se aproximava de mim eu só me limitava a encolher cada vez mais. Parecia um dejá vu de todos os miseráveis dias anteriores a esse.

Assim que ele chegou por fim à minha frente, os passos dele pararam de avançar e eu permaneci na mesma posição sendo que ouvi, segundos depois, o chão a ranger, era ele a agaichar-se perante a minha figura trêmula e amedrontada. Ele estendeu a mão e passou suavemente as costas dos dedos pela minha face e a minha reação foi a mesma de sempre: um rápido movimento da minha cara para me afastar dele.

- Sempre a evitar-me.. Sabes bem que não devias de fazer isso Melody.. -ele disse calmamente, estava a ameaçar-me e eu apercebia-me disso sempre que ele falava. Só pelo seu 'Olá' eu já me apercebi que ele não estava ali por coisa boa. Ele levou a mão ao meu tornozelo e começou a subi-la lentamente pela minha perna e eu não tive tomates pra fazer alguma coisa! Limitei-me a ficar parada apenas sentindo lágrimas a começarem-se a formar nos meus olhos por apenas saber que algo de muito mau ia acontecer.

Levei a minha cara a esconder-se entre os meus antebraços e fechei com força os meus olhos sentindo a mão dele passar pelo inferior da minha coxa, eu nem sabia mais o que fazer, o que pensar, como me mexer! Só conseguia soluçar, mas baixinho para que ele não ouvisse o quanto medo que eu tinha.

O medo excitava-o.

Era completamente nojento sentir o toque dele a passar lentamente pela minha anca começando a entrar no meu top outrora branco mas agora apenas um amarelado sujo de suor, poeira, terra e sabe-se lá mais o que. Ele deixou que a palma da sua mão firmemente me segurasse pela cintura, ele inclinou-se sobre o meu corpo e depositou um beijo suave na minha bochecha.

Foi a primeira vez que senti os lábios dele no meu rosto. Aqueles lábios já tinham passado pelo meu corpo todo, incluído lugares que eu nunca iria querer que passasse a língua de um maníaco sexual completamente nojento, mas nunca havia passado pela minha cara. Foda-se.

Ele estava a avançar e eu perguntava-me vezes e vezes sem conta o que passaria pela cabeça dele naquele momento. Desejava desesperadamente que, pelo menos uma vez na minha 'estadia', sem que fosse na hora de eu gemer, ele me tirasse aquela mordaça encardida da boca e me deixasse falar, implorar ao menos pela minha miserável vida. Mas não..

«Tortura»Onde as histórias ganham vida. Descobre agora