Maxine era lésbica e viciada em drogas. E a mesma não se importava em consumi-las porque depois de tanto tempo no orfanato acabamos com a ilusão de um dia podermos ser adotadas e o nosso perfil, deixou de ter importância. Ela não respeitava o meu espaço pessoal e deixava o dormitório uma confusão com as suas roupas espalhadas por tudo que era canto. Eu preferia não discutir com ela e ficar na minha porque Maxine não era uma das pessoas mais calmas do mundo.

Mas, quando ela passava dos limites, como trazer uma das suas namoradas as escondidas para o quarto enquanto eu queria estudar ou dormir o orfanato inteiro escutava as nossas discussões.

Não gostava quando abusavam da minha bondade ou paciência.

Quando abri a porta do dormitório a encontrei sentada na sua cama com os olhos vermelhos e um cigarro nos lábios. Em seguida ela tirou um isqueiro do bolso e acendeu-o.

Ignorei a sua presença e sentei-me na minha cama. A primeira coisa que tirei foi a gravata porque já não estava a aguentar ficar com ela presa em meu pescoço.

Ela analisava cada movimento meu, numa forma de irritar-me. Ela sabia que eu odiava ser o centro das atenções de qualquer pessoa.

— Para de me olhar — resmungo incomodada.

— Olhar não mata — ela responde a soltar uma fumaça da boca e eu reviro os olhos.

— Mas, deixa-me desconfortável — rebato encarando-a séria.

— Tudo bem, princesa Falyn — ela jogou as mãos  para trás em sinal de rendição. — Não a irei encarar.

— Não me chame de princesa.

— Voltou irritada hoje — ela riu nasalado. — O que aconteceu?

— E, porque lhe contaria? — contravi a tirar os meus sapatos e antes que ela respondesse completei. — Nós não somos amigas.

Ela estreitou os olhos na minha direção.

— Não precisa responder-me assim — o seu tom de voz soou irritado. — E se vai continuar a agir como uma idiota, deixa para lá.

Parei os meus movimentos e soltei um suspiro profundo. Ela tinha razão. Era estúpido estar um pouco encolerizada por causa da briga com um desconhecido que provavelmente nunca mais veria em toda a minha vida.

— Desculpa — digo baixo, mas alto o suficiente para ela ouvir. — Tive um teste surpresa hoje e ele correu mal — menti.

— A sério? — ela riu, desacredita. — Você estuda todos os dias. Desculpa, mas não acredito nisso. Prefiro acreditar que o diabo pediu perdão a Deus pelos seus pecados.

Semicerrei os olhos na sua direção.

— Desde quando pensa que me conhece tão bem?

— Nos conhecemos a dez anos — diz como se isso explicasse tudo.

Apesar de nos conhecermos a tantos anos, nunca fomos próximas uma da outra. Partilhávamos interesses distintos e tínhamos opiniões completamente opostas sobre tudo. Antes nós não conversávamos, ela e as gémeas eram mais unidas e excluíam-me propositalmente das conversas.
Nunca me importei com isso. Se as pessoas não iam com a minha cara eu também as ignorava.

E como eu só estávamos nós as duas num dormitório com mais de cinco camas vazias a sua única opção era tentar conversar comigo para o clima não ficar muito pesado. Porque seria estranho nos ignoramos sendo que partilhávamos o mesmo ambiente vinte e quatro sobre vinte e quatro.

— Nos conhecemos a dez anos, mas nunca tivemos uma relação boa.

— Passado é passado, Falyn — murmurou. — Ainda não é tarde para tentarmos de novo.

Dei de ombros enquanto me levantava e procurava pela minha toalha para poder ir ao balneário. Levei o meu shampoo e um sabonete que havia conseguido comprar com o dinheiro que ganhava numa lanchonete que trabalhava, mas ela acabou por fechar e tive que ser despedida. A verdade era que eu já tinha dezassete anos e em poucos meses faria dezoito e era óbvio que já não seria adotada, então eu precisava precisava aprender a ser independente.

Quando conferi que não faltava nada sai do dormitório e fui para o balneário. Assim que lá cheguei tinham duas garotas conversando sobre alguma festa que havia acontecido na noite passada.

No momento em que elas notaram a minha presença me olharam de cima para baixo e viraram os seus rostos para o lado contrário ignorando a minha existência.

A verdade era que a maioria das pessoas do orfanato não ia com minha cara. Enquanto eles saiam as escondidas para festas e outras coisas, eu preferia ficar em meu quarto estudando e por isso me intitularam como "a garota que se acha melhor que todos", mas não me importava. Se me preocupar com o meu futuro me fizesse aquilo que eles me intitularam então sim, admito. Eu era melhor que todos eles.





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e então? O que estão a achar da nova versão até agora?

NeutroWhere stories live. Discover now